Resenha: “Antifrágil”
Antifrágil é uma obra escrita por Nassim Nicholas Taleb, publicada em 2012. É o terceiro livro de Taleb, depois de Iludidos pelo Acaso (2004) e A Lógica do Cisne Negro (2007). Durante o livro, o autor expõe como sistemas podem se tornar mais resistentes e resilientes à medida que são expostos ao caos e à aleatoriedade.
Taleb argumenta que muitos sistemas em nosso mundo são frágeis, ou seja, se deterioram sob a pressão do caos. No entanto, outros sistemas seriam antifrágeis, se tornando mais fortes e resistentes perante sua exposição ao caos.
O autor aponta que a antifragilidade é um fenômeno comum na natureza e que também pode ser encontrado na sociedade e na economia. Por exemplo, o corpo humano é antifrágil. Quando nos expomos a pequenas doses de estresse, como exercícios físicos ou exposição ao sol, nosso corpo se torna mais resistente a doenças e lesões.
Da mesma forma, as economias livres seriam mais antifrágeis do que aquelas expostas ao controle governamental – fato que faria com que aquelas, quando expostas a crises, se tornem mais resilientes e se recuperem mais rapidamente do que estas.
Taleb argumenta que a fragilidade é um problema comum em nossa sociedade. Ele cita como exemplo os sistemas financeiros, que são projetados para serem resistentes a pequenas flutuações, mas que se desintegram sob grandes flutuações.
Para Taleb, a antifragilidade é a chave para o sucesso. Ele cita como exemplo os sistemas biológicos, que são capazes de se adaptar e se recuperar de mudanças no ambiente. Para tanto, o autor acredita que os indivíduos devem estar dispostos a assumir riscos e aprender com os erros cometidos.
Para exemplificar essa última constatação, Taleb compara profissionais autônomos a profissionais contratados por tempo indeterminado por empresas. À primeira vista, pode parecer que os profissionais que possuem contratos com empresas sejam mais antifrágeis ou tenham uma maior estabilidade financeira.
Contudo, Taleb alega que, pelo fato de os profissionais autônomos, como taxistas, terem que rotineiramente ofertar seus serviços para compor a cada mês o faturamento financeiro que esperam, estão muito mais propensos a se beneficiar em momentos de caos ou de desordem do que um profissional que passou décadas contratado por uma empresa e, repentinamente, é dela desligado.
Para Taleb, sistemas antifrágeis devem ser projetados para serem flexíveis e adaptáveis, além de capazes de se autorreparar e se autorreplicar. Ao longo da obra, o autor demonstra como a antifragilidade pode, inclusive, tornar as organizações mais resilientes e bem-sucedidas, especialmente ao considerar o dinamismo crescente que o avanço tecnológico tem trazido para as operações das organizações, permitindo que novos concorrentes surjam com uma celeridade nunca experimentada anteriormente e punindo aquelas empresas que recusarem a se reinventar a cada novo ponto de inflexão capaz de gerar uma mudança “10X” (como definido pelo ex-CEO da Intel, Andy Grove em sua obra “Only The Paranoid Survive”) no mercado. Taleb argumenta que pessoas e organizações antifrágeis estão mais bem preparadas para enfrentar os desafios e incertezas do futuro.
Se traçarmos um paralelo entre liberdade individual e antifragilidade, será possível identificar que não é possível a existência de uma sem a outra. Pessoas livres são mais propensas a se recuperar de crises. Pessoas livres possuem uma maior liberdade para explorar novas ideias e tomar riscos.
A liberdade individual é essencial para o progresso humano. As sociedades que restringem a liberdade individual estão se preparando para o fracasso. A liberdade individual é antifrágil e nos torna mais fortes e resistentes à medida que somos expostos ao caos.
Por fim, até o momento, as críticas recebidas por Taleb e sua obra têm mostrado que não só o título, mas também seu conteúdo é “antifrágil”. Isso porque, apesar de algumas análises negativas, o livro segue sendo adquirido e positivamente aceito ao redor do mundo.
Muito disso se deve por esta talvez ser a obra-prima do autor, apresentando o amadurecimento e aprofundamento de questões levantadas anteriormente por Taleb, além de contar, em suas edições mais recentes, com uma parte específica da obra destinada a trazer estudos científicos que levaram o autor a chegar nas conclusões apresentadas ao longo do livro.
*André Paris é associado do Instituto Líderes do Amanhã.