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Por que na política só os piores alcançam o topo?

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A atual campanha presidencial tem confirmado, em cores vivas, a tese de Hayek (de quem roubei o título acima), exposta em seu mais famoso livro “O Caminho da Servidão”. Segundo o economista austríaco, nas democracias, com raras exceções, são os piores que obtêm sucesso no jogo eleitoral. Por conta disso, Hayek sugere que as sociedades devem promover e aperfeiçoar instituições que impeçam os maus políticos de causar muitos danos, quando no poder.

Até agora, depois da condenação de Lula em segunda instância, os candidatos mais fortes ​​são: à esquerda, Ciro Gomes, um típico coronel nordestino que vive da política populista desde sempre. À direita, Jair Bolsonaro, um político de carreira reacionário, preso a um passado militarista e cujo conhecimento de princípios econômicos básicos é zero. Pelo meio, Geraldo Alckmin, um típico político tucano, incapaz de posições firmes, sempre tentando agradar gregos e troianos.

Um fato marcante a respeito desses três é que, embora encabecem as listas de preferências mostradas nas pesquisas, detêm índices de rejeição muito altos. Este estado de coisas é uma peculiaridade não só desta, mas de quase todas as últimas campanhas eleitorais, pelo menos nos últimos 40 anos.

Tal fato poderia parecer, aos desavisados, um paradoxo. Entretanto, o surgimento de indivíduos cuja conduta é repreensível pela maioria no topo das preferências políticas é precisamente o que qualquer pessoa com uma visão realista da história e um pouco de conhecimento da teoria da escolha pública esperaria.

Considere primeiro que a política é um empreendimento muito competitivo. A cada eleição, na busca de seus objetivos, os candidatos esforçam-se igualmente tanto para se promover – e a seus programas e propostas – quanto para minar a credibilidade dos seus oponentes. Que tipo de pessoa provavelmente vencerá esta competição?

Pensem numa luta de boxe. Quando lutadores de boxe se enfrentam, o primeiro objetivo é evitar, afastar ou suavizar os golpes do oponente, para depois fuzilar os adversários com socos cada vez mais fortes, muitos dos quais abaixo da linha da cintura, como se diz no jargão do boxe. Esta forma de competição não é para os fracos ou os tímidos. Além do destemor natural e do treinamento para o combate pessoal, o vencedor deve possuir uma capacidade de agressão acima da do oponente. Aqueles incapazes ou avessos a tal conduta terão poucas chances de sucesso neste tipo de empreitada.

O fato é que, dadas as realidades institucionais, psicológicas, ideológicas e econômicas do atual sistema eleitoral, dificilmente alguém sairá vencedor sem violar uma série de restrições morais e até legais, infelizmente.

Peguemos, por exemplo, o candidato liberal João Amoêdo: um aspirante presidencial que insiste em sempre dizer a verdade, falando claramente, sem evitar ou distorcer as questões que lhe são propostas; que propõe apenas políticas viáveis ​​e racionais para promover o interesse geral do público, e não planos mirabolantes ou impossíveis de felicidade geral. Amoêdo é praticamente o exato oposto de um lutador disposto a nocautear os adversários e vencer aplicando golpes abaixo da linha da cintura.

H. Mencken dizia que “O demagogo é aquele que prega doutrinas que ele sabe serem falsas, para homens que ele sabe serem idiotas.” Já o grande Thomas Sowell tem uma frase genial para descrever a gênese da demagogia: “Quando as pessoas querem o impossível, somente os mentirosos pedem satisfazê-las.” Eis o grande problema de políticos como Amoêdo, que não estão dispostos a jogar o jogo da demagogia e têm estima pela realidade.

Lamentavelmente, os brasileiros foram “educados” a pensar que a solução de todos os seus problemas reside no Estado.  Este deve ser o provedor do bem estar, da saúde, da educação, da segurança, do petróleo, etc. E deve fazer tudo isso cobrando poucos impostos. Ninguém está disposto a ouvir quem lhe diga que os recursos do governo são limitados, que as contas precisam ser equilibradas, que não se pode gastar mais do que se arrecada, que a maioria dos serviços deve ficar a cargo da iniciativa privada, etc.

Na verdade, a maioria dos eleitores deseja continuar sendo enganada, na esperança de que, algum dia, irá surgir um salvador da pátria capaz de realizar todos os seus sonhos de felicidade. Eis porque os principais candidatos são indivíduos moralmente desprezíveis: eles também reagem a incentivos, e sabem que suas melhores chances estão em dizer aquilo que o eleitor espera ouvir.

PS: eu não acho que Amoêdo deva mudar sua estratégia e aderir à velha forma populista e demagógica de fazer política. Talvez o país ainda não esteja preparado para eleger um político como ele, mas os fins nunca justificam os meios. Ademais, vejo na sua conduta irrepreensível um exemplo de quem está plantando uma semente para o futuro.

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João Luiz Mauad

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

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