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Você defende ideias ou espera um messias que “salvará” a pátria?

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O auge da democracia são as eleições. Nisso creio que poucos hão de discordar, desde que Platão e Aristóteles divagavam sobre a Polis, e Montesquieu conclamava a tripartição dos poderes estatais como condição à democracia, o ponto máximo de uma nação que se pretende democrática é a participação popular — o sufrágio universal —, a “vontade geral” que tanto reverberava no “Contrato Social” de Rousseau. No entanto, faz tempo que essa participação popular se encontra obnubilada entre tantos aparatos e conchavos que, se formos fazer uma exegese existencial do que seja democracia, chegaríamos à sentença de Hans-Hermann Hoppe: a democracia, tal como a entendemos, falhou de forma retumbante.

A aporia inicia na desconfiança sensacional que as nossas urnas eletrônicas geram em qualquer ser humano que apresente uma capacidade cognitiva maior que a de um chimpanzé; passa pelos conchavos e compras de votos largamente conhecidos nas periferias e, principalmente, no nordeste brasileiro; chegando até à nossa própria incapacidade de compreender os atributos necessários para se exercer com competência a função de Presidente da República. Todavia, não serei eu a elencar tais atributos, pois, confesso, não só de currículos vive um presidente. O problema da liderança presidencial perpassa certos entreames muito mais densos que possamos imaginar: capacidade de gerir pessoas, conhecimento político e filosófico, capacidade de pensar situações panoramicamente, aptidão para tomar decisões difíceis, não ser manipulável, não se deixar abater por críticas, estar preparado para ataques pessoais, etc. A lista se estenderia de Roraima à Foz do Iguaçu, mas paremos por aqui.

Todavia, o problema maior jaz na mentalidade popular brasileira que se deixa carregar pelo mais leve flerte de massa. Como expliquei em outro texto, o problema nacional não é o que hoje foi largamente denominado como: “populismo”. O populismo é um aparato democrático, os candidatos têm que fazer discursos populares para conquistar o apreço de grande parte do povo, e quanto maior for essa parcela, mais chance ele terá de ganhar as eleições. A democracia se estrutura, basicamente, através da vontade da maioria, sendo assim, convencer a maioria de que suas ideias são as mais adequadas faz parte da democracia representativa; criticar tal coisa beira a hipocrisia. Não há mal algum em ser popular — “popular” e “populista”, para mim, assumem a mesma função conceitual; por que Bolsonaro seria populista ao abraçar a Dona Eunice do Rio de Janeiro e Lula um homem popular ou “do povo” por abraçar a dona Maria da Paraíba?

O problema jaz, entretanto, na “política de massa”, que é completamente diferente — ainda que o fim seja análogo — do populismo. A política de massa, em suma, é a coletivização da mentalidade dos indivíduos, tornando-os gados e soldados de uma causa que raramente eles conhecem em sua inteireza ou conseguem abstrair em seu todo; a política de massa não busca convencer, mas sim doutrinar, catequizar homens e mulheres para fins políticos de determinada ideologia. No populismo possuímos pessoas livres que livremente escolhem votar, defender e até militar em prol de causas determinadas, todavia, mantêm-se livres para, a qualquer momento, ao mais leve deslize do comprometimento do candidato  ou partido com as ideias por eles outrora arrogadas, se colocar fora do montante daqueles que os apoiam.

A política de massas se encontra num aparato de mentalidade “religiosa”; seus candidatos não são mais meros representantes do povo, mas sim messias políticos incumbidos de libertar o povo, a nação, ou uma rebelião/revolução contra parcela da sociedade que eles definem como inimigos. As ideias do partido ou do candidato não são mais simplesmente ideias, elas tornam-se dogmas irretocáveis princípios que, se contrariados, legam ao contestador a chancela de herege.

