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A verdadeira estratégia das tesouras – o caso Dilma X PT

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tesouraHá muito se fala, dentro da realidade política do Brasil, na estratégia política que Lênin denominou “a estratégia das tesouras”. A ideia é relativamente simples: o cenário político de um determinado país seria protagonizado por dois partidos com a mesma matriz ideológica (socialista, é claro), sendo um mais moderado e outro mais radical, mas não diferindo muito nos objetivos finais da política: o controle estatal da vida cotidiana dos cidadãos, tanto moral como economicamente, de modo que duas lâminas de uma mesma tesoura continuem cortando a liberdade do povo. Alguns conservadores amigos meus sempre  juraram a existência de um grande complô político nesse sentido, onde o PSDB seria a esquerda moderada e o PT uma esquerda mais radical em defesa da estatização completa do país.

Eu sempre rechacei essa visão. Sim, a política brasileira é polarizada entre PT e PSDB. Sim, o PSDB é um partido moderado de centro-esquerda que defende regulação de mercados e agenda “politicamente correta”. Sim, o ex-Presidente do PSDB já escreveu uma carta publicada no site oficial do partido reclamando que o PSDB deveria estar na Internacional Socialista, e não o PT. Mas tirando esses fatos, é absurdo se falar em um conluio entre PT e PSDB nesse sentido. O PSDB não faz parte do Foro de São Paulo. O PSDB rotineiramente está aliado nas eleições brasileiras com o Democratas, partido de centro, membro da Internacional Democrata Cristã, o que empurra as pautas tucanas para um certo nível de liberdade econômica, ainda que mínimo.

Portanto, o que há no Brasil hoje é um embate real entre um pensamento de esquerda contra uma visão de centro democrática, sem que DEM e PSC (que tentam assumir uma postura Democrata Cristã) consigam ainda alçar vôos próprios em defesa da centro-direita. O Novo é um partido de direita liberal apenas no nascedouro, com muito chão pela frente e sem relevância política grande pelo menos nos próximos sete anos, com boa vontade.

Isto posto, agora eu começo a vislumbrar verdadeiramente a aplicação prática de uma estratégia das tesouras no Brasil, não entre o PT e alguém, mas dentro do próprio PT.

Para quem não sabe, o PT, quanto aos seus procedimentos internos (não no uso da máquina pública), é um dos partidos mais democráticos do país. Possui várias tendências rivais que dialogam entre si na construção de uma plataforma política estatizante. Ironia das ironias, fazem democracia interna para produzir autoritarismo externo.

E parece claro para o PT, nesse momento, que suas políticas estatizantes já não surtem mais efeito. Como a “Dama de Ferro” Margaret Thatcher dizia: “o socialismo acaba quando acaba o dinheiro dos outros”. O dinheiro acabou. A poupança nacional não existe mais. Investidores internos já têm receio em comprar títulos da dívida pública. Investidores externos fogem do Brasil como se suas vidas dependessem disso (suas economias certamente dependem disso). O modelo está esgotado.

A ordem natural das coisas, dentro de uma democracia, é que quando um modelo se esgota, o partido de oposição vence as eleições e toma o poder. Portanto, é natural a vitória de um político de oposição em 2018, especialmente de um partido que tenha representado essa oposição ao longo do tempo. Os cientistas políticos do PT já anteviram esse cenário, e começa a haver todo um movimento de expurgo e busca por bodes expiatórios para, caso esse cenário ocorra, o PT possa se tornar a oposição de si mesmo, apresentando-se como um modelo distinto de gestão, ainda que seja o mesmo modelo e, obviamente, as mesmas pessoas.

Esse movimento se reflete no momento em pequenos atos, como a rebelião de parte da bancada no Congresso, a crítica interna feita pela Fundação do PT, a insurgência da mídia chapa branca bancada pelo PT, o manifesto de economistas ligados ao PT, e assim por diante. Ainda são questões pontuais, mas ao se agravar a situação política do Governo, elas tendem a se apresentar com maior constância.

O que pretendo dizer, em resumo, é que o PT está pronto para imolar Dilma e sua nova equipe econômica, vendida como neoliberal, mas que de liberal não tem nada, para, dentro de um debate político entre o “PT neoliberal”, lâmina direita da tesoura petista, e o “PT do povo”, lâmina esquerda da mesma tesoura, este último venha a assumir um papel de oposição e, numa plataforma novamente autoritária, vença as eleições, fazendo com que o Brasil perca mais alguns muitos anos de progresso, às custas das péssimas práticas políticas desse bando.

Espero, sinceramente, que o povo não caia nesse engodo mais uma vez. Em terra de tesoura cega, quem tem olho que se cuide.

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Bernardo Santoro

Bernardo Santoro

Mestre em Teoria e Filosofia do Direito (UERJ), Mestrando em Economia (Universidad Francisco Marroquín) e Pós-Graduado em Economia (UERJ). Professor de Economia Política das Faculdades de Direito da UERJ e da UFRJ. Advogado e Diretor-Executivo do Instituto Liberal.

5 comentários em “A verdadeira estratégia das tesouras – o caso Dilma X PT

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    28/01/2015 em 6:42 am
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    O fato é que não temos um partido de direita que represente a ideologia e anseios de grande parte da população.

