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Raul Castro e Francisco: papa comunista? ateísmo cristão?

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papa-e-raulEsse texto trata da reunião que houve, no dia 10 de maio de 2015, do Papa Francisco com o presidente de Cuba Raul Castro. Trata também da grande repercussão que esse encontro causou. Comecemos nossa reflexão por um questionamento. Qual a palavra mais próxima aos valores cristãos? Caridade, amor, caritas, àgape. Presença de espírito junto ao alijado de direitos, junto ao excluído, ao flagelado, ao sofredor, ao indivíduo aflito pela própria descrença. Como então condenar o papa por simplesmente receber alguém sem impor uma demagógica conversão? Como escrutinar a real intenção do papa? Como julgar sua ação pelo critério único da política quando o abnegado senhor apenas transita por onde é chamado? O papa recebeu Raul Castro sim. Recebeu anteriormente o líder do MST, João Pedro Stédile. Algo decepcionante para nós que lutamos contra o tipo de ideologia que esses indivíduos representam. Mas, será que conversar com Raul Castro por 55 minutos significa endossar o regime cubano? Apertar a mão de João Pedro Stédile significa endossar invasões de propriedade e depredação de patrimônios? Teria ele o direito, na sua condição, de lhes virar a cara? Por acaso a presença de Jesus em meio aos pecadores significava concordância com o pecado? Isso é o que queríamos dizer a propósito das vozes que se levantaram contra o papa , acusando-o de comunista.

No entanto, gostaria também de contraditar uma postura que endossa a atitude do papa Francisco, mas de uma forma que não me convém. Essa postura está representada no artigo de Juan Arias, colunista do El país, em artigo intitulado O papa francisco simpatiza com o ateísmo cristão?. O papa Francisco, eu acho que não, mas Juan Ariás parece que sim, embora tal expressão não tenha nexo, sentido, correção ou correspondência com a realidade. Não há como sustentar conceito tão vazio. O que isso significaria? A ausência de fé acompanhada de um ideal humanitário? Chame-se simplesmente humanitarismo. Não há como amalgamar coisas tão paradoxais sem destruir o significado de ambas.

Ateísmo é a descrença em uma justificação moral do mundo, é a crença na espécie como ato involuntário e casual, é a recusa indômita de recorrer a uma instância suprema que justifique o desconhecido, é a ousadia intelectual aliada ao desassossego interior, é a chama da revolta que renega a sujeição do homem a algo que ele não alcança. Somente alguém em quem a ousadia intelectual está desvinculada da humildade que torna possível a entrega é capaz de se auto-intitular ateu. E muitos ateus são devotados ao próximo, são éticos, cordiais e abnegados. Mas não são cristãos. Não podem sê-lo. O cristão crê. O cristão se entrega e projeta para a eternidade o real valor da sua conduta, pois sabe que aqui na terra a recompensa do bem não extrapola a da própria consciência sã. O cristão sabe que a eternidade corta o evento histórico e que, se as vicissitudes políticas pedem um engajamento qualquer, ela haverá de sustentar-se em um projeto maior.

O encontro do papa Francisco com o líder de um páis no qual as pessoas têm a sua ânsia de liberdade sufocada não pode significar o endosso de um regime acuado, marginalizado, desmoralizado e, sobretudo, desconectado do ímpeto libertário que impele os jovens à luta. A sua atitude deve ter um signicado diferente do mero apoio a uma ditadura claudicante que esqueceu de fechar o seu próprio caixão. A atitude de Francisco não deveria ser compreendida nem como simpatia ao comunismo, nem como simpatia ao que se chamou de “ateísmo cristão”, pois tal coisa não existe e jamais existirá. A cristandade se sustenta em uma crença e essa crença sustenta a sua fé.

Deixemos que o papa cumpra o seu papel histórico sem lhe atribuir intenções demasiadamente seculares. Ocupemo-nos, nós mesmos, de criticar, combater, condenar e lutar contra determinadas formas de governo. Ao santo padre cabe receber com caridade qualquer um que dele se aproxime.

 

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Catarina Rochamonte

Catarina Rochamonte

Catarina Rochamonte é Doutora em Filosofia, vice-presidente do Instituto Liberal do Nordeste e autora do livro "Um olhar liberal conservador sobre os dias atuais".

Um comentário em “Raul Castro e Francisco: papa comunista? ateísmo cristão?

  • Avatar
    19/05/2015 em 9:35 pm
    Permalink

    No caso, o papel histórico do Papa não seria dar um puxão de orelha nos Castros pelos mais de 50 anos da ditadura em Cuba? Você poderia escrever um artigo sobre o papel da CNBB na politica brasileira? Obrigado

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