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Plano Real: uma aula de economia, política e democracia

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“A diferença deste plano é que ele não teve um dia D, nada entrou em vigor por decreto”Este trecho de reportagem do Jornal Nacional de 1993 resume bem o porquê o Plano Real conseguiu acabar com o fantasma da inflação: ele não foi implantado por decreto, por um grupo de burocratas, à força, de cima para baixo, e sim com a adesão voluntária e debates no congresso.

Quem vê nos jornais que o Real teve seu valor defasado de 1994 até hoje— uma nota de R$ 100,00 vale o equivalente a R$ 25,00 da época— pode, por um momento, não compreender o que esta moeda representou e representa até hoje para a vida dos brasileiros, inclusive os de baixa renda. Se for calcular a média de desvalorização em 1993, chegaríamos a uma desvalorização 300% maior e em 1/10 de tempo.

Sem contar a irresponsabilidade do último governo que rasgou a lógica da responsabilidade fiscal, das metas de inflação e partiu para o controle do câmbio— como se as experiências anteriores não fossem suficientes para mostrar que isso não funciona— algo que contribuiu para a defasagem monetária dos últimos anos. Além disso, parte das benesses vividas pelo país no mandato de Lula (que foi contra o Real) foi por conta da estrutura anteriormente estabelecida, outra parte foi graças ao Brasil ter ganhado na loteria Chinesa, que aumentou o preço das commodities.

Contexto

Em 1993, época de implantação da URV, o cenário econômico brasileiro não era dos melhores. Em meio a troca de moedas, planos, medidas como controle de preços e outras mal sucedidas, mudamos de Ministro da Fazenda 4 vezes em menos de 7 meses. A credibilidade com os credores externos estava afetada por conta de uma recente moratória e os consumidores não conseguiam planejar suas finanças pessoais, já que os preços dos produtos aumentavam mais uma vez no mesmo dia, de uma inflação que chegou a 2.400 % ao ano.

Do ponto de vista político, o Presidente Itamar Franco não havia sido eleito, era herdeiro de um Impeachment e nomeara como Ministro da Fazenda, um ex-senador, que era seu atual Ministro de Relações Exteriores, Fernando Henrique Cardoso, que sequer era economista “era mais que uma aventura, era uma condenação ao fracasso”, conta FHC em discurso na semana passada. Ademais, apesar de competente, a equipe técnica era inexperiente. Não seria mais fácil baixar um decreto?

A despeito das grandes dificuldades, tudo foi construído com debates e argumentos para mostrar para as pessoas que isso seria positivo para todos. Anunciado no início do ano, a Unidade Real de Valor, atrelada ao dólar, tornar-se-ia moeda se houvesse a adesão voluntária da maioria e se o congresso aprovasse as medidas necessárias como corte de despesas e aumento de impostos. Além do trabalho de convencer os credores externos que agora, sim,” a coisa ia”.

Tenho discordâncias em relação a posicionamentos de Fernando Henrique e críticas a seu modelo de privatização, que contou com ampla participação de financiamentos do BNDES. Mas, verdade seja dita, há, pelo menos, 10 anos o Brasil não sabe o que é ter um líder que respeita as instituições e que não as prostitui por interesses partidários.

Questionado, recentemente, sobre o suposto “mensalão” do PSDB, FHC não titubeou em responder: “se o Supremo diz que há culpa é porque há”. Diferente de um determinado partido que nomeou praticamente todo o tribunal e insiste em afirmar que sofreu perseguição política, quando na verdade tentou comprar parlamentares para obter maioria nas Casas legislativas (e deu certo), o que para os lúcidos poderia ser chamado de golpe de Estado.

A lição que fica é que uma equipe formada por excelentes técnicos — como André Lara Resende, Edmar Bacha, Gustavo Franco, Pedro Malan e companhia— não é motivo para se esquecer da participação popular e do trabalho de convencimento do congresso. Afinal, se uma medida é positiva, então, para que ter medo do debate?

O mercado surge de forma espontânea, meia dúzia de economistas, por melhores que sejam, não têm condições nem de entender o funcionamento de toda economia, quiçá de ditar como ela e os preços devem se comportar. A dificuldade de alguns economistas em entender esta simples lição aplicada pela equipe do Real, foi muito bem classificada pelo Nobel de economia, Hayek, como Arrogância Fatal.

Sem guerras psicológicas nem pessimismo, quem sabe o mergulho na história por conta dos 25 anos de Plano Real poder ser aula não só de economia, mas de boa política e democracia para Rousseffs, Mantegas, Augustins Kirchners, Maduros e demais videntes que brincam de economia.

Sobre o autor: Wagner Vargas é graduado em Comunicação Social pela Universidade Anhembi Morumbi, Mestrando em Administração e Gestão Pública pela Fundação Getúlio Vargas (FGV- EAESP), onde graduou-se em cursos de especialização em economia. Também é Sócio-Diretor da Chicago Boys Investimentos e atua com Assessoria de Imprensa, Comunicação Estratégica, Relações Públicas nos mercados: Siderúrgico, Varejo, Mercado Financeiro, Telecomunicações e em campanhas políticas. Integrante dos Conselhos de Economia e Investimentos em Inovação da CJE/FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), também é especialista do Instituto Millenium, onde produz entrevistas e artigos para o blog da Revista Exame.

Nota: Texto publicado originalmente no dia 1 de março de 2014.

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Um comentário em “Plano Real: uma aula de economia, política e democracia

  • Avatar
    01/03/2014 em 10:13 pm
    Permalink

    Aonde está o reconhecimento e agradecimento do PT a esta equipe que deu um enorme empurrão nos governos Lula pra e a Dilma ???????????????????

    Desonestos, ingratos e bandidos!

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