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“Ou Ficar a Pátria Livre”: uma lufada de bom senso

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A luta de Roberto Motta tem sido relativamente notória no Rio de Janeiro. Engenheiro, um dos fundadores do Partido Novo por aqui e agora membro da corrente renovadora do Partido Social Liberal, o Livres, Motta tem sido uma liderança genuinamente democrática, enaltecendo aqueles que somam forças ao propósito de um Brasil mais próspero e livre. Seu livro Ou Ficar a Pátria Livre – Ideias para o bom combate contra pilantras, tiranos e populistas e o monopólio ideológico da virtude é uma excelente inclusão à lista dos esforços que vem envidando por essa causa.

Carioca como eu, Motta, no final do livro – em uma seção intitulada Lições, uma breve coletânea de comentários sobre assuntos gerais -, declara seu amor ao Rio de Janeiro. “Viver no Rio não é fácil, mas é absolutamente necessário”, ele sintetiza. Todos gostaríamos, entretanto, que não fosse tão difícil assim. Nem o Rio, nem o Brasil. É no interesse de tentar mudar isso que o autor articula a primeira e maior parte do livro, debatendo diversos temas que dizem respeito de maneira muito direta à realidade nacional. O objetivo do trabalho é o mesmo que o de Motta em todas as atividades a que se lança, anunciado desde a epígrafe: “transformar o Brasil de um país pobre em um país rico e de uma sociedade refém do Estado em uma sociedade independente e autoconfiante”.

A obra é resultado da experiência contrastante de Motta ao viver por algum tempo nos Estados Unidos, identificando o impacto das diferenças culturais sobre o desenvolvimento social e econômico. “Nossas vidas precisam ser controladas nos mínimos detalhes e precisamos de permissões para tudo. A metade de tudo o que ganhamos com nosso trabalho é retirada de nós sob a forma de impostos para pagar o exército de burocratas que precisa fiscalizar, certificar, aprovar, carimbar e autenticar tudo o que fazemos. Esse exército de burocratas é também conhecido como Estado. Seu peso em nossas costas torna a vida mais pobre e insegura. E quanto mais pobre e inseguro fica o país, mais somos convencidos de que a solução é o Estado. Esse é o poder das ideias”, Motta resume brilhantemente.

A mudança dessa realidade, concordamos com ele, passa pela reforma das mentalidades, em uma direção mais sensata e que nos permita transcender os nossos vícