Pela venda do Galeão

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COLABORADORES

05.09.08

 
 

Pela venda do Galeão

RODRIGO CONSTANTINO*

 
 

“Na administração pública,

não há conexão alguma entre receita e despesa.”

__ Ludwig Von Mises

 
 

O governador do Rio, Sérgio Cabral, merece total apoio nesta tentativa de transferir o controle do aeroporto internacional carioca para o setor privado. Não há simplesmente argumento algum contrário à privatização do aeroporto. O governo, por razões intrínsecas ao modelo de incentivos, não consegue ser um gestor mais eficiente do que o setor privado. Qualquer um que usa com alguma freqüência o Galeão sabe como as condições do aeroporto estão precárias, e como falta investimento para torná-lo adequado para os milhões de turistas que escolhem a “cidade maravilhosa” como destino. É simplesmente absurdo o critério utilizado pelo governo federal, que repassa bem mais recursos para o aeroporto de Florianópolis do que para o Galeão, muito maior. Eis o tipo de decisão sem sentido econômico que costuma ocorrer quando o governo detém o poder.

Novas reportagens têm mostrado como a saída do aeroporto, através da Linha Vermelha, costuma ser alvo de assaltantes, muitas vezes fortemente armados. Essa sim deveria ser uma prioridade para o governo, já que uma das suas funções precípuas é justamente cuidar da segurança pública. O governo não tem recursos nem capacidade para cuidar de muitas coisas diferentes, e focar apenas naquilo que cabe ao setor público, deixando o restante para o setor privado, permite um resultado infinitamente mais eficiente. Neste caso específico, o governo deveria deixar alguma empresa privada administrar o aeroporto, e cuidar melhor da questão da segurança nas vias de acesso ao aeroporto. Todos sairiam ganhando com esta medida. Os usuários do aeroporto teriam, sem dúvida, serviços melhores. Os empregados do aeroporto estariam submetidos a um regime mais justo de meritocracia. E todos poderiam usufruir do conforto de uma segurança melhor, para chegar ou sair do local.

A privatização de aeroportos não é uma novidade, e tem ocorrido no mundo todo desde que Thatcher iniciou o movimento em 1987, vendendo para a iniciativa privada sete aeroportos comerciais. Nova Zelândia, Cingapura, Áustria, México e vários outros países seguiram a mesma trilha, privatizando aeroportos que experimentaram, pouco tempo depois, expressivos ganhos de produtividade. Nos Estados Unidos já existem vários aeroportos privados.

Infelizmente, as coisas de bom senso costumam demorar mais a chegar ao Brasil, terra onde a estupidez ideológica tem um passado glorioso e um futuro promissor, pelo que vemos com o debate sobre a criação de mais uma estatal para explorar petróleo. O nacionalismo boboca ainda conquista muitos adeptos por aqui, e o governo é visto como uma espécie de deus. A desconfiança é total em relação ao setor privado e seu foco no lucro. O espantoso disso tudo é que as vítimas de um governo corrupto e incompetente parecem nunca aprender a lição e, ao contrário, declaram paixão crescente por seu próprio algoz. São como as vítimas da Síndrome de Estocolmo, encantadas com os seqüestradores. O governo brasileiro sempre foi inchado demais, sempre prejudicou o crescimento econômico, implantou inúmeras barreiras ao nosso progresso, e ainda assim os eleitores adoram o governo e detestam os empresários.

Qualquer um que depende de alguma repartição pública sente na pele a péssima gestão do governo, mas por algum motivo qualquer não faz a ligação causal entre as coisas, preferindo culpar aquelas pessoas em vez do modelo em si. O método de gestão estatal é o burocrático, não tem jeito. Existem coisas que devem ser administradas desta forma, pois poucos pensariam que a polícia deveria focar no lucro. Mas para a maciça maioria dos negócios, é justamente o foco no lucro que permite uma gestão eficiente. O governo não é um bom empresário, e deve ser afastado de todos os setores em que a iniciativa privada está disposta a participar. A desculpa de “setor estratégico” não é convincente de forma alguma. Exatamente por ser estratégico é que a gestão deve ser mais eficiente e, portanto, privada. Vide os casos de portos, ferrovias, estradas, tudo aquilo ligado à logística, fundamental para o bom funcionamento da economia. O governo resolveu controlar estes setores, e o resultado foi uma ineficiência incrível.

Não poderia ser diferente com os aeroportos. Por este motivo, devemos aplaudir o esforço do governador Sérgio Cabral, no objetivo de transferir para o setor privado o controle do Galeão. O Rio agradece! Um aeroporto melhor, mais eficiente e bonito, sob a necessidade de competir no mercado dinâmico em busca do lucro, eis o que representa de fato os interesses dos cariocas. Pouco importa quem é o acionista, se é estrangeiro ou nacional, se são vários grupos ou uma grande empresa. O que importa é que a busca pelo lucro ainda é o maior aliado dos consumidores. O governo provou ser um gestor incompetente, totalmente incapaz de oferecer um serviço adequado. Está na hora de dar uma chance à iniciativa privada. Pela venda do Galeão, já!

 
 

* Economista, articulista, autor de ‘UMA LUZ NA ESCURIDÃO – as idéias de grandes pensadores da humanidade’

 
 

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Bernardo Santoro

Bernardo Santoro

Mestre em Teoria e Filosofia do Direito (UERJ), Mestrando em Economia (Universidad Francisco Marroquín) e Pós-Graduado em Economia (UERJ). Professor de Economia Política das Faculdades de Direito da UERJ e da UFRJ. Advogado e Diretor-Executivo do Instituto Liberal.

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