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LULA, O CANDIDATO DE HUGO CHÁVEZ

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Colaboradores

21.07.06

 

 

LULA, O CANDIDATO DE HUGO CHÁVEZ

Maria Lucia Victor Barbosa*

 

A ida de Luiz Inácio a São Petersburgo, na Rússia, neste mês de julho, passou a impressão que o brasileiro falaria de igual para igual no clube do G-8 composto pelos poderosos da Terra. Ledo engano. O presidente foi lá apenas como convidado juntamente com a China, o México, a Índia, a África do Sul e o Congo. E suas eternas cobranças aos países ricos, para que favoreçam os mais pobres, caíram no vazio. Já se foi o tempo em que Sua Excelência causava certa curiosidade, sobretudo, em países europeus. Talvez, por conta da tendência dos antigos colonizadores de valorizarem o folclore. Hoje é Evo Morales, presidente da Bolívia, com suas blusas de lã coloridas e suas jaquetas de couro cuidadosamente escolhidas por estilistas, que obtém maior sucesso.

Sem se impor na questão dos pré-acordos da Rodada de Doha, que em ocasião passada foi obstaculizada pelo Ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, o presidente dedicou-se ao turismo. Entre outros passeios visitou o museu Hermitage, a catedral de Santo Isaac e fez uma de suas indefectíveis brincadeirinhas diante da estátua de Pedro, o Grande. Disse ao chefe do cerimonial do Planalto, embaixador Paulo César de Oliveira Campos, conhecido como POC, que ele nunca seria imperador porque tinha só um metro e sessenta, enquanto o governante da Rússia era alto. Pelo visto, Sua Excelência também nunca será imperador.

Em que pese a agradável parte turística, Luiz Inácio teve o dissabor de ser repreendido duramente por seu amigo francês, presidente Jacques Chirac. Este criticou a falta de flexibilidade do brasileiro e deixou bem claro que, apesar de sua amizade o comércio é um capítulo à parte, e que não haveria nenhuma confiança entre França e Brasil diante do tema. Chirac disse ainda: “O presidente Lula pensa da seguinte forma: ‘o que é meu é meu; o que é dos demais é negociável” (O Estado de S. Paulo, 18/06/2006).

Depois do fiasco em Petersburgo, pois Luiz Inácio não conseguiu sequer enxertar os combustíveis alternativos no Plano de Ação de Segurança Energética montado pelo G-8, veio o consolo. O presidente Bush disse que ele estava bem, referindo-se ao fato de que Sua Excelência perdera alguns quilos. E assim terminou mais essa viagem, paga por nós, contribuintes. Não é à-toa que nossos impostos são tão pesados.

Mas viajar é bom e Luiz Inácio rumou, dia 20 deste, à Córdoba, Argentina, para o encontro com membros do abalado Mercosul. Presentes estrelas socialistas como Evo Morales, Michelle Bachelet e o aguardado Fidel Castro que representará o museu das revoluções latino-americanas equivocadas, ou seja, o secular atraso do continente e sua tendência autoritária. Mas a maior de todas as estrelas socialistas, Hugo Chávez, o quinto sócio do agonizante Mercosul, com seu fulgor sem concorrência, é quem demonstrará aos presentes quem manda realmente.

Com seus petrodólares Chávez tornou-se o grande pai magnânimo da região e, armado até os dentes, possivelmente já tem o maior Exército da América do Sul, o qual pretende ampliar com os chamados movimentos sociais dos países vizinhos que estarão unificados sob o comando do tenente-coronel venezuelano.

Como um Hitler subdesenvolvido Chávez tem ímpetos conquistadores e sua obsessão, de cunho paranóico, é minar o poderio norte-americano com a ajuda dos vizinhos, o que inclui o Brasil. Desse modo, a reunião de Córdoba é mais um palco iluminado para Chávez pontificar contra os Estados Unidos e arregimentar fervorosos adeptos sul-americanos. E para demonstrar ainda mais seu prestígio, o presidente da Venezuela convocou os movimentos sociais que o saudarão num monumental comício de milhares de pessoas.

A reunião de Córdoba, mesmo que não pareça, significa o fim do Mercosul e a ascensão da Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas) que substitui a Alca, dos Estados Unidos e foi acertada anteriormente entre o venezuelano, Fidel Castro e Evo Morales. O próprio Chávez deixou tudo muito claro ao dizer: “Depois de Córdoba, haverá outro Mercosul”, enquanto “a imprensa cubana assinalava a afinidade de Fidel Castro com a ‘nova cara do Mercosul’ e afirmava que com a Venezuela abria-se ‘um novo horizonte de integração” (Folha de S, Paulo, 21/07/2006). Em outro momento Chávez declarou aos jornalistas, ao chegar em Córdoba: “essa será a Cúpula dos povos latino-americanos”. “Vamos escrever a nova história da América Latina” (O Estado de S, Paulo, 21/07/2006).

Portanto, se o presidente Luiz Inácio não teve holofotes entre os primos ricos, também os perdeu entre os primos pobres. Foi ofuscado por Chaves, em que pese ser seu candidato. Ao venezuelano, sem duvida, interessa Lula-lá de novo e tudo fará ao seu alcance para apoiar o companheiro.

São essas coisas que sempre me trazem à memória as palavras de Simón Bolívar, pronunciadas em 1830: “Se acontecesse que uma parte do mundo voltasse ao caos primitivo, isso seria a última metamorfose da América Latina”.

 

(*) Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.

mlucia@sercomtel.com.br

 

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Bernardo Santoro

Bernardo Santoro

Mestre em Teoria e Filosofia do Direito (UERJ), Mestrando em Economia (Universidad Francisco Marroquín) e Pós-Graduado em Economia (UERJ). Professor de Economia Política das Faculdades de Direito da UERJ e da UFRJ. Advogado e Diretor-Executivo do Instituto Liberal.

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