Tensão Protecionista
Colaboradores
31.03.06
Tensão Protecionista
___ Rodrigo Constantino*
“Those who would give up essential liberty to purchase a little temporary safety
deserve neither liberty nor safety.” (Benjamin Franklin)
Com a escalada do déficit comercial americano, aumenta a tentação de uso populista do protecionismo por parte dos políticos. O déficit de quase US$ 800 bilhões em 2005, superior a 6% do PIB, assusta e oportunistas logo aproveitam tal medo para a exploração política do fato. Como a China tem sido o principal responsável pelo aumento do déficit, respondendo por mais de um quarto do total, é o alvo predileto como bode expiatório. Em um relacionamento político já delicado, esta tensão a mais se faz totalmente desnecessária, além de ser péssima solução econômica.
O Congresso americano vem trabalhando em projetos que criariam barreiras comerciais com a China. Na tentativa de pressionar a China a valorizar sua moeda, o que não resolveria o problema do déficit americano, alguns senadores propuseram uma tarifa de 27,5% para as importações chinesas. Caso aprovada, tal tarifa representaria um custo adicional de cerca de US$ 60 bilhões para os consumidores americanos, que importaram mais de US$ 240 bilhões da China em 2005. Tais importações são, muitas vezes, complementares aos negócios americanos, além de segurar a inflação. É falsa a acusação de que os Estados Unidos estão exportando empregos para a China. O desemprego americano está em patamares bastante baixos, menor que 5%. Os produtos importados da China, mais baratos, acabam possibilitando uma alocação mais eficiente dos recursos nos Estados Unidos, de acordo com suas vantagens comparativas. O maior grau de integração dos países na globalização favorece os consumidores. O custo adicional, caso imposto pelo governo americano, seria um tiro no próprio pé dos consumidores americanos e poderia jogar o país em uma forte recessão.
Para piorar a situação, o governo americano tem tentado influenciar a atividade de fusões e aquisições no país. Impediu a compra da Unocal pela petrolífera chinesa, alegando defesa do “interesse nacional”, sendo que a empresa possui apenas 1% de fatia de mercado. Barrou ainda a aquisição de portos americanos por Dubai, sendo que o controle de segurança ainda poderia ser exercido pelo governo americano. Justo em um momento onde o país tanto necessita de investimentos externos, para compensar o déficit comercial, o governo vem criando impeditivos para a transferência de controle acionário para estrangeiros. Uma péssima política, claramente demagógica.
A frase do founding father americano usada na epígrafe acima diz tudo. O protecionismo é sempre uma medida maléfica que aparenta a conquista de uma segurança momentânea, mas sacrifica o futuro da nação. Trata-se de uma falsa segurança que favorece apenas alguns poderosos empresários locais, prejudicando todos os consumidores. Algo como nossa fracassada “reserva de mercado”, que permitiu a criação das oligarquias locais. Se o fechamento das fronteiras para a competição global fosse algo benéfico, tanto a Coréia do Norte como Cuba seriam verdadeiros paraísos prósperos. Claro que são justamente o contrário disso. Para o bem da “terra da liberdade”, assim como do resto do mundo todo, espero que a lógica econômica prevaleça nos Estados Unidos, e que os populistas sejam derrotados. O mundo não precisa de mais barreiras comerciais, e, sim, de menos. Os Estados Unidos precisam liderar, dando o bom exemplo.
* Economista, autor do livro “Estrela Cadente: as contradições e trapalhadas do PT”.
http://rodrigoconstantino.blogspot.com