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O sujeito sem diploma universitário é incapaz do trabalho especializado?

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Observo algumas críticas à reforma do Ensino Médio – boa parte delas envolvendo a proposta que permite aos docentes com ‘notório saber’ lecionarem nas escolas. Segundo os discordantes, estes professores não teriam formação para lidar com alunos.

A divergência é amparada na ideia de que, sem diploma, o sujeito não possuiria conhecimento científico ou, desprovido do título, o profissional seria incapaz do trabalho especializado.

No meu entendimento, esse olhar de relação entre certificados universitários e capacidade intelecto-laboral está completamente equivocado. Os primeiros deveriam, mas não necessariamente resultam no segundo.

Quando se estabelece nexo causal obrigatório entre capacidade no raciocínio e chancela oficial do Governo, excluímos de maneira automática os leitores que desenvolveram independência intelectual estudando por si próprios, os denominados autodidatas. Seria irreal desconsiderar esta classe cuja autonomia de pensamento deu origem a incontáveis aportes sociais.

Ademais, conheço inúmeras pessoas condecoradas com papel acadêmico, mas baldas de criatividade ou inteligência; Deparo-me com vários indivíduos que fizeram Mestrado e Doutorado, entretanto são incapazes de uma reflexão útil ou inovadora; Vejo criaturas repletas de láureas, que apenas conseguem repetir autores para os quais foram adestrados na Faculdade. Se os papéis fossem fermento para potência mental, teríamos o melhor ensino do mundo tendo em vista que praticamente todos professores deste país têm alguma titulação acadêmica. Porém, não é o que acontece…

Platão, um dos mais notáveis Filósofos da humanidade, legou-nos conceitos atemporais, reflexões vigorosas, mas nada se sabe a respeito de seus certificados ou quaisquer documentos que comprovassem sua envergadura intelectual. De acordo com o nobre Pensador, existem dois mundos que permeiam nossa existência: o mundo sensível e o mundo inteligível (ou suprassensível). O mundo sensível constitui a ‘realidade’ que conseguimos perceber, uma cópia imperfeita do verdadeiro e do belo. A coisa sensível copia o suprassensível, tal qual o pintor de quadros que retrata na tela a imagem da natureza; esta obra pode ter contornos interessantes, árvores frondosas, rios com margens perfeitas… mas nunca deixará de ser uma imitação bastante limitada.

Os atestados humanos simbolizam o ‘lado sensível’ deste contexto: são diminutos, pretensiosos, estagnados e ilusórios.
Será que este apego aos títulos, no fundo, não representa uma vontade inconsciente de evitar concorrência e buscar proteção estatal?
Não poderia ser um desejo recôndito de utilizar o poder público para tutelas corporativistas e, ao mesmo tempo, esconder a falta de talento e a mediocridade de quem possui título?

Márcio Andrade – Professor da rede pública estadual em Pelotas (RS).

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