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Hayek e os erros fatais do socialismo

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Publicada originalmente em 1988, a obra Os Erros Fatais do Socialismo, de Friedrich August von Hayek, argumenta que a nossa civilização depende, não apenas para sua origem, mas também para sua preservação, de uma ordem de cooperação humana – ordem essa que não resulta de um design planejado, mas de forma espontânea por meio de práticas amplamente transmitidas através de gerações.

Antes de adentrar ao cerne da questão, Hayek nos alerta para a importância de entendermos a própria ideia de ética.

Diferentemente da ética filosófica, que envolve a construção de sistemas racionais a partir da natureza humana, Hayek constrói seu raciocínio com base no processo histórico. Para o autor, a razão é incapaz de comandar as informações necessárias para a projeção de um sistema ético. Ele argumenta que a ética se encontra entre o instinto e a razão, consubstanciando-se em uma ordem espontânea que é produto da ação humana.

​Esse sistema, que, novamente, não é projetado por ninguém, mas passado de geração em geração, provém de um processo de evolução social no qual as sociedades que adotaram bons sistemas éticos prosperaram, enquanto aquelas que adotaram maus sistemas fracassaram ou precisaram substituí-los por algum mais bem sucedido. É essa sistemática de tentativa e erro a responsável pela prosperidade da ética ocidental.

Hayek sustenta que o sistema ético humano se originou com os pequenos grupos de caçadores/coletores. Tratava-se de uma ética solidária e altruísta, na qual tribos primitivas uniam-se ao redor de um propósito comum que superava os desígnios individuais: a sobrevivência em um ambiente hostil. Com o desenvolvimento de técnicas agrícolas e a fundação de cidades, vieram, também, o comércio e o crescimento populacional, que tornaram insustentável a ética dos pequenos grupos. O comércio colocava membros de comunidades fechadas em contato constante com “estrangeiros” que, geralmente, não compartilhavam dos mesmos propósitos e crenças. Já o crescimento populacional, estimulado pela relativa segurança econômica, tornou pequenos grupos cada vez maiores, resultando em membros do mesmo grupo frequentemente estranhos uns aos outros e perseguindo objetivos diferentes.

Com tamanhas mudanças sociais, a ética também sofreu alterações. A então ética dos pequenos grupos, que já não se aplicava a comunidades tão diversificadas e cosmopolitas, foi acompanhada por mudanças em sua esfera. Esse processo evolutivo deu origem ao que Hayek chamou de ética de ordem estendida. Nela, os fins coletivos foram abandonados em favor de regras abstratas e mecanismos impessoais, aplicáveis a diversos fins individuais.

Não obstante esse novo modelo ter se tornado a ética dominante, a ética de pequenos grupos continuou a existir, especialmente nas esferas afetivas – amizades, famílias etc. Assim, a ética ocidental contemporânea é uma mistura entre a ordem estendida – que norteia os indivíduos a como agir dentro da ordem social ampla – e ética de pequenos grupos – que instrui os indivíduos a como se comportar dentro dos limites das várias organizações voluntárias às quais pertencem.

Hayek traz à luz, então, a dualidade entre moralidade natural (uma preocupação não escalável para a tribo) e a racionalidade (em que se pode projetar o mecanismo para converter recursos em resultados). A ética de Hayek nos permite competir com estranhos – algo que não faríamos na esfera familiar – de maneira que a ganância possa ser convertida em ganhos.​

Ao longo da obra, o autor adverte que, apesar das possíveis tensões entre os dois sistemas, deve existir um equilíbrio entre os dois, eis que ambos desempenham funções importantes dentro de suas próprias esferas: a ética de pequenos grupos fornece calor e compaixão essenciais ao homem como um animal social, enquanto a ética de ordem estendida/ampliada desempenha uma função de coordenação que mantém a segurança econômica e o crescimento da riqueza.

Contudo, enquanto não há pressão para a extensão da ética da ordem estendida aos pequenos grupos, há um influente grupo de intelectuais socialistas que demanda exatamente o oposto: a reconquista do ocidente pela ética de “pequenos grupos”. Hayek, embora admita que tal evento pode inicialmente satisfazer nossos instintos, condena essa perspectiva e aponta suas consequências de longo prazo, quais sejam a pobreza, a fome e a morte generalizada. A ética ocidental, observa o autor, é a principal responsável por tornar possível a prosperidade social e econômica dos indivíduos e seu abandono levaria ao caos e ao tribalismo primitivo que seria incapaz de sustentar a população da Terra.

De forma técnica, mas também trazendo argumentos filosóficos, Hayek refuta o socialismo, colocando sob o holofote as premissas incorretas nas quais esse sistema se baseia, especialmente a falácia de que mudanças propositalmente planejadas trazem prosperidade social. A obra elucida o mal destrutivo da natureza do altruísmo e seu papel no pensamento socialista. Assim, o autor enfatiza, na verdade, que apenas a transmissão das tradições sociais que valorizam a propriedade privada, o comércio e o capitalismo moderno é que a sociedade evolui.

Hayek nos oferece uma dicotomia ao declarar que o livre mercado, ao mesmo tempo em que objetiva o lucro, atinge involuntariamente o bem maior da prosperidade da sociedade. O dualismo ético que Hayek vê na sociedade ocidental é, em última análise, incapaz de ser resolvido. A alternativa socialista é reacionária e inaplicável à complexa sociedade moderna, pois pretende ajudar os menos afortunados por meio de um planejamento centralizado que acaba por empobrecer involuntariamente a todos. É o que Hayek aponta como produção sem orgulho ou virtude sem prosperidade.

Ao final da obra, o autor nos deixa com um sábio conselho: a manutenção de uma sociedade liberal clássica, uma ordem estendida composta por indivíduos e organizações voluntárias e que interagem livremente, é muito mais que um capricho: é uma questão de vida e morte.

*Juliana Bravo – Associada II do Instituto Líderes do Amanhã.

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