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SUV Assassino

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Eu quero conversar sobre aquecimento global; de verdade. Eu me preocupo bastante com as condições de vida no nosso planeta e como melhorá-las para as próximas gerações. Porém, se o tema representa um risco tão grande para nós quanto é propagado, precisamos dar ao seu debate a devida importância que merece e não nos escondermos atrás de frases feitas e lógica de primário.

O que me despertou esse assunto foi um pequeno adesivo que vi de relance a caminho do trabalho; estava escrito algo como “Fuck SUVs”. Mesmo sendo uma rápida observação, a necessidade de destilar ódio, a depredação do patrimônio público, o uso de frase de efeito e a tipografia típica da Antifa me levaram logo a deduzir que se tratava de uma obra dos melancias (verdinhos por fora, vermelhinhos por dentro; falaremos melhor deles algum dia). Tentei me colocar no lugar de um deles, para entender o motivo da revolta. Eu mesmo não sou fã de SUVs; não teria um, mas nem por isso preciso insultar quem precisa ou simpatiza pelos modelos. Então, o que levaria a tamanho sequestro de amídala? Teria de ser algo mais importante. Com uma licença poética, interpretei o statement, em bom português, como algo no gênero “SUVs vão destruir a vida na terra.”

Como se um jipe modernizado, conduzido por mães de classe média e produtores rurais, fosse o arauto dos fim dos tempos?! Porém sim! Não pelo veículo em si, mas pelo que ele representa. Ao ver o SUV se desengonçando pelas ruas, nosso amigo melancia já invoca todas suas imagens mentais do patriarcado, a classe média burguesa, exploração de oprimidos ou qualquer outro construto que justifique suas frustrações amorosas ou incapacidade de conseguir um trabalho e sair da casa dos pais. Neste momento, me parecia estar chegando próximo ao entendimento da reação primitiva e, com uma pesquisa rápida dos meios de informação, formadores de opinião e entretenimento, pude identificar uma lógica na esquerda ecológica. O raciocínio seria simplista:

  1. O capitalismo emite gás carbônico
  2. Mais gás carbônico na atmosfera provoca aquecimento
  3. O aquecimento vai provocar o apocalipse da vida na terra.

Como ninguém deveria se achar o senhor da razão – e estou longe de me considerar um –, temos a obrigação de dar o benefício da dúvida e investigar mais a fundo. Como já dito, a perpetuação da nossa espécie me é algo caro e, se o apocalipse paira sobre nós, temos de fazê-lo. Nada melhor, então, do que começar com perguntas essenciais para entender o problema e endereçar nossas ações como civilização. Daqui para frente, será uma busca pelas dúvidas, muitas delas, não por certezas. Não há pretensão de solucionar cientificamente a questão, mas de evidenciar o quanto é rasteira a discussão sobre aquecimento global hoje em dia.

Como quem acusa tem o ônus da prova; aguardo um melancia que por ventura passe por aqui para confirmar a lógica estipulada e nos fornecer as respostas necessárias para evoluir no debate, ou então refutar a lógica e nos esclarecer, enfim, o que realmente queria o tal adesivo. Vamos às premissas:

Aquecimento vai provocar o apocalipse da vida na terra. Como? O que vai acontecer que tornará inviável a vida no planeta? Será uma morte pela água ou pelo fogo? O aumento do nível dos oceanos vai cobrir toda a terra existente? O que não for coberto pela água vai virar um deserto? O que sobrar seria assolado por incêndios intermináveis? O ciclo da chuva irá terminar? Mas também não teríamos mais tempestades e inundações bíblicas? Qual o cenário apocalíptico que irá ocorrer? Ou teríamos todos eles, em todos os lugares e ao mesmo tempo? Ou então, ainda mais curioso, seria pelo frio, nosso mais tradicional inimigo climático? Talvez, de alguma forma, o aquecimento global provocaria um esfriamento global que congelaria a todos?

Ou seria pela fome? As plantas, que dependem de gás carbônico para a fotossíntese, de repente, parariam de crescer? Mais input levaria a menos output? Ou a temperatura, catalizadora de reações orgânicas, vai desacelerar o metabolismo das plantas? De todas as plantas? A seleção natural não pouparia nenhuma e toda variedade de cereais e tubérculos, do trigo à soja, passando pela mandioca, arroz, milho e inhame, pereceriam num clima mais quente? O gado zebuíno, porcos e aves, já não gostariam mais de calor?