    Os poucos políticos assumidamente de direita, são identificados com autoritarismo, são chamados de fascistas, preconceituosos.

    A população em sua maioria, não entende, não conhece o que é o Foro de SP, as diretrizes para a AL para as esquerdas se perpetuarem no poder; não conhecem as manobras da Smartimatic para garantir as eleições para o PT.
    A grande maioria não conhece o decálogo de Lenin e como o PT o segue pontualmente.

    A maioria de coitados incultos do Brasil não entendem o perigo para as liberdades individuais e políticas, que é o PT representa a médio prazo.

    O fato é que não adianta um outro partido ganhar a eleição em 2018, se não desmascararmos de vez a hipocrisia do partido mais corrupto da história do Brasil, quem sabe mundial.

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    27/01/2015 em 10:47 am
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    Meus Parabéns pelo Texto – Além de Esclarecedor até Demais, Realístico, Também.

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    26/01/2015 em 2:08 am
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    Acho que o Bernardo pecou nesse artigo.

    Um partido de esquerda se aliar a um partido de centro ou de direita é uma coisa normalíssima da dinâmica política.

    Socialistas não são como eram no século passado que logo que assumiam o poder de um território (pela estratégia das tesouras ou não) aniquilavam a oposição.

    Não adianta nada um partido de esquerda, ou centro esquerda que é o PSDB, se aliar com partidos de direita ou de centro se o PSDB é o maior partido da oposição contra um outro partido de esquerda (PT) e defende todas as propostas socialistas gramscianas politicamente corretas da Internacional Socialista (igual ele diz no artigo).

    Não é necessário participar do Foro de São Paulo para ser uma peça no movimento internacional socialista. Por exemplo, o PSOL e o PSTU não participam do Foro de SP, mas são linhas auxiliares do PT mesmo ambos dizendo que o PT é “neoliberal”.

    O PT é o partido que avança com a Revolução e o PSDB é o partido que apenas pára a Revolução para que nenhum partido de direita ou centro possa destruí-la quando chegarem ao poder. Isso dá a impressão de democracia/rodízio democrático e mantém o progresso da Revolução sempre conservado (PSDB) ou em constante avanço (PT).

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      26/01/2015 em 7:47 am
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      Show de bola!

      (Obs.: Tento comentar o artigo do Flavio, mas embora diga que foi feito o comentário, ele não aparece.)
      …???????

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    23/01/2015 em 5:57 pm
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    O objetivo de todos os que vivem do Poder é assim persistirem.
    O Estado é uma organização e se pretente assim eternizar. Não são meramente os politicos que controlam o estado. Estes podem ser arruinados caso tomem atitudes em detrimento da organização.

    Se há ou não um acordo explícito, combinado na calada da noite, para a prática da tal “estratégia das tesouras” não acho tão possível. Contudo, não se pode negar simpatias exageradas entre os, SIM, JOGADORES. O objetivo destes jogadores nada tem para torna-los comabtentes. O objetivo destes “TIMES políticos” é obter a renda do jogo e assim se manterem num campeonato infinito. Nenhum partido, e duvido mesmo de candidatos, tem por objetivo um ideal de justiça ou qualquer intenção de ocupar cargos como obrigação penosa para lutar por um ideal. Não ha nada errado com isto se por linhas tortas se possa escrever certo. Ocorre que é dificil escrever certo sobre linhas tortas e fatalmente o desejo de manter-se usufruindo do Poder leva a lambanças populistas ou no mínimo arbitrariedades demagógicas, quando não se o pratica por má fé exclusivamente, sem qualquer pretensão que não o exclusivo “se dar bem”. Aliás julgo o percentual dos que possuem algum ideal sincero na politica algo infimo. Pois que o mel atrai formigas e ursos enquanto cordeiros não se importam com ele.

    Pode não existir efetivamente um acordo para tal estratégia, mas é inegável a simpatia de irmãos que PSDB e PT nutrem, mesmo que disputem partidas com a unica intenção do prazer e da arrecadação proveniente dos ingressos. Terminada as partidas e sem os uniformes, todos se comprazem entre sorrisos e abraços nos mesmo rapapés que frequentam. O objetivo das partidas disputadas nada tem a ver com diferenças de opinião. Times podem não combinar as partidas, mas inexistem ideias em disputa.

    Lembo de demostenes em brilhates criticas no mensalão para meses depois fazer declarações que, lembro, me deixaram estarrecido e de opinião mudada. O mesmo aconteceu co katia no ano passado, onde uma declaração me tirou a esperança que ali houvesse algo mais que oportunismo. No supremo Celso de Mello parecia contradizer-se e tudo fica por uma grande geléia. Como pode alguém se condenado por estar inserido na pratica de uma quadrilha, ter mantido encontros com os condenados como quadrilheiros e não ser condenado por formação de quadrilha???

    Como pode o supremo tribunal, supostamente formado por talentos, ter julgamentos completamente subjetivos. Ou seja, nada julgam, apenas opinam quando interesses ou preconceitos se apresentam para análise.

    …politica …cuisp!!

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