O que temos hoje, em sua maioria, são coletivos que defendem messias e povos escolhidos, e não indivíduos que defendem causas e ideais. Os candidatos não são estadistas no sentido pleno do termo, ou seja: homens que governam para a nação, para o país. Mas sim homens que governam com bandeiras secundárias — ONU, UNESCO, globalismo, partido, bolivarianismo, etc. — e não com a da sua nação. Lula não foi presidente do povo como muitos arrogam, foi tão somente o presidente dos petistas, das empreiteiras e de seus coligados, não governou em favor de todos buscando o equilíbrio sensato do aparato estatal, mas sim o inflou com o fim claro de alcançar a estratégia comunista latino-americano muito bem especificados nas atas do Foro de São Paulo — dominar via Estado forte todo o aparato político da América Latina. Ou alguém aqui acha que financiar o porto de Mariel, metrôs na Venezuela e a hidrelétrica na Nicarágua foram atos de patriotismo e benevolência com os impostos dos brasileiros? Acham que a corrupção na Petrobras foi pelo bem da dona Maria por ele abraçado no sertão da Paraíba?

Não votamos, nós erigimos deuses. Lula é intocável para seus militantes que, não é de duvidar, estão prontos para morrerem por ele. O mesmo podemos dizer de Jair Bolsonaro e alguns de seus seguidores. Numa nação sadia, saberíamos diferenciar ideias de seus representantes, assim como abandoná-las quando se mostram falsas e danosas à nação. Numa sociedade sadia saberíamos identificar os problemas através de autorreflexões sinceras, localizando em nós e em nossa mentalidade social os preconceitos e ideias impostas que reinam em nosso imaginário coletivo.

Há muito dos populistas nos estadistas e, arrisco-me a dizer, só há democracia com candidatos que buscam ser populares; não obstante, o que temos no Brasil são pastores de militantes políticos, homens que não aceitam o contraditório e condenam seus seguidores à servidão irracional. Winston Churchiil foi populista, apesar de não se importar com a impopularidade de algumas de suas opiniões e atos, ele sabia que parte do processo democrático exigia dele conseguir a confiança da maioria. Fidel Castro, por sua vez, foi guia de massa, não permitia oposição, críticas eram punidas com morte, suas ações não permitiam a revogação e nem a contestação; sua vontade era um dogma, suas políticas, incontestes. Para Churchill ser popular e agradar a maioria é uma condição de governo; para Fidel pouco importa sua popularidade, ele é ditador, ainda que ninguém goste dele em seu país, se ele possui o suficiente para manter a tirania, isso é o que lhe importa. O populismo, por isso, é o termômetro da democracia; somente nas ditaduras o populismo torna-se algo que não importa.

“1) A estratégia de massa é uma realidade alienadora que forja militantes subalternos prontos para o martírio se preciso for; 2) o populismo é um viés discursal que angaria eleitores convencidos de que as ideias apresentadas são melhores do que as de seus opositores. No primeiro caso temos a política-para-a-ditadura, no segundo temos a política-para-o-poder-governamental; o primeiro é nefasto, o segundo é, em princípio, democrático”, disse certa vez.

Nós apenas temos uma corda danificada que segura através de poucos filetes a carcaça de uma vaga ideia democrática que, pasmem, sobrevive através das redes sociais e raras mídias alternativas. A mídia, que já foi denominada de “pulmões da democracia”, em sua maioria, está vendida ao globalismo e suas verdades de cartilhas; não são capazes de sequer apresentar o contraditório, quanto menos serem pulmões da democracia. A universidade está dominada por militantes incapazes de serem livres-pensadores, nossos políticos sequer sabem o que é moralidade pública. E isso não é complexo de inferioridade não, amo o meu país e por isso o crítico; trata-se de uma constatação político-filosófica. Infelizmente, aqui, a democracia ainda é um fetiche de acadêmicos. O que nos resta, momentaneamente, é segurar a corda e rogar aos céus para que o povo acorde e saia do berço expendido chamado ideologia!

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Pedro Henrique Alves

Pedro Henrique Alves

Filósofo, colunista do Instituto Liberal, ensaísta do Jornal Gazeta do Povo e editor na LVM Editora.

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