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Esquerdismo pós-Moderno e o perigo da Tirania

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derridaA esquerda comumente se utiliza da descontrução de significados como método de vincular suas intenções políticas as palavras. Alguns exemplos desta apropriação indevida se encontram na série, reproduzida aqui no IL, chamada “Roubando Palavras”, escrita por Pedro Carleial, que tem entre suas palavras já analisadas as seguintes: Propriedade e Direitos Humanos. Como vemos, a literatura imita a vida ou a antecipa, e este método de designificação e ressignificação é bem interpretado pela literatura na célebre distopia “1984”, de George Orwell.

Entretanto, tenho vaga impressão que, no terreno da luta política, certa vertente do pensamento liberal tem sido ludibriada por palavras que parecem por seus signos uma coisa, mas são diversas em seu significado. Hodiernamente, as palavras Liberdade, Justiça e Democracia talvez sejam as mais perigosas dos nossos vocabulários. Tem em comum o fato de serem conceitos altamente abstratos – o que não quer dizer que são conceitos vagos – e por esta razão são suscetíveis a um tipo específico e sorrateiro de esquerdismo pós-moderno.

Comecemos pela palavra Justiça porque este conceito tem influência sobre os outros conceitos. Justiça é uma concepção ético-moral que fornece sentido positivo ou negativo, sobre a ação humana, tendo como base a sua natureza desigual e a relação entre as pessoas. Nos dizeres de Aristóteles é “dar a cada um segundo aquilo que lhe é próprio”. Parece vago, mas não é. A justiça demanda um caso concreto para se tornar evidente. Por exemplo, julgar o acesso a um posto de trabalho com base em experiências anteriores, ou em critérios relacionados com a atividade laborativa, ou ainda, em uma excelência técnica demonstrada com um curso profissionalizante, representa a possibilidade de “dar a cada um aquilo que lhe é próprio”. Em contrapartida, fazer “vista grossa” para os malfeitos (leia-se: corrupção) do PT é um exemplo de injustiça, pois significa a apropriação indevida daquilo que era meu ou seu.

Acontece que o termo Injustiça algumas vezes é associado à existência de um revés e ao sentimento de frustração ou revolta proveniente dos dissabores da vida, como diz John Locke “suportamos a ausência de um grande prazer mais facilmente do que a presença de um pouco de dor”. Este é o ponto no qual, por ignorância se corrompem o sentido da Justiça e, dando-lhe um sentido corriqueiro, abre-se o espaço para um tipo específico de “socialismo renovado” com fim de cooptar pessoas através de seus infortúnios para as suas bases político-intelectuais, sem nunca solucionar seus problemas.

Vou utilizar o pensamento do filósofo Jacques Derrida[1] como referência, mas esto mesmo geist é, em maior ou menor grau, presente em Deleuze, Foucault e nos movimentos de 1968. Para Derrida a relação entre direito e justiça nos remete à estranheza de perceber a justiça como uma experiência do impossível e do incalculável. Entretanto, em vez de apatia ou paralisia, ela nos impele a participar desta dimensão criativa da justiça. A “ideia de justiça” ganha um conteúdo, uma espécie de nova mística que, por ser mística, foge à explicação racional, teórica e econômica. Um tipo de experiência supostamente “livre” e “sem preconceitos” totalmente aberta a um “Outro”, sempre desconhecido e até oposto, “alguém que entra em nossas vidas sem ter sido convidado”. Portanto, esta justiça não é como um conceito dado, mas como uma perseguição infindável, uma busca infinita, é a possibilidade que jamais cessa de fundir e refundar o Direito.

Para uma Justiça sem um significado objetivo, surge uma Liberdade igualmente indeterminada e infinita. Uma promessa de Liberdade que necessariamente se dará no “por vir” – um futuro incerto e desconhecido. E, assim como a Liberdade, esta formulação sobre a Justiça funda um outro tipo de Democracia que, como as outras, também se dará nesse “por vir”.

A Democracia “por vir” que não se dirige a uma forma de governo, não autoriza a elaboração de um “programa” político, mas corresponde a este sentimento relacionado com o revés e com o infortúnio da vida cotidiana. Um projeto permanente e não completável que se fundamenta em um ideal utópico em que a Liberdade só se alcança com uma abertura radical que esvazia o “eu” em nome do “outro”, a fim de que essa distinção não possa ser instrumentalizada para operar e justificar exclusões.

Como se pode observar, o esquerdismo pós-moderno transforma Justiça, Democracia e Liberdade em Sentimentalismo, Populismo e Coletivismo.  Uma espécie de Religião política que aguarda uma perfeição que se adia indefinidamente, que se fortalece e se radicaliza nesse adiamento. É a insatisfação alimentada por sonhos sobre “um mundo melhor”. Um irreal dotado de poder totalizante, abrindo a guarda para o estabelecimento de verdadeiros monstros políticos, que marcham para triunfar sobre a realidade.

É certo que nem nossa Justiça, Liberdade ou Democracia são projetos prontos e acabados. Contudo, elas precisam estar fundadas na expressão contínua de um processo de definição de rota com base na realidade presente das necessidades da comunidade de indivíduos. Se, como liberais, escolhemos a Liberdade, finquemos os alicerces de seu significado no real, na capacidade de escolha, na responsabilização, na transparência, e não em um ideal de emancipação vago e indefinido. Nossa defesa do Liberalismo se fortalece, assim, contra a tirania. É deste modo que nossa defesa do Liberalismo se fortalece contra o populismo e a tirania.

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Fernando Fernandes

Fernando Fernandes

Graduado em Direito (UFRJ). Mestrando em Filosofia (UERJ).

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