Quantas divisões tem Eduardo Cunha?
Após se ver incriminado por um delator da operação Lava Jato, o deputado Eduardo Cunha (PMDB), presidente da Câmara dos Deputados, formalizou sua ruptura com o governo. Acompanhei a entrevista do deputado pela GloboNews, e monitorei os recados que Cunha enviou na madruga pelo Twitter. A interrogação do momento subsequente ao fato é a que dá título a esse artigo. Em outras palavras: quantos políticos seguirão Eduardo Cunha na sua empreitada contra o governo e contra o PT, e quantos se alinharão com Dilma?
A jornalista Cristiana Lobo, líder da bancado do PT na GloboNews, alinhou-se às tropas de Dilma esmerando-se em revelar que parlamentares apressavam-se em ligar para a presidente para jurar-lhe fidelidade.
A lógica dos acontecimentos, assim como a que orienta a ação da maioria dos políticos em Brasília, sugere que as probabilidades de Dilma e do PT saírem ainda mais esfrangalhados dessa refrega com Cunha é significativamente maior do que o contrário acontecer.
Em primeiro lugar, é preciso reafirmar que se avalia o sentido da ação dos políticos pelas suas atitudes; não por suas palavras. Logo, afirmar que o fato de parlamentares ligarem para o Palácio do Planalto para jurar fidelidade é indicador de apoio efetivo ao governo e de isolamento de Eduardo Cunha é algo que denuncia muito mais o governismo da jornalista do que uma informação relevante para a compreensão dos acontecimentos.
Dilma possui, segundo as pesquisas, algo em torno de 9% de apoio popular. Considerando-se que Lula aparece nesses rankings eleitorais com algo em torno de 33%, deduz-se que Dilma nem sequer o apoio da maioria dos petistas tem.
Em segundo lugar, para medir o tamanho dos exércitos “de Eduardo Cunha”, é preciso olhar para o contingente de deputados que se alinhou com ele no plenário da Câmara em votações recentes. Cunha venceu de lavada todas as votações que patrocinou, fazendo em torno de 300 votos ou mais, mesmo em situações em que foi “derrotado” pela regra da maioria de 3/5 para aprovar PECs.
O que estava em questão em cada votação e o que orienta os interesses dos votantes em cada caso?
Cunha não aprovou tudo que quis na Reforma Política pois a natureza dessas leis mexe com os interesses de cada votante. Mas fez votações muito expressivas mesmo nesses casos. E na votação da maioridade penal demonstrou claramente seu poder de fogo quando entrou em jogo a necessidade de impingir uma derrota simbólica ao PT em afinidade com a opinião pública. Sobraram votos na segunda votação em que impôs sua vontade.
Notadamente, e para esse argumento adicional, precisamos trazer o senador Calheiros, próximo alvo da Lava Jato, ao foco, o Congresso está melando o ajuste fiscal. “O PMDB” aprova medidas de Levy desidratadas e, simultaneamente, aprova medidas que convidam o Brasil para um cruzeiro nas ilhas Gregas a bordo do transatlântico “Costa Concórdia”.
Essa semana, José Sarney, Michel Temer, Renan Calheiros e Eduardo Cunha, apresentaram-se em público para anunciar que não faz mais sentido preservar o casamento do PT com o PMDB, e que o PMDB terá candidato próprio em 2018.
Os caciques do PMDB devem estar se corroendo. Como puderam imaginar que sairiam de um sexo casual adúltero com o PT sem serem descobertos pelas esposas? Na política, arrependimento mata.
O PP, outro aliado de primeira hora do PT no governo e na operação Lava Jato lançou seus sinais de fumaça. Os dirigentes do PP, cujas mansões e escritórios foram vasculhados pelas tropas institucionais da democracia, plantaram na imprensa o recado de que teriam ouvido Dilma reclamar, em reuniões fechadas, que o esquema da Lava Jato era “herança maldita” de Lula que ela estaria sendo obrigada e engolir calada. Logo, Dilma sabia de tudo, certo?
Da mesma forma, o PSD de Kassab, providencialmente submerso, plantou na imprensa o recado de que é muito jovem para se ver associado à corrupção, e que, se o impeachment vier a ser posto em votação no Congresso…
Ninguém vira deputado ou senador por burrice. Muitos, inclusive, devem estar entre os que ligaram para Dilma para declarar que estão com ela e não com Cunha. Claro, não sem lembrá-la “daquela emendinha lá para minhas bases” que o ministro Levy está segurando …
Em situações como essa, nada melhor do que lembrar a frase de um prócer peemedebista repassada em off para “O Antagonista” em abril passado: “o PMDB segura a alça do caixão de um aliado no enterro, mas não pula na cova.” Vale para os peemedebistas; vale para seus pares.
O que preside a lógica da maioria dos políticos nesse momento é o instinto de sobrevivência. Lendo suas mentes, o que encontramos?
- Tomara que o juiz Moro não me descubra;
- Se descobrir, tomara que eu consiga sobreviver e/ou voltar à política;
- Se eu me ferrar na política ou com a polícia, preciso salvar minha aposentadoria;
- Sobrevivendo ou não, é imprescindível aniquilar Lula e o PT, por vingança!
Nunca se deve subestimar o desejo de vingança de alguém que perdeu ou está em vias de perder tudo que acumulou ao longo de uma vida ou de gerações até. Não é senador Sarney? Não é senador Collor?
Afinal, é justo pagar sozinho e ver Lula e o PT saírem impunes ao assassinato da galinha dos ovos de ouro?
O que prevalecerá na hora de optar por Cunha ou pelo PT?
Na hora de votar contra ou a favor do impeachment, prevalecerá o espírito de corpo e o desejo de vingança dos políticos. Sem dúvida.
Para a corporação dos controladores do Estado Patrimonialista, trata-se de lutar pela sobrevivência. Isso une, todos os envolvidos, de fato ou potencialmente, na Lava Jato. Nisso reside a força de Eduardo Cunha contra o PT.
O “recesso” parlamentar em curso, será tudo menos recesso. Se Dilma tinha ilusão de que teria uma trégua para reagrupar a tropa e retomar a ofensiva, é bom que saiba que nos próximos dias, a única coisa que ocupará a elite do poder (de fato), no país, é a construção da equação da substituição de Dilma.
Pessoal, ficou faltando um botao de compartilhamento pelo whatsapp. Parabéns pelo novo portal.