Por que o crime organizado tem ganhado força no Brasil?

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O avanço do crime organizado no Brasil não é fruto de um único fator, mas da combinação perigosa entre Estado ineficiente, instituições frágeis, incentivos distorcidos e ausência de liberdade econômica real nas periferias. Sob a perspectiva liberal, o crescimento dessas organizações é um sintoma de um Estado que tenta fazer demais e faz mal deixando de cumprir justamente seu papel mais fundamental: garantir segurança, lei e ordem.

Como alertava Adam Smith, “a primeira obrigação do Estado é proteger a sociedade contra a violência e a injustiça”. Quando essa obrigação falha, o espaço é inevitavelmente ocupado por forças paralelas.

Instituições frágeis e incapazes de impor ordem

O crime organizado prospera onde o Estado é incapaz de manter presença legítima, transparente e efetiva. O filósofo liberal John Locke afirmava que o Estado só é legítimo quando cumpre o contrato social básico: proteger vidas, liberdades e propriedades. Quando isso não ocorre, surge um “vácuo institucional”, rapidamente ocupado por grupos que oferecem:

• “justiça própria”

• “proteção”

• arbitragem de conflitos

• coerção militarizada

Esses grupos assumem funções que deveriam ser exclusivas do Estado, conquistando poder e legitimidade informal entre populações desassistidas.

Incentivos econômicos distorcidos e a lucratividade da informalidade

A falta de liberdade econômica real em grande parte do país, com direito a burocracia, informalidade forçada, falta de oportunidades e barreiras de entrada, cria incentivos para que indivíduos busquem alternativas fora da legalidade.

Como lembram os economistas da Escola de Chicago, “as pessoas respondem a incentivos; todo o resto é comentário”. Se a economia formal pune o empreendedor pobre com impostos desproporcionais, regulações impossíveis e burocracia sufocante, o crime aparece como uma alternativa de baixo custo e alta recompensa.

O crime organizado opera como uma “empresa” altamente eficiente em regiões onde o Estado falha:

• crédito informal

• “segurança” mediante extorsão

• logística integrada

• sistemas de distribuição

• controle territorial

É a lógica econômica se manifestando onde o sistema legal não oferece caminhos viáveis.

Estado grande, mas Estado fraco

Há um paradoxo estrutural brasileiro: o Estado é enorme onde não deveria ser (intervenção econômica, burocracia, excesso regulatório) e mínimo onde realmente importa (segurança pública, justiça, prevenção).

O pensador Frédéric Bastiat alertava que “o Estado é a grande ficção através da qual todos tentam viver às custas de todos”. No Brasil, essa “ficção” resulta em:

• excesso de leis, mas pouca aplicação

• muitas agências, pouca coordenação

• orçamentos elevados, mas baixa eficiência

• presença estatal formal, mas ausência prática

Essa incoerência abre espaço para organizações criminosas que funcionam onde o Estado apenas simula funcionar.

Falha sistêmica na justiça criminal

O liberal Friedrich Hayek enfatizava que o império da lei é essencial para qualquer sociedade livre: sem a certeza de regras claras e aplicáveis, a liberdade é impossível.

O sistema brasileiro, porém, apresenta:

• morosidade judicial

• baixíssimo índice de resolução de crimes

• prisões superlotadas e dominadas por facções

• legislação contraditória

• alto grau de impunidade

A impunidade funciona como “incentivo indireto” ao crime. Além disso, prisões controladas por facções funcionam como centros de recrutamento e gestão, fortalecendo o crime organizado em vez de enfraquecê-lo.

Monopólio estatal falho da segurança

Ludwig von Mises lembrava que, onde o Estado falha sistematicamente, ele perde sua legitimidade aos olhos do cidadão.

Nas periferias e territórios vulneráveis, o Estado:

• não protege;

• não investiga;

• não garante estabilidade;

• não oferece previsibilidade jurídica.

Sendo assim, grupos criminosos passam a fornecer aquilo que o liberalismo clássico considera essencial para o florescimento social:

• previsibilidade;

• resolução de conflitos;

• circulação econômica “segura”;

• imposição de regras;

• oferta de serviços essenciais (ainda que ilícitos).

Ou seja: o crime organizado se fortalece porque entrega aquilo que deveria ser monopólio legítimo do Estado: ordem e segurança.

Conclusão: o fortalecimento do crime é resultado direto do fracasso estatal

Da perspectiva liberal, o crescimento do crime organizado no Brasil não é mistério, é consequência lógica da combinação entre:

• Estado grande demais e ineficiente;

• instituições frágeis;

• ausência de liberdade econômica real;

• impunidade e justiça lenta;

•incapacidade de garantir segurança básica.

O crime organizado não cresce porque é forte. Ele cresce porque o Estado é fraco onde importa.

*Isaías Fonseca é associado do IFL-Belo Horizonte.

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