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O legado dos escolásticos de Salamanca como influência na Escola Austríaca

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Os precursores intelectuais da moderna Escola Austríaca foram, na maioria, dominicanos e jesuítas, professores de moral e teologia em universidades que constituíram os focos mais importantes do pensamento durante o “Século de Ouro” espanhol. Uma detalhada análise encontra-se no livro Escola Autríaca de Jesús Huerta de Soto.

Já em 1555, o bispo Diego de Covarrubias expôs melhor que ninguém a teoria subjetiva do valor, afirmando que “o valor de uma coisa não depende da sua natureza objetiva mas antes da estimação subjetiva dos homens, mesmo que tal estimação seja insensata”. O estudo de Covarrubias, cujo título era Veterum collatio numismatum, é citado por Carl Menger nos seus Princípios de Economia Política. Menger é considerado o fundador da Escola Austríaca.

Este foco subjetivista iniciado por Covarrubias tem continuidade por outro escolástico, Luis Saraiva de La Calle, que definiu a relação entre custos e preços já naquela época, mostrando que os custos é que tendem a seguir os preços e não o contrário. Isso seria a antecipação da refutação que Menger faria da teoria objetiva do valor, que passaria a ser o ícone da teoria de exploração marxista.

Outra notável contribuição dos escolásticos foi a introdução do conceito dinâmico de concorrência, entendida como “o processo empresarial de rivalidade que move o mercado e impulsiona o desenvolvimento da sociedade”, segundo Huerta de Soto. Este viria a ser o coração da teoria do mercado da Escola Austríaca, contrastando com o modelo de equilíbrio de concorrência perfeita ou monopolística dos neoclássicos. Os preços de equilíbrio, portanto, não poderiam ser conhecidos, e isso derrubava a teoria de planejamento rígido defendida pelos socialistas.

As contribuições dos cardeais jesuítas espanhóis Juan de Lugo e Juan de Salas também merecem destaque. O primeiro, já em 1643, havia concluído que o preço de equilíbrio depende de uma quantidade tão grande de circunstâncias que apenas Deus pode conhecer. O segundo afirma que apenas Deus pode ponderar e compreender exatamente toda a informação e conhecimento usados no processo de mercado pelos agentes econômicos. As mais refinadas contribuições de Mises e Hayek sobre a teoria do conhecimento estavam então sendo antecipadas no século XVII.

O princípio da preferência temporal, um dos elementos essenciais da Escola Austríaca, fora mencionada por Martín de Azpilcurta em 1556. Ele diz que, tudo o mais constante, os bens presentes são sempre mais valorizados do que os bens futuros. Azpilcurta tomou emprestado este conceito de um dos discípulos de Tomás de Aquino, Giles de Lessines, que já em 1285 havia afirmado que “os bens futuros não são tão valorizados como os mesmos bens disponíveis de imediato”. Complicado é entender isso e condenar a usura, como tantos religiosos fizeram.

O trabalho do padre Juan de Mariana, intitulado De monetae mutatione, publicado em 1605, critica a política seguida pelos governantes da sua época de baixar de forma deliberada o valor da moeda, embora não utilize o termo “inflação”, desconhecido então. Mariana critica também a política de estabelecimento de um preço máximo para lutar contra os efeitos da inflação. Ele refere-se ao governo como um cego tentando guiar aquele que vê. E ainda sobre a contribuição à questão monetária, Luis de Molina foi o primeiro teórico a salientar que os depósitos e o dinheiro bancário em geral, que ele denomina em latim chirographis pecuniarum, é parte integrante, da mesma forma que o dinheiro em espécie, da oferta monetária.

Huerta de Soto conclui que “os escolásticos espanhóis do Século de Ouro foram já capazes de articular o que depois viriam a ser os princípios mais importantes da Escola Austríaca de Economia”. Como fica claro, ainda mais para um profundo entusiasta do brilhantismo da Escola Austríaca, os religiosos ofereceram ao mundo muitas coisas boas, inclusive na área econômica.

PS: Acabo de lançar um curso online pelo Instituto Liberal justamente sobre a Escola Austríaca, onde falo desse legado e das principais ideias desses brilhantes economistas. Trata-se de uma ferramenta importante para análise de mercado, de economia, de cenários, pois os instrumentos “austríacos” são os melhores, em minha opinião, para se compreender rumos da economia. Além disso, são valores fundamentais para a defesa da liberdade individual.

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Rodrigo Constantino

Rodrigo Constantino

Presidente do Conselho do Instituto Liberal e membro-fundador do Instituto Millenium (IMIL). Rodrigo Constantino atua no setor financeiro desde 1997. Formado em Economia pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ), com MBA de Finanças pelo IBMEC. Constantino foi colunista da Veja e é colunista de importantes meios de comunicação brasileiros como os jornais “Valor Econômico” e “O Globo”. Conquistou o Prêmio Libertas no XXII Fórum da Liberdade, realizado em 2009. Tem vários livros publicados, entre eles: "Privatize Já!" e "Esquerda Caviar".

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