ATLAS FOUNDATION / JOHN BLUNDELL*

No aniversário de falecimento do semeador das ideias liberais no mundo, a Atlas Foundation rende-lhe memória através do artigo de John Blundell. Assim como Donald Stewart Jr., fundador do Instituto Liberal, Fisher leu, casualmente, O caminho da servidão (em sua forma condensada na Reader’s Digest; DSJ leu no original, enviado por um amigo). Assim como Fisher procurou Hayek para prestar-lhe apoio na difusão de suas ideias, Donald correu o mundo (e muita leitura) para entender melhor as ideias do autor de O caminho da servidão e buscou meios de compartilhá-las com seus conterrâneos. Fisher não ficou só no Reino Unido: foi para os EUA fundar think tanks que despertassem os liberais adormecidos! (N.E.)

Antony Fisher era um homem muito charmoso com um foco e uma determinação incríveis que ele empregou, primeiro, na criação industrial de frangos e, em seguida, na construção de uma rede mundial de think tanks independentes voltados para a economia de mercado. Foram os lucros obtidos na indústria de frango que o incentivaram, guiado pelos conselhos de Hayek (vide The Intellectuals and Socialism [Os intelectuais e o socialismo]), a criar o Institute of Economic Affairs (IEA) e contratar o jovem Ralph Harris. Harris, por sua vez, contratou o pouco mais velho Arthur Seldon e, nas duas décadas seguintes, o trabalho de Antony em prol da economia de mercado limitou-se ao de presidente do Conselho do IEA e em participar de encontros como os da Mont Pelerin Society.

Três fatos mudaram sua vida e rotina diária.

Primeiro, depois de ter vendido sua empresa de criação de frangos por uma fortuna, Antony começou a perder a maior parte do capital na criação de tartarugas e em gado leiteiro nas Ilhas Cayman.

Em segundo lugar, pessoas do mundo todo começaram a se dar conta do IEA e a admirar a estratégia tranquila, inteligente e altamente alavancada adotada pelo Instituto, que começava a envolver o pequeno grupo de intelectuais importantes da época. Ralph se concentrou em descobrir e desenvolver talentos, tais como Tony Jay (hoje Sir Antony Jay), que faria, com Milton e Rose Friedman, o Free To Choose e as clássicas comédias de TV com conteúdo de escolhas públicas Yes Minister e Yes Prime Minister. Tal fato levou as pessoas a baterem na porta do IEA perguntando “como é que você faz isso?”, o que, por sua vez, levou o subempregado Fisher a ingressar em sua última carreira como um Johnny Appleseed do movimento pró-economia de mercado, começando por Vancouver BC (o Instituto Fraser), San Francisco (The Pacific Research Institute), Nova York (The Manhattan Institute) e, de volta a Londres, com o Instituto Adam Smith, um braço e complemento do IEA. [É uma satisfação ver os Tony Jays do meu tempo no IEA evoluírem tão rapidamente e chegarem tão longe].

Logo, o mundo todo chegava às portas de Antony e, em 1981, ele incorporou a Atlas. Foi aí que, de fato, começou a construir a rede liberal, da Europa para a América do Norte, para a América do Sul e até mesmo para a Ásia e a África.

O terceiro fato a mudar a vida de Antony foi o encontro com uma bela viúva chamada Dorian Crocker (née Dodge) em uma reunião regional e depois novamente em um encontro maior da Mont Pelerin Society.

Dorian era perfeita para o divorciado Fisher. Tinha um apartamento fantástico na Taylor Street, 1750, em San Francisco, alguns andares acima de Milton e Rose. Ela era, através de seus próprios estudos e por influência de seu primeiro marido George Crocker, a favor da economia de mercado. Era linda e encantadora, com um raciocínio rápido e um senso de humor seco. Ele a cortejou e, em um cruzeiro (“cabines separadas, é claro”, ela escreveu), do lado de fora da cabine, de joelho dobrado, fez sua proposta de casamento e Dorian aceitou.

Eles formaram uma parceria fantástica: seu notável desempenho na guerra (piloto de caça na Batalha da Grã-Bretanha com os III Squadron Hurricanes), o sucesso empresarial, a presidência do Conselho do IEA por 20 anos, sua seriedade, objetividade e dedicação foram magnificamente complementados, da parte dela, por sua vivacidade, charme, beleza, riqueza, um fabuloso apartamento para receber os doadores, e por sua dedicação às ideias dele.

Entre o outono de 1987 e o verão de 1988, como novo presidente do Conselho e CEO da Atlas, viajei de minha base em Fairfax, Virgínia, para San Francisco, Califórnia, para ficar uma semana em cada seis naquele apartamento. Tenho uma lembrança vívida de voltar lá pelas seis e meia da noite e encontrar Antony com um refrigerante e Dorian com um coquetel (provavelmente um martini Bombaim puro) sentados juntos e ela lendo em voz alta para ele trechos de uma grande variedade de jornais, revistas e outras publicações que consumia todos os dias. Ela era seu de facto Ministro da Inteligência na guerra das ideias.

Dorian viveu cerca de 20 anos depois da passagem de Antony e morreu em 3 de abril de 2007, após seu terceiro casamento, com John Adams, um empresário canadense. Ela deixou quase toda a sua fortuna para Atlas e os para os três think tanks que mais admirava: o Institute of Economic Affairs, o Pacific Research Institute e, em Dallas, Texas, o National Center for Policy Analysis.

Assim, enquanto saudamos Antony, não vamos esquecer o papel fundamental desempenhado por Dorian.

John Blundell foi o segundo Presidente / CEO da Atlas 1987-1991 e de 1993 a 2009, atuou como Diretor Geral e Ralph Harris Fellow no Institute of Economic Affairs. Seu último livro, Ladies for Liberty: Women Who Made a Difference in American History (2013) inclui um capítulo sobre Dorian Fisher.

Saiba mais sobre a Atlas assistindo a este breve vídeo. 

FONTE DA IMAGEM: ATLAS FOUNDATION

TRADUÇÃO / EDIÇÃO: LIGIA FILGUEIRAS