Um desastre meio climático, meio estatal
A chuva aumenta. O vento é forte e desfavorável. O frio chega. O que já era ruim piora. Cidades sumiram do mapa. A geografia do Rio Grande foi redesenhada. Os meses que virão colocarão o povo gaúcho mais uma vez à prova.
Não adianta chorar sobre leite derramado. Foram anos, décadas, de negligência e irresponsabilidade. O positivismo castilhista, o trabalhismo getulista, o estatismo nacionalista dos cunhados Brizola e Jango, o sindicalismo petista, a social-democracia e o ambientalismo psicótico, fenômenos que alargaram o Estado parasitário e afundaram a iniciativa privada. Diques, barragens, represas, estradas, açudes, drenagens, aterros, cidades feitas nas coxas, de forma precária, subdimensionada, ou mal-mantidas.
O Muro da Mauá é o marco. Anos, décadas de discussões efêmeras, ideológicas, cosméticas. De concreto, de racional, nada. Dizem que o Guaíba vai invadir a cidade agora por cima. Já invadiu por baixo, já invadiu pelas frestas, já invadiu até botando abaixo uma frágil comporta.
Só não vai sofrer as consequências desse desastre meio climático, meio estatal, quem já se bandeou para outros pagos. Nos últimos anos, deixaram sua terra natal mais de 700 mil gaúchos por falta de oportunidades. Esse fluxo talvez aumente se não forem tomadas as medidas liberalizantes necessárias para se reconstruir o Rio Grande, em muitos lugares do zero, porque não vai sobrar nada.
As tragédias, quando bem compreendidas, podem fortalecer o caráter e a mentalidade de um povo. Quem luta lutas homéricas desenvolve a autoestima, recorre à racionalidade, torna-se mais produtivo, exige mais respeito e passa a amar mais a liberdade para realizar seus feitos, ou então sucumbe para sempre.
Não adianta enaltecer as virtudes que fazem um povo não ser escravo, mas que se deixa transformar em vítima dessa organização parasitária, incompetente, muitas vezes governada por populistas, por demagogos e até por psicopatas.
Tivemos 83 anos para nos preparar no teste da providência. Rodamos. Não fizemos o tema de casa e não é de hoje. Que sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra. Que vergonha do exemplo que demos. Agora, precisamos aprender com nossos próprios erros. O preço: gaúchos sofrendo ao relento, morrendo de fome, de frio, de sede, quando não afogados nas curvas barrentas desses rios desaforados.
Poderia ser pior. Só não foi porque os gaúchos, e brasileiros de outros estados, se encheram de coragem e se mobilizaram como voluntários. Voluntário! É esse o espírito que precisamos para recriar os termos da nossa sociedade. A ímpia e injusta guerra, que está no hino rio-grandense, é entre nós, indivíduos, e o Estado máximo.