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Terrorismo e cinema: a violência brutal como espetáculo

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Não precisamos refletir muito para saber que os seres humanos gostam de violência, correto? Pois é, mas a novidade agora é transformar a brutalidade jihadista em espetáculo cinematográfico. E para isso já contamos com a ajuda de pessoas do lado de cá, quero dizer, do Ocidente.

De acordo com a matéria do TéléObs intitulada “Le studio de la terreur”: Au coeur du Hollywood de Daech” [O Estúdio do Terror: no coração da Hollywood do Daech] existe o anseio de transformar em cinema a violência brutal perpetrada pelo Estado Islâmico. Eles próprios já fazem isso. Pior ainda, eles contam com ajuda da cinematografia ocidental.

A violência covarde é assustadora, mas não sei se tanto quanto a utilização dessa mesma violência para fins de propaganda e entretenimento. Segundo uma das testemunhas que aparecem no documentário e que entrou em contato com vários membros do Estado Islâmico por ser também um adepto do jihadismo internacional, alguns dos mesmos do EI trabalham na Turquia e se beneficiam da “incrível complacência do regime de Erdogan para com os jihadistas.” – fica o alerta para a entrada de Erdogan na União Europeia, como parece querer.

A testemunha também informa que uma das pessoas com quem entrou em contato foi um ex-cinegrafista. Este, como alega, o “assegurou que o homem forte da propaganda de mídia em Raqqa era um técnico de cinema que trabalhou em Hollywood.” Mas é como diz o diretor do filme, Alexis Marant, este tipo de trabalho é o “novo vilão de Hollywood, aquele que nós adoramos detestar, mas não pedimos nada melhor.” Ou seja, embora a violência jihadista ameace o próprio Ocidente, as figuras exóticas dos terroristas e de suas ações despertam curiosidade mesmo entre os que eles querem ver sem cabeça.

E apesar de a matéria discutir outros pontos, no que concerne às crianças utilizadas na propaganda jihadista, a testemunha tece alguns comentários. Vejamos o que ela diz.
Eu encontrei Mizra, uma criança yezidi, num campo de refugiados no Curdistão iraquiano. Ele tinha sete anos quando os jihadistas o capturaram e o enviaram a um campo de reeducação. Ele sofreu uma verdadeira lavagem cerebral jihadista e teve que assistir a execuções. […] Um dia, nos lhe demos a ordem de assassinar um homem com uma Kalachnikov em frente às câmeras para fins de propaganda.

Mas o horror não para por aí. Em seguida a testemunha enuncia: “A mensagem é clara: mesmo após o fim do califado, haverá uma nova geração de jihadistas criados para matar.” E conclui o relato: “Mas Mirza [a criança] não foi capaz de cometer o assassinato. Então outro jihadista se encarregou de assassinar a vítima diante de seus olhos.” Não há duvidas que vivemos tempos sombrios.

Já no que concerne à participação de Hollywood nesses projetos, a testemunha informa que sua “ambição inicial era interrogar a responsabilidade da indústria do cinema americano na cenografia do terror reproduzido nas produções da organização do Estado Islâmico. Mas, visivelmente, a questão é um tabu em Hollywood.

Ademais, continua falando sobre sua intenção enunciando que “Nenhum produtor, diretor ou roteirista que trabalharam em filmes ou séries como ’24 Horas’ ou ‘Homeland’ e outros quiseram participar do filme. Na indústria do videogame, mesma coisa.” Somente um universitário, como aponta, aceitou estudar a representação dos muçulmanos no cinema e assevera que o redator chefe da revista Variety consentiu em discutir a questão. Afinal de contas, “eles sabem que isso dá audiência, a violência e o sexo. Os jihadistas não têm direito ao sexo, então o horror é sua única maneira de chegar ao grande público. As decapitações”, continua, “não é sadismo, é a estratégia.” Eles sabem que a violência seduz, mesmo quando é perpetrada contra sua própria civilização.

Por aqui logo farão documentários com imagens de sequestrados no cativeiro e de vítimas incineradas entre pneus. Mas é melhor não dar ideia. Concordo com Theodore Dalrymple quando ele diz que o que importa na arte hoje em dia é chocar, custe o que custar.

Segundo o TéléObs, este filme seria “Uma reflexão útil sobre nosso próprio fascínio pela violência que o diretor se esforçou para evocar em seu próprio filme.” Não tenho qualquer dúvida quanto ao fascínio que temos pela violência, o problema aqui é que essa é uma indústria jihadista, portanto, ilegal, brutal e que precisa ser combatida. É diferente dos filmes de terror nos quais o sangue é artificial e as cabeças que rolam não são de verdade.

Esse tipo de iniciativa cinematográfica é bastante bizarra. É a vítima amolando a espada do seu algoz. Isso é tão coerente quanto às reclamações de Wagner Moura, que demanda recursos privados para financiar um filme sobre um terrorista que fuzilava empresários. Nenhuma pessoa sensata avisa seu assassino que a pistola dele está travada. Só Wagner Moura ou esses lunáticos que se envolvem com uma organização como o Estado Islâmico é que gostam desse tipo de abominação.

Como já escrevi em outro texto, “Se eu fosse um terrorista muçulmano, daria o maior crédito possível para a Esquerda até que ela própria enfraquecesse o Ocidente por dentro.” Nada melhor que a complacência e o auxílio do próprio Ocidente para que os jihadistas implodam essa civilização por dentro com a colaboração dos donos da casa.

Ao mesmo tempo em que choca, a violência fascina. Isso é velho. Até Santo Agostinho falou sobre isso em suas Confissões, já em 400 d.C. Escreve o santo: “Que gosto há em ver um cadáver dilacerado, a que se tem horror? Apesar disso, onde quer que esteja, toda gente lá acorre, ainda que, vendo-o, se entristeça e empalideça.” O que ele diria de uma indústria cinematográfica que reproduz assassinatos contra si mesma?

Finalmente, o Le Monde, também em reportagem sobre o filme Le studio de la terreur, pergunta: “Quem está mais Doente? Aquele que transforma a matança de seu inimigo em espetáculo ou aquele que faz do espetáculo de sua própria morte um entretenimento lucrativo?

Estou longe de ser saudosista, todavia, existe algo de muito ruim para os próximos capítulos da história ocidental. O investimento nesse tipo de propaganda talvez não se limite aos milhões de dólares. Pior, talvez o preço a pagar seja com milhões de vidas, inclusive daqueles que colaboram com seus próprios carrascos.

E não esqueça! Os pequenos de hoje poderão ser os jihadistas de amanhã…

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Thiago Kistenmacher

Thiago Kistenmacher

Thiago Kistenmacher é estudante de História na Universidade Regional de Blumenau (FURB). Tem interesse por História das Ideias, Filosofia, Literatura e tradição dos livros clássicos.

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