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Se nossos acadêmicos têm medo de Bolsonaro, eu tenho medo de nossos acadêmicos

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Antes de tudo, faço questão de esclarecer que o objetivo deste artigo não é aplaudir o regime centralizador do período militar. Como exposto ao longo do texto, a discussão deste artigo está assentada na relativização das tiranias, na banalização dos métodos tirânicos quando estes são provenientes do espectro canhoto das ideias. Dito isso, vamos lá.

A fabricante de pneus Goodyear, após mais de 30 anos de atividades na Venezuela, fechou as portas e demitiu 1.100 funcionários. Em setembro deste ano, foi a Pirelli que abandonou as atividades no país. A França de Macron, mergulhada na ideologia socialista e no Welfare State, já está descobrindo que a realidade não pode ser suprimida com discursos politicamente corretos. A França descobriu, enfim, que conduzir uma política assistencialista capaz de provocar suspiros nos ativistas de esquerda custa muito caro.

Em toda intervenção governamental existe aquilo que se vê e aquilo que não se vê. O que soa irônico é que, no século XIX, um economista conterrâneo de Macron, de nome Frédéric Bastiat, explicou que, para que possamos realmente entender as consequências de uma política, temos de considerar tanto “aquilo que é visto como aquilo que não é visto”. Segundo o economista:

“Na esfera econômica, um ato, um hábito, uma instituição, uma lei não geram somente um efeito, mas uma série de efeitos. Dentre esses, só o primeiro efeito é imediato. Manifesta-se simultaneamente com a sua causa. É visível. Os outros só aparecem depois e não são visíveis. Podemo-nos dar por felizes se conseguirmos prevê-los. 

Entre um mau e um bom economista existe uma diferença: o primeiro se detém no efeito que se vê; já o outro leva em conta tanto o efeito que se vê quanto aqueles que se devem prever”.

É neste diapasão que as políticas intervencionistas de governos de esquerda ao redor do mundo despertam as mais efusivas manifestações de aprovação. Intelectuais de esquerda, encantados com as retóricas sobre bem-estar social, limitam-se a pensar apenas nas consequências imediatas das ações travestidas de humanitárias e descartam qualquer necessidade de realizar um exercício mental sobre seus efeitos de longo prazo.

Por essa mesma razão, a maneira parcial de observar o mundo e os fenômenos que nele ocorrem, como denunciado por Bastiat, longe de ser exclusividade de economistas progressistas, tem sido a regra entre professores universitários que, aproveitando-se de uma platéia cativa e de seus títulos de elevado grau acadêmico, não escondem a paixão que sentem por qualquer sistema que se assemelhe ao socialismo já tentado e fracassado inúmeras vezes ao redor do mundo. O apelo de um mundo idílico em que a igualdade (sempre para os outros, claro) porá fim ao consumismo exacerbado e ao egoísmo do homem capitalista ainda possui grande aceitação entre a intelligentsia tupiniquim. É isso o que explica os aplausos e a paixão de um professor universitário por políticas desastrosas como as de Maduro e Macron e, a um só tempo, o medo de que Bolsonaro coloque em prática um novo Ato Institucional número 5.

Tudo isso me veio à mente quando, em razão dos 50 anos do AI-5 no último 13 de dezembro, uma ex-professora universitária esboçou o medo de que, sob o governo Bolsonaro, revivamos aqueles momentos de repressão sangrenta. Longe de ser um caso isolado, no entanto, é comum ouvir pelos corredores universitários debates acalorados sobre os terríveis anos em que fomos assombrados pela ditadura militar. Para essa gente houve, logo após o golpe que derrubou João Goulart, a implantação imediata de um sistema repressor baseado na censura irrestrita a todos os meios de comunicação e uma perseguição a todo e qualquer dissidente do regime militar. Uma análise mais detalhada dos fatos mostra-nos, porém, que o período marcado pelos governos que se seguiram à queda de João Goulart não pode ser estigmatizado como opressor sem que as verdades dos fatos sejam desprezadas, exatamente como o fazem nossos nobres academicistas. Pintar esse cenário é algo típico de pessoas que, ou não conhecem, ou não possuem qualquer compromisso com a verdade.

Inicialmente, é necessário destacar que a derrubada de João Goulart foi um ato legítimo. De acordo com o filósofo Olavo de Carvalho, João Goulart “acobertava a intervenção armada de Cuba no Brasil desde 1961, estimulava a divisão nas Forças Armadas para provocar uma guerra civil, desrespeitava cinicamente a Constituição e elevava os gastos públicos até as nuvens, provocando uma inflação que reduzia o povo à miséria, da qual prometia tirá-lo pelo expediente enganoso de dar aumentos salariais que a própria inflação tornava fictícios. A derrubada do presidente foi um ato legítimo, apoiado pelo Congresso e por toda a opinião pública, expressa na maior manifestação de massas de toda a história nacional […]”. Foi durante o governo de Costa e Silva, especificamente, que ocorreu uma radicalização do movimento, o abuso de autoridade e a repressão sangrenta. O governo de Castelo Branco (antecessor de Costa e Silva), no entanto, foi bem sucedido na tarefa de desconstruir o arranjo comunista sem servir-se, para isso, da supressão das liberdades individuais. Ademais, a análise que se faz desse período não pode ser descolada dos aspectos históricos da época. Jango flertava com a URSS e alinhar-se ao regime soviético era algo muito perigoso para o país (exatamente como seria perigoso eleger alguém como Fernando Haddad nos dias atuais).

Tudo isso mostra, caro leitor, que os acadêmicos estão muito distantes da realidade histórica ou fazem questão de falseá-la sempre que lhes convém. Ou o leitor acha que verá algum desses acadêmicos que tremem diante de nomeações de militares no governo Bolsonaro (não sem associar tais nomeações a uma possível volta do AI-5) manifestarem ao menos alguma palavra de arrependimento por terem elogiado a França de Macron (hoje mergulhada no caos) por seu ambientalismo e estado agigantado? Quem sabe ao menos manifestem repúdio à ditadura venezuelana que desempregou mais 1.100 pessoas nesta semana com sua perseguição aos capitalistas insensíveis? Não, esse não é o tipo de debate que acadêmicos travam nos corredores das universidades. De minha parte, confesso que ficaria bem feliz se ao menos chamassem o que ocorre na Venezuela pelo seu nome real: socialismo.

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Juliano Oliveira

Juliano Oliveira

É administrador de empresas, professor e palestrante. Especialista e mestre em engenharia de produção, é estudioso das teorias sobre liberalismo econômico.

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