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Uma mente sem lembranças: a ciranda infernal da política brasileira

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Joesley amava Michel que amava Dilma que amava Lula que amava Aécio que amava Cunha que não amava ninguém. Joesley foi para os Estados Unidos, Michel para o esquecimento, Dilma provocou um desastre, Lula foi preso amanhã, Aécio suicidou-se e Cunha se casará com Marina Silva que não tinha entrado na história.

Há muito a lamentar na ciranda infernal que se tornou a política brasileira. Eu já nem tento acompanhar o noticiário e, para ser sincero, para ser muito sincero, perdi as contas, esqueci os nomes, não sei mais quem é quem, o que é o que, quanto foi, pra que lado, em que bolso.

Nessa altura do campeonato, Michel Temer está cai não cai, as reformas (necessárias, mas retalhadas, mal explicadas) dependem de arranjos que dependem de outros arranjos que dependem do PMDB, como sempre. A república é um puxadinho do PMDB.

Puxadinho este que nos últimos anos havia sido arrendado ao Partido dos Trabalhadores, que a seu modo fazia as vezes de relações públicas e institucionais da empreiteira Odebrecht. E era preciso uma figura sinistra como Marcelo Odebrecht para enterrar (oremos) Lula e o PT, semelhantes que se atraíram e se mataram no sombrio ritual de acasalamento que é a democracia brasileira.

O PT que surgiu dos escombros da ditadura militar se vendendo como único partido ético, para terminar como partido vendido aos banqueiros, às empreiteiras, aos sindicatos. Haver quem defenda Lula da Silva e seus asseclas é dessas coisas que agora só podem ser explicadas por demonólogos, exorcistas, psiquiatras. A seita que reuniu comunistas, socialdemocratas, intelectuais, oportunistas, pelegos e todo o restante da diversificada fauna política nacional, parece ter os dias contados (oremos).

Mas vai saber. De repente, nem por isso. Lula dizendo que não sabia o que sabia e que sempre soube o que nunca suspeitou. Se calhar, vira inocente, chega livre em 2018, se candidata, pede voto, povo vota, vira presidente. Dilma vai dar aulas em curso de pós-graduação. Os deuses eram mesmo astronautas. Não sou ateu, mas estou ateu por esses dias.

No fim é isso: para além de todo o descalabro, de todo o escândalo, de toda a desfaçatez, o que enoja é que esses excelentíssimos nos roubaram milhões, bilhões, trilhões – e nos roubaram assunto. Eu não tenho mais assunto. Você não tem mais assunto. Tudo gira em torno disso, tudo retorna a isso. Ninguém lê poema, ninguém vê filme, ninguém ouve música. Mozart, Gonzaguinha, Drummond, Machado, Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe viraram retrato na parede.

Viraram lembrança distante de quando ninguém sabia de que espécie era o Lula, de qual planeta teria vindo a Dilma, o tamanho da ficha do Dirceu, os demônios do Odebrecht, os segredos do Cunha, as lágrimas do Geddel, o cinismo do Temer, o nome do Joesley. Meu Deus!, como eu queria não ter ouvido esse nome: Joesley.

Já não basta morrer.

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Gustavo Nogy

Gustavo Nogy

É escritor.

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