Faz sentido dissociar a liberdade econômica do liberalismo?

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Não, não faz sentido dissociar a liberdade econômica do liberalismo.

“‘”Liberismo”, cumpre esclarecer, era uma expressão de
origem italiana utilizada por Merquior para significar a valorização intensificada da liberdade econômica. Ela apareceu dentro da discussão, na década de 1920, entre Benedeto Croce (1866-1952), historiador e filósofo que foi ministro da Educação naquele país, e o economista e presidente da Itália Luigi Einaudi (1874-1961). Croce foi um pensador que rejeitou o jusnaturalismo, preferindo enxergar na liberdade um direito historicamente construído que necessitaria de constante proteção para subsistir.

Manifestou hesitações em relação à democracia, exibindo pendores aristocráticos e anticlericais, e chegou a transigir com o fascismo por pouco tempo para logo rechaçá-lo fortemente. Esse pensador cunhou a distinção entre liberalismo e liberismo, salientando que, “enquanto o liberalismo é um princípio ético, o liberismo não passa de um preceito econômico que, tomado equivocadamente por uma ideia liberal, degrada o liberalismo a um baixo hedonismo utilitário”. Ele desenvolveu com o tempo uma visão mais positiva dos militantes socialistas e sindicalistas, acreditando, como Stuart Mill havia chegado a especular, que talvez o capitalismo pudesse ser suplantado por outras fórmulas econômicas.

Einaudi, membro da Sociedade Mont Pèlerin, um dos arquitetos originais da União Europeia e um liberal identificado com a tradição clássica do liberalismo, enfrentou os argumentos de Croce, não admitindo a possibilidade de dissociar, na prática, a liberdade econômica das demais liberdades. O próprio Merquior, apesar de reconhecer a necessidade de mitigar o que chamava de liberismo, não deixou de reconhecer que a liberdade econômica era necessária, afirmando que a bandeira de Croce, apresentada em termos absolutos, se encontrava já defasada no mundo contemporâneo, marcado por liberalizações nesse campo.

Liberais sociais como Hobhouse tampouco (…) abdicavam da ideia de liberdade econômica; de fato, na história da tradição liberal inteira, a tese croceana não se sustenta.” (Trechos de meu livro “O Papel do Estado Segundo os Diversos Liberalismos”, Edições 70, p. 230)

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Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal, conselheiro de diversas organizações liberais brasileiras, membro refundador da Sociedade Tocqueville, sócio honorário do Instituto Libercracia, fundador e ex-editor do site Boletim da Liberdade e autor, co-autor e/ou organizador de 11 livros.

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