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Uma visão sobre o crescimento da extrema-direita no mundo

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O crescimento da chamada extrema-direita possui, nos diversos países onde vem se intensificando, elementos comuns, além de origem similar em muitos deles. Movimento natural na política de países democráticos ou semi democráticos, ostenta quase sempre a mesma fórmula, que não raramente deságua em recrudescimento dos radicalismos políticos.

O principal estopim dos radicalismos é o caráter volúvel do eleitorado na democracia e a pressuposição (por parte desse eleitorado) de que os governos são mais importantes para a solução dos problemas das pessoas do que elas próprias. Além disso, os períodos de radicalização são quase sempre seguidos de governos socialmente bem intencionados, mas pouco pragmáticos em relação à política externa, conflitos bélicos, imigração e economia.

A era PT no Brasil, os Estados Unidos de Obama e a União Europeia atual possuem alguns elementos em comum: são ou foram tentativas de salvação pela política, capitaneadas por movimentos com características progressistas (segundo seus próprios adeptos), sempre tendo como pressuposto a democracia, a diversidade, a tolerância e a melhora das condições de vida da população através da intervenção na economia.

Não que a intolerância seja fator desejado, ou que a diversidade deva ser reprimida em suas amplas formas de manifestação. A questão vai além desta simplificação. O cerne do problema é que muitas das políticas chamadas progressistas têm tanto avesso ao preconceito e acabam por confundi-lo com discernimento. Exemplifico: o discernimento nos diz que a imigração não pode ocorrer de qualquer forma e em qualquer lugar, mas diversas pessoas e instituições defendem a completa abertura das fronteiras. Uma sumária avaliação das condições geopolíticas já seria suficiente para que constatássemos a impossibilidade de “democratização” da imigração, mas, em nome da “inclusão”, permite-se o oposto.

O resultado é lógico: o colapso do sistema. Os países que compõem a União Europeia, tomados por um espírito globalizante e democrático, julgam poder acolher milhões de refugiados que, em sua maioria, simplesmente ignoram os princípios basilares da democracia. Muitos deles, inclusive, vivem sob a égide de ditaduras islâmicas há vários séculos, inclusive, regidas pela sharīʿah (Lei islâmica que não separa o Estado da religião).

O que faz a União Europeia agir de maneira tão irracional e quais as consequências dessa irracionalidade?

Primeiramente, uma organização política cujo nome se inicia pela palavra União, baseada, anteriormente, em uma Comunidade, jamais se sentiria à vontade em reconhecer que nem tudo no mundo pode se unir, ou que uma União política pressupõe homogeneidade de pessoas e objetivos comuns entre seus membros. Isto vai absolutamente contra o sonho da globalização democrática, e a busca pelo ideal de uma comunidade internacional constante nos Tratados que deram origem ao bloco.

Enxergar que pessoas cuja formação se baseia em preceitos religiosos radicais não se pode compatibilizar com a população de Estados democráticos e seculares é extremamente difícil para um adepto desta vertente política. A comunidade Europeia tem medo de agir com racionalidade, e mais medo ainda de que sua racionalidade conflite com os próprios fundamentos filosóficos que lhe sustentam.

Em segundo lugar, a União Europeia não tem a menor ideia de como vai resolver a maior crise humanitária desde a segunda guerra mundial. O desespero de milhares de pessoas famintas e desassistidas batendo à porta do continente representa um verdadeiro dilema: deixar que seres humanos morram ou acolhê-los, sabendo dos riscos que isso poderá trazer?

Diante de situações práticas como as apontadas, que impactam no dia a dia dos eleitores europeus, surgem candidatos populistas e radicais, com uma plataforma de solução de problemas com base em medidas extremas, geralmente envolvendo o uso da força estatal. A plataforma radical desses candidatos é terra fértil para um eleitorado acuado e descrente das soluções oferecidas pela democracia.

Trump nos EUA, Wilders na Holanda e Le Pen na França, ambos são ou foram fenômenos nascidos de um mesmo sentimento: o solucionismo político. Sendo este entendido como a crença em respostas de força para crises cuja origem e rumo se desconhece, mas que impacta diretamente na economia e na vida das pessoas. São candidatos que baseiam suas campanhas na retórica, e como todos os bons radicais, prometem soluções que nem eles próprios sabem se poderão pôr em prática.

Na verdade, governos baseados na força e coercibilidade estatal não são novidade, se difundiram amplamente no início do século passado como resposta aos problemas que exsurgiam após a primeira grande guerra. E registre-se: as maiores autocracias nasceram sob a chancela popular, cozidas num misto de demagogia, solucionismo político e ódio social.

A solução? Ainda desconhecemos. Mas podemos afirmar, com embasamento histórico, que força sem inteligência é como um movimento sem direção[1].

[1] Frase atribuída a Mariano José Pereira da Fonseca, o Marquês de Maricá.

 

Sobre o autor: Heitor Gama Pimentel. Advogado e Professor. Especialista em Direito Público pela Universidade Cândido Mendes/RJ.

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