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Resenha – O padrão Bitcoin: a alternativa descentralizada ao Banco Central

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​Publicado em 2018, o best seller “O padrão Bitcoin: a alternativa descentralizada ao Banco Central”, escrito pelo economista Saifedean Ammous, foi pioneiro em explicar a proposta de valor do Bitcoin como o dinheiro mais sólido já criado e a única alternativa funcional aos bancos centrais.

A obra começa abordando os conceitos básicos, a história e a importância do dinheiro, antes de tratar do Bitcoin em si. O autor explica que o dinheiro surgiu para facilitar as trocas entre seres humanos, feitas, até então, por meio de escambo. O problema do escambo é que ele apresenta falhas de coordenação entre a coincidência de desejos dos sujeitos envolvidos na troca. Por exemplo: eu produzo arroz e João produz alface. A princípio, podemos trocar um produto pelo outro quando ambos desejamos o que o outro oferece. Contudo, pode ocorrer dessas vontades não se alinharem, ou do pagamento em alface me trazer um problema de perecibilidade, considerando que alface é um produto de consumo imediato.

​De tal sorte, uma solução se mostrou possível: a eleição de algum bem durável, divisível, escasso e transportável, que representasse uma reserva de valor capaz de traduzir as trocas entre as pessoas. Durante a história, vários bens cumpriram esse papel, como sal, gado, conchas e metais preciosos.

Eleito um bem para atuar como moeda, surge a questão da “moeda fraca”. Isso porque, se um grupo de pessoas aceita tal bem, cria-se o incentivo do aumento da sua produção, já que ele passa a ter valor de troca e não de uso. Assim, pode-se avaliar a “vendabilidade” da moeda ao longo do tempo entendendo sua relação estoque/fluxo.

Uma alta relação estoque/fluxo, em que a oferta existente supera a produção extra sugere que o bem tem mais probabilidade de manter seu valor ao longo do tempo. Esta é a principal razão pela qual o mundo se voltou para os metais monetários. Primeiro, com padrões de prata, e depois, quando a relação estoque/fluxo caiu, para ouro. O ouro foi o bem mais escasso e que foi acumulado por mais tempo, fazendo com ele fosse muito bom para ser usado durante séculos como dinheiro.

Entretanto, como Ammous descreve, os Estados modernos sempre tentaram monopolizar a produção de dinheiro, aumentando sua produção para financiar seus gastos. Até meados do século XIX, o padrão-ouro era o mais estável dos até então adotados, dada sua dificuldade de produção e sua natureza escassa. Para o financiamento da Primeira Guerra Mundial, contudo, os Estados confiscaram boa parte das reservas desse metal e as moedas perderam o lastro.

Assim, chegamos à parte da obra que trata das formas de dinheiro de hoje: dinheiro fiduciário do governo, hegemônico pela força das armas. Vivemos em uma era excepcional em que o dinheiro pode ser impresso à vontade pelos Bancos Centrais, que cada vez buscam mais domínio sobre toda economia. Com a circulação do “papel”, os cidadãos perderam o direito de resgatar o ouro que este papel representava, criando-se inflação e apropriação da riqueza nas mãos dos bancos e dos governos.

A moeda instituída pelo governo continua sendo nossa principal forma de dinheiro, não obstante, frequentemente, não se mostrar a melhor opção quando falamos da solidez esperada de moedas fortes. Como Ammous argumenta na obra, o verdadeiro dinheiro sólido é escolhido em um mercado livre e é resistente à interferência do governo.

O “dinheiro bom”, pelo demonstrado na obra, está intrinsecamente ligado ao grau de valorização do presente em relação ao futuro por parte dos indivíduos.

À medida que as pessoas veem uma redução no poder de compra, elas reduzem a poupança e aumentam os empréstimos. Eles consomem mais agora e emprestam mais para o futuro. Essa mudança de comportamento afeta todos os aspectos da vida: a produtividade diminui, os salários reais estacionam e as pessoas se tornam mais orientadas para o presente em suas decisões, o que, para o autor, acarreta comportamentos destrutivos, prejudicando a sociedade como um todo. Em outras palavras, não há incentivo para acumular dinheiro controlado por bancos centrais cujo objetivo expresso é desvalorizá-lo.

Além disso, o autor esclarece que a nacionalização do dinheiro também leva inevitavelmente a políticos que abusam da moeda para tomar decisões de curto prazo para ganho eleitoral. Curiosamente, o autor aponta para o século XIX sob o padrão-ouro, quando a eletricidade, a água corrente e os automóveis foram inventados. Ammous até sugere que os benefícios do dinheiro forte se estendem à cultura e às artes, contrastando obras de arte naquele período com a arte moderna que compõe galerias no século XXI sob a vigência do dinheiro fraco.

Em um mercado livre, contudo, os preços atuam como sinais que comunicam informações. Como Ludwig von Mises argumentou, é impossível que qualquer banco central internalize todas a informações contidas nos preços e, é por essa razão, que o socialismo falha. Por não ter esse mecanismo de preços, há falha na alocação de bens de capital. Sem um mercado de atores independentes para determinar o preço de forma justa, decisões sensatas baseadas em preços são impossíveis.

Apesar de jornalistas, acadêmicos e ativistas de esquerda adorarem culpar o capitalismo pelos males da economia, é a intromissão do banco central no mercado de capitais a verdadeira raiz de todas as recessões e principais crises econômicas.

Ammous sugere, inclusive, que não é coincidência que a inauguração do dinheiro controlado por banco central coincida com a Primeira Guerra Mundial. Isso porque a) o dinheiro fraco é uma barreira ao comércio, a distorção dos valores da moeda alimenta a animosidade entre governos e populações; b) a impressão de dinheiro permite que os governos continuem lutando até que o valor da moeda seja totalmente destruído; c) esse tipo de dinheiro desencoraja a cooperação e permite que governos abusem do sistema para perpetrar crimes.

Ainda na linha temporal da história do dinheiro, a obra aponta que, à medida que o comércio e o emprego se modernizaram e passaram a ocorrer também a distância, passamos a usar pagamentos digitais intermediários. Esse movimento reduziu a soberania das pessoas sobre seu dinheiro. Juntamente com a mudança do ouro para as moedas fiduciárias, houve uma lenta erosão do valor ao longo do tempo. Robustecendo essa tendência, governos querem digitalizar suas moedas e acabar com a privacidade do papel-moeda, cenário que permitirá que tudo será monitorado e mais facilmente expropriado pelo governante que estiver no poder.

Foi justamente em um contexto crise (em 2008, quando grandes bancos foram “socorridos” pelo Banco Central americano) que o Bitcoin surgiu para devolver ao indivíduo a soberania sobre seu próprio dinheiro e, portanto, sobre sua própria riqueza. A criptomoeda não é passível de confisco, não pode ser censurada e sua movimentação não depende de autorização de ninguém. Por operar no sistema ponto a ponto (peer-to-peer), é descentralizada. Não existe nenhuma “autoridade monetária” que possibilita suas transações. Além disso, considerando que nenhum governo pode, simplesmente, imprimir mais Bitcoin, ele também não sofrerá com a diluição de valor.

A criação de novos Bitcoins é muito cara, é limitada (só pode haver 21 milhões de Bitcoins) e envolve a chamada “mineração”, fatores que fazem sua emissão cair pela metade a cada quatro anos. Assim, sua taxa de escassez é menor que a do ouro, o que torna sua expansão monetária pequena. Por tratar-se de uma moeda digital, é transportável e disponível para seus usuários 24 horas por dia, sete dias por semana. Por todas essas características, o Bitcoin faz com que todas as moedas fiduciárias soem obsoletas. Para o autor, a cripto é a melhor forma de dinheiro já criada na história.

Ammous explora a ideia de longo prazo de que, com ampla adoção, o Bitcoin pode se tornar a moeda global dominante, substituindo não somente o dólar, mas todos os bancos centrais. Por enquanto, todavia, é provável que continue sendo um ativo volátil e que se valoriza rapidamente.

O autor conclui a obra com uma visão bastante otimista sobre a revolução que a adoção do Bitcoin proporcionará às pessoas, na qual o fruto do trabalho do indivíduo poderá ser honestamente acumulado em moeda forte e inconfiscável, levando, em última análise, mais paz e prosperidade para todos.

*Juliana Bravo – Associada I no Instituto Líderes do Amanhã.

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