Mesmo aceitando que estaríamos condenados ao cenário mais catastróficos descrito; o aquecimento global nos faria regredir tecnologicamente, levando a humanidade a esquecer técnicas de construção de diques e barragens, sistemas de armazenamento, dessalinização, transporte e distribuição de água? Desenvolvimento de sementes, variedades, fertilizantes e técnicas de manejo seriam inúteis? Após milhares de anos de civilização humana, desenvolvendo métodos de adaptação a praticamente todos os ambientes na Terra e até no espaço, estaríamos impotentes para transpor esse desafio? Todo este cenário iria se desenrolar de uma hora para outra, como num passe de mágica, sem dar qualquer chance para remediação?

A história não nos mostra que os maiores inimigos da humanidade são as pestes e nós mesmos? Como o aquecimento afeta esses fatores? Não seria a escassez material que levaria a mais conflitos e dificuldades de combate a doenças? Abrindo mão dos avanços modernos, não estaríamos provocando nosso próprio apocalipse, ao invés de evita-lo?

Mais gás carbônico na atmosfera provoca aquecimento. Provoca mesmo? Todos os experimentos e estudos científicos, inequivocamente, apontam nesta direção? Não há qualquer evidência que invalide esta relação de causa e efeito? Todos os pesquisadores nessa área têm acesso aos mesmos recursos para desenvolver suas pesquisas? A academia dá o devido crédito e suporte para vozes contrárias? Há espaço na mídia suficiente para este debate?

Ainda, todo e qualquer aquecimento seria advindo da emissão de gás carbônico? Ciclos solares, angulação da Terra, movimentações astronômicas, variações do campo magnético e eventos naturais como o El Niño e vulcanismos não teriam qualquer impacto? Temos como isolar a variável CO2 para chegar a uma confirmação? O aquecimento seria permanente e irreversível? Os ciclos naturais do clima não ocorreriam mais? Como foram possíveis as variações climáticas na era pré-industrial?

Finalmente: o capitalismo emite gás carbônico? Sim, emite; e aqui temos a única resposta de hoje. Porém, temos que questionar: apenas as sociedades capitalistas emitem CO2? Estas emissões são um fim em si mesmo? Quais os benefícios que auferimos, materiais e intangíveis, ocasionando essas emissões? Como a história humana está atrelada ao gás carbônico? Há ou já houve alguma sociedade humana não poluidora? Do que estaríamos pessoalmente dispostos a abrir mão para um mundo estritamente neutro em carbono? Temos tecnologia para isso hoje? Teremos no futuro? Quais seriam os recursos necessários para desenvolvimento e conversão de processos industriais para novas tecnologias? Quais seriam os benefícios da aplicação desses recursos para resolver outros problemas da humanidade? Qual seria o custo, tanto ambiental quanto humano, para zerar as emissões de gás carbônico?

Talvez extrapolando o tema, mas impossível não abordar questões certamente sensíveis a todos nós: a vida moderna é capaz de existir sem o capitalismo? É possível haver liberdade, democracia e equidade sem o capitalismo? Qual é a alternativa proposta? Quais seriam as suas consequências?

Busco legitimamente por todas essas respostas, pois sem elas não há como evoluir ou pensar em alterar o status quo que, mal ou bem, funciona. Procurei aqui não contaminar esta busca com minha opinião pessoal corrente, a qual poderá ser desenvolvida num textão futuro; corroborada ou refutada, a ver.

A liberdade de expressão é de mão dupla e quem se dispõe a falar também tem de estar disposto a ouvir. Os melancias são parte tanto do problema quanto da solução. Eles não vão desaparecer, provavelmente não vão melhorar, mas nos darão a oportunidade de reafirmar nossos valores e apontar aos indecisos o que não queremos ser e a direção que não queremos seguir. Não é de maneira alguma minha intenção agredir os melancias ou seus simpatizantes; peço desculpas caso o tenha. No mundo dos adultos é preciso ser ponderado, ter coerência e rigor moral; não adianta gritar e ofender; sempre correndo o risco de ser tachado de pirralho. Quando tratamos de temas realmente relevantes, não há perguntas fáceis e respostas prontas.

Vamos, então, nos sentar à mesa, pedir uma cerveja gelada e um tira-gosto e começar a falar de coisa séria?

*Sobre o autor: A Direita no Boteco vem conversar com o leitor como se estivéssemos numa mesa de bar. Descontraidamente, entre uma bebida e outra, vamos aprender alguma coisa sobre liberalismo e conservadorismo. 

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