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Por que a civilização e o desenvolvimento dependem menos de leis e mais de princípios e valores universais?

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Um episódio recente, gravado ao vivo e “viralizado” nas redes sociais, mostra a agressão chocante de um professor por um aluno secundarista, em plena sala de aula e diante de dezenas de outros alunos. Não foi o primeiro caso do tipo. Na verdade, o YouTube está repleto de vídeos com casos semelhantes. Outro caso que constrangeu e chocou muitas pessoas mostra uma professora ensinando, ao vivo, a seus alunos adolescentes como colocar um preservativo no membro masculino com a boca.

Estes episódios, assim como muitos outros a que temos assistido ultimamente, são resultado do relativismo moral e do profundo descaso das pessoas com a ética tradicional. Eles espelham o espírito de um tempo em que costumes e tradições civilizacionais, além de regras básicas de convivência estabelecidas ao longo de milênios de experiência acumulada pela humanidade, foram simplesmente abandonadas em prol de uma “pós-modernidade” que rechaça tudo que o passado nos ensinou.

Como já tive a oportunidade de mencionar, aqui mesmo neste espaço, o relativismo moral alcançou níveis tão elevados por essas bandas, que muitos dos nossos compatriotas já não fazem mais distinção entre o bem e o mal, o certo e o errado. Em alguns lugares, o descaso em relação valores e princípios universais é tão absurdo, que a sociedade parece ter retrocedido aos tempos pré civilizacionais.

O que nos falta não são leis positivas, que abundam em Pindorama. A simples existência da lei, no entanto, não garante integridade às relações sociais, tampouco uma convivência civilizada. Sem princípios éticos bem demarcados e intuitivos, essas relações tornam-se complicadas, caras e arriscadas. De nada vale um arcabouço interminável de normas escritas e objetivas se não houver critérios subjetivos a ditar a conduta individual.

O grande Walter Williams escreveu dia desses um breve artigo que trata exatamente dessa questão. Segundo o professor da Universidade George Mason, por mais de meio século, os ditos progressistas vêm travando uma guerra sem tréguas contra as tradições, os costumes e os valores morais. As gerações de hoje foram ensinadas a acreditar que não existem absolutos morais. Em vez disso, o que é moral ou imoral, certo ou errado, é uma questão de conveniência, de opinião pessoal ou de lei – quantas vezes o leitor já não leu o ouviu a ladainha segundo a qual se algo não é ilegal, então tudo bem?

O problema é que a primeira linha de defesa da sociedade não é lei. Os costumes, as tradições e os valores morais não se resumem aos clássicos: não matarás, não roubarás, não mentirás ou não trairás. Eles também incluem o respeito pelos pais, professores e outros em autoridade, além de regras básicas de cortesia que não são legisladas, mas passadas de pai para filho. Essas normas comportamentais – principalmente transmitidas pelo exemplo, boca a boca e ensinamentos religiosos – representam um corpo de sabedoria destilado ao longo dos tempos através da experiência, tentativa e erro. Tudo isso, infelizmente, tem sido deixado de lado, não raro sob a pecha de que se tratam de valores burgueses.

A importância desses valores, construídos e sedimentados ao longo de milênios, como forma de regular o comportamento humano, é que fazem as pessoas se comportam de forma decente, mesmo quando ninguém está olhando. As leis nunca poderão substituir essas restrições de conduta pessoal numa sociedade que se quer civilizada, simplesmente porque jamais haverá policiais suficientes para vigiar todo mundo o tempo todo. Na melhor das hipóteses, a polícia e o judiciário são as nossas últimas linhas de defesa.

Além de facilitar enormemente a convívio social, talvez o maior benefício do exercício contínuo e consistente dos valores formadores da ética tradicional talvez seja a emergência do que Alain Peyrefitte chamou de “sociedade de confiança”.

Segundo Peyrefitte, “o elo social mais forte e mais fecundo é aquele que tem por base a confiança recíproca – entre um homem e uma mulher, entre os pais e seus filhos, entre o chefe e os homens que ele conduz, entre cidadãos de uma mesma pátria, entre o doente e seu médico, entre os alunos e o professor, entre um devedor e um credor, entre o empresário e seus funcionários – enquanto que, inversamente, a desconfiança esteriliza.”

“A sociedade de desconfiança“, prossegue Peyrefitte, “é uma sociedade temerosa, ganha-perde: uma sociedade na qual a vida em comum é um jogo de soma zero ou até negativo (“se tu ganhas, eu perco”); É uma sociedade propícia à luta de classes, à inveja social, ao fechamento, à agressividade, à vigilância mútua. A sociedade de confiança é uma sociedade [sempre] em expansão, ganha-ganha…; Uma sociedade de solidariedade, de projeto comum, de abertura, de intercâmbio, de comunicação.”

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João Luiz Mauad

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

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