Qual foi de fato a maior inflação: a de Dilma, ou de FHC?
O quadro comparativo entre a inflação de preços durante o governo FHC e a gestão petista vem aparecendo bastante. Tal fato se deve a forte crítica que o candidato tucano vem fazendo à política econômica do governo que falhou ao fazer com que a inflação ficasse no centro da meta. Contudo, o governo rebate as críticas da oposição afirmando que durante a gestão de FHC a inflação foi muito maior e também ficou fora da meta, como é possível notar no gráfico a seguir.
De fato, a crítica do atual governo procede. Entretanto, é necessário analisar a conjuntura interna e externa para que possamos chegar a uma explicação sobre a inflação em cada período do gráfico.
O regime de câmbio fixo foi uma das ferramentas que norteou a política monetária, durante o primeiro mandato do governo FHC e uma parte do segundo. Esse arranjo fazia com que a inflação fosse baixa, uma fez que utilizávamos o arranjo US$1,00 equivale a R$1,00. Para isso, o Banco Central fazia constantes intervenções para que a taxa de câmbio se mantivesse estável. Com isso, o governo conseguiu reduzir a grande indexação (reajuste de salários, preços e etc.) da economia.
O problema é que, para tal arranjo funcionar, o país necessitava de uma quantidade relativa de reservas internacionais. A crise asiática colocou esse sistema à prova, porque os investidores estrangeiros tiraram seus capitais de países emergentes, inclusive do Brasil. Para salvar o arranjo, o país teve que recorrer a um empréstimo do Fundo Monetário Internacional.
Com o agravamento da crise na Ásia e, posteriormente, com o início da crise russa, o regime de câmbio fixo passou a não funcionar, por conta da grande fuga de capitais. O câmbio flutuante foi adotando, fazendo com que o real sofresse uma forte desvalorização, como é possível ver no gráfico.
Como o câmbio ficou favorável à importação durante muito tempo e como o Brasil estava intensificando o processo de abertura comercial, passamos a importar mais insumos e produtos. Logo, a desvalorização do câmbio fez com que a o preço dos importados aumentasse, elevando assim a inflação de preços. Podemos corroborar essa tese utilizando o gráfico que mede a inflação no setor de serviços e de bens industriais.
O efeito da desvalorização do real fez com que os preços dos bens industriais sofressem uma forte alta, ao passo que, no setor de serviços, tal variação ficou no teto da meta de 5,5% estabelecida pelo Banco Central, em 2002. Como o país não dispunha de reservas suficientes para fazer intervenções no câmbio, dado a nossa fragilidade econômica segundo os investidores internacionais, o artifício utilizado pela autoridade monetária foi a elevação da taxa de juros, para assim reduzir a inflação.
Vale ressaltar que as medidas adotadas no curto prazo para conter a escalada dos preços, durante a gestão de Armínio Fraga no BC, foram boas. O superávit primário foi elevado, assim como a taxa de juros, fazendo com que a política monetária não perdesse credibilidade dos agentes econômicos.
Superávit Primário
O governo atual, por outro lado, estimulou a demanda agregada, para que assim o país pudesse se recuperar do tombo causado pela crise dos Estados Unidos e da Europa. A taxa de juros foi reduzida, os bancos públicos passaram a emprestar dinheiro para a população e o governo aumentou seus gastos. Os brasileiros então, munidos com cartões de crédito de todos os tipos, foram às compras, o que gerou uma forte pressão na demanda.
Dessa forma, as pessoas puderam comprar casas, móveis, eletrodomésticos e vários outros produtos. Entretanto, o governo não apenas aumentou a emissão de moeda (que gera inflação), como também fez com que inúmeras pessoas de endividassem. Atualmente, o brasileiro médio possui 45% de sua renda comprometida com o pagamento de dívidas.
Outro fator é a questão dos preços administrados. O atual governo está segurando esses preços, fazendo com que os mesmos não elevem a inflação de preços. Durante toda a gestão de FHC, os preços administrados sofreram grandes aumentos e, dessa forma, não ficaram defasados. Atualmente, entretanto, o governo vem segurando os mesmos, para que a inflação não suba.
A inflação de preços atual, portanto, é maior do que a do período FHC, uma vez que a forte valorização cambial do período foi uma das componentes que mais contribuiu para a escalada de preços. Além disso, o reajuste dos preços administrados contribuiu para o aumento do índice.
O leitor tem que se lembrar de que, antes do governo FHC, o Brasil estava vivendo uma hiperinflação. Logo, para um governo que assumiu conseguindo resolver esse problema, uma taxa de inflação de 7%, 9% ou até mesmo 12% era uma conquista. Contudo, após a estabilização monetária e com as contas públicas saudáveis, ter uma inflação nesse nível – que na verdade é bem maior – é uma derrota.
Portanto, a qualidade da inflação de cada governo é bem diferente. Por mais que a elevação da mesma durante o governo FHC tenha sido maior, tal fato ocorreu por conta da forte desvalorização do câmbio e da elevação dos preços administrados. Já a inflação atual, é fruto de um aumento forçado da demanda agregada, que elevou o consumo das famílias, investimentos privados, e gastos públicos, através da concessão de crédito barato e redução da taxa de juros, sem que houvesse poupança para isso.