Sobre falar a verdade alto demais
O antropólogo Antônio Risério escreveu para a Folha de São Paulo um artigo de opinião sobre o racismo e enumerou diversos casos de práticas racistas proferidas por negros contra outros grupos étnicos, como judeus e asiáticos. O autor argumentou contra a noção de que só é possível ser um racista quando se está em posse da estrutura do poder.
Risério, mesmo afirmando na primeira linha do artigo que o racismo de brancos contra negros é um fato indubitável, ganhou a pecha de racista. Afinal, cometeu o grandioso “crime” contra movimentos sociais de falar a verdade alto demais.
A inconveniência da verdade é um problema para grupos que se impõem como paladinos da moral. Sendo hoje os movimentos identitários negros um desses autodeclarados paladinos, apontar suas incongruências promoveu uma indignação destes contra o jornal, que, exercendo sua liberdade de expressão, abriu espaço para que a hegemonia do tratamento do tema do racismo fosse desafiada.
Ora, os mesmos indignados não demonstraram um pingo de incômodo quando a mesma Folha entrevistou o declarado stalinista Jones Manoel ou quando um de seus colunistas recentemente defendeu, no mesmo formato de artigo de opinião, uma violenta revolução proletária para o país que não poupasse ninguém.
O que exatamente Risério escreve em seu artigo que causa tanta repulsa? Apenas com fatos e argumentos, provou que parte da atual militância identitária negra americana tem se tornado tão supremacista quanto os movimentos racistas que pretende combater.
Fatos e argumentos coerentes que, até agora, foram pouco desafiados por outros fatos e argumentos lógicos, sofrendo oposição dos meios totalitários com cancelamento e uma espécie de linchamento virtual.
Pouquíssimos chegaram a ler o artigo de Risério, pois, se lessem, saberiam que ele não menciona a expressão “racismo reverso” criada pela direita americana e muito menos nega existir uma promoção do racismo de brancos contra negros. O que ele faz é apenas alegar, e novamente menciono aqui, com fatos e argumentos, que a mesma mídia que corretamente condena o racismo de brancos contra negros, minimiza eventos de racismo de negros contra outras etnias, principalmente judeus e asiáticos.
Risério hoje é publicamente cancelado única e exclusivamente por um crime: o de falar a verdade alto demais.
*Artigo publicado originalmente na página Liberalismo Brazuca no Facebook.