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Resenha: Cuba e o Cameraman

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Jornalista e cineasta nascido em 1948 em Nova Iorque (EUA), o diretor do documentário “Cuba e o Cameraman”, Jon Alpert, é conhecido por vários documentários realizados. Em 2013 foi nomeado ao Oscar na categoria de Melhor Documentário em Curta-metragem por sua obra, que conta a história de catadores de latinha na cidade nova-iorquina. Jon Alpert tem uma longa trajetória com trabalhos que retratam problemas sociais. Desde a década de 70, com o advento das primeiras câmeras de vídeo em Nova Iorque, o produtor passou a acompanhar tensões sociais que emergiam na cidade. Exemplos como greves de taxistas, protestos de pais em escolas públicas e até mesmo retratos de condições subhumanas de vida estão representados em seus trabalhos.

A primeira vez que o cineasta esteve em Cuba foi nos anos 70, justamente por ter recebido a notícia de que Fidel Castro implantava programas sociais que tratavam dos mesmos problemas que acompanhava nos Estados Unidos. A partir de então ele passou a acompanhar a trajetória de três famílias por quatro difíceis décadas da história de Cuba.

O documentário se inicia no período do anúncio da morte de Fidel Castro. Nesta época, as escolas construídas pelo governo apresentavam um bom ambiente, e eram um dos reflexos da aliança subsidiada com dinheiro da União Soviética. A esta altura a revolução parecia estar funcionando, e um bom exemplo eram as lojas do Estado sempre muito movimentadas. Jon construiu uma boa relação junto a Fidel e com isso teve acesso a entrevistas importantes.

Em seu discurso na ONU, Fidel Castro utilizou falas populistas com a velha tática do “nós contra eles” para explicar a pobreza de países subdesenvolvidos. Um de seus argumentos foi o de que povos andam descalços em países pobres porque os ricos andam em carros luxuosos em países desenvolvidos. Curioso foi que, logo na sequência, retornou para Cuba em seu jato particular, o que pode ser interpretado como uma grande contradição com sua própria fala. Seguindo sua própria lógica, algumas pessoas ficaram pobres para que ele pudesse desfrutar de tal luxo.

Após a autorização de Havana, cubanos refugiados nos EUA puderam retornar para visitar seus parentes. Com eles vieram os dólares e presentes que acompanharam os parentes americanos, o que gerou um aumento do desejo por bens de consumo na população cubana que a revolução não conseguia abranger. A esta altura, o departamento do governo americano em Cuba já estava com elevada demanda de pessoas que desejavam abandonar a ilha. O motivo? O sistema não funcionava. Agressões e protestos aconteciam em frente à embaixada por grupos de apoio ao governo de Fidel.

Em meio à tensão social, Fidel Castro abriu o porto de Mariel aos barcos americanos e permitiu que aqueles que quisessem sair da ilha deixassem o país. O êxodo de Mariel foi a maior emigração de refugiados durante o menor período de tempo na história entre Cuba e os EUA.

O principal golpe veio em 1992. Com a queda do muro de Berlin, Fidel Castro fez um discurso acalorado invocando todos cubanos a salvar a revolução socialista. A sensação de surpresa e perplexidade estava presente em todo o país. Com a queda da União Soviética, caiu também todo o apoio Cuba e o fluxo monetário que era um grande pilar da ilha. Como resultados práticos, obras simples passaram a demorar 2 anos para concluir sua fundação. Nas fábricas de ônibus, que recebiam chassis do leste europeu, houve interrupção da produção por falta de dinheiro para compra-los de outra fonte. O mais assustador: nos mercados, prateleiras vazias.

A crise fora instalada, pois 85% de toda economia cubana era realizada com o bloco soviético. A falta generalizada de combustível levara um grande comboio empurrado à mão até os postos de combustível. Filas gigantescas se formaram para compra de comida. Na fila de peixe, somente meio quilo por pessoa. Na fila de pão, nada mais de um pão per capta. Em moradias precárias, ter uma televisão era sinônimo de luxo. Vias públicas passaram a ficar apagadas por quatro horas para que a energia elétrica fosse economizada.

Com o declínio da economia cubana, as condições vistas nas escolas anteriormente não eram vistas mais. O maior desejo das crianças deixou de ser suas carreiras para ser “ter acesso a mais comida”. A maior joia do Governo, o sistema de saúde, passou a ter falta de medicamentos básicos como antiácidos.

À medida que o tempo passava o cenário ficava ainda pior. Ao voltar em 1995 o cineasta viu o colapso do sistema de distribuição de água tratada. Cidadãos cubanos precisavam carregar água por um percurso de mais de 100 metros em baldes. A causa segundo um dos moradores era “35 anos de muitas ideias ruins”, se referindo ao regime socialista.

Já nos anos 2000 o turismo tornou-se uma das maiores forças econômicas de Cuba. Por outro lado, o tempo continuou a impor sua força e construções continuavam se deteriorando, atingindo estado deplorável de conservação. Cidadão cubanos passaram a fazer suas necessidades fisiológicas em via públicas, o que aumentava ainda mais a tensão social presente na ilha. Edifícios passaram a ficar mais de 25 dias sem água.

Com o colapso das instituições e dos serviços governamentais, o sentimento da população passou a ser o de “valorizam mais os turistas do que o povo cubano”. Em uma espécie de luta pela sobrevivência e busca pela felicidade, o contrabando de charutos passou a ser uma atividade do “mercado negro”. A descrença no governo culminou com a corrupção da própria polícia. Os cubanos à esta altura estavam sem acesso a comida, água encanada, padrões mínimos de moradias e segurança pública.

Dentre as histórias acompanhadas por Jon Alpert, nenhuma delas trata melhor da decadência e injustiça do sistema socialista em Cuba do que a dos irmãos Borrego. Ao acompanhar a vida dos quatro camponeses, o cineasta retrata a mais emocionante história do documentário. Em seu primeiro encontro, acompanha atos como a retirada de pedra do terreno do Estado de forma voluntária por um dos irmãos, que por sua vez acredita estar contribuindo com a revolução. A família come o que a própria terra produz e depois de um dia de trabalho bebem e cantam. No início de tudo aparentavam estar felizes e eram vistos como um exemplo romântico da vida no campo.

Ao longo das visitas ficou evidente a limitação vivida pelo grupo de irmãos. Bons exemplos são a utilização de ferramentas arcaicas associadas à tração animal, muito semelhante às utilizadas séculos atrás. O maior desejo da família? Ter água encanada e eletricidade.

Com ao advento da queda do regime soviético e da crise econômica em Cuba, os irmãos começaram a ter seus animais roubados e abatidos devido à falta de alimento para a população. Para comprar um novo boi eram necessários 10 mil pesos, o equivalente a 20 anos de trabalho. A situação era um retrato do roubo generalizado entre a população, reflexo do colapso das instituições socialistas do Governo. As ruas estavam vazias pois todos tinham medo de deixar suas casas e serem roubados. No supermercado, não se tinha notícia da última vez que havia carne para se comprar.

Com o passar dos anos, não havia mais trabalho, pois os bovinos que exerciam a função de tração animal foram roubados e abatidos. “Eles nos tornaram inúteis”, brada um dos irmãos camponeses.

A história ganha ares dramáticos com a fala de um dos irmãos: “Você trabalha, trabalha e trabalha, e eles vem e te roubam tudo!”. O socialismo como sistema mostrou de forma clara o quão cruel é premiar de forma igualitária aquele que produz e aquele que rouba.

Por fim, o documentário mostra que à medida que o tempo passou, ou as pessoas foram morrendo ou se evadindo aos EUA. De todas as pessoas abordadas ao longo da obra, chama a atenção a história de Luiz, que começou a revender material de construção, e com esse pequeno acesso ao “capitalismo” pôde ser uma exceção e prosperar.

Para os amantes da liberdade, não há mensagem mais marcante do que uma das entrevistas de Jon ao entrevistar uma mulher que buscava deixar Cuba:

“_ Por que você quer deixar Cuba?

_ Eu quero a liberdade”

*Leonard Batista – Associado III do Instituto Líderes do Amanhã.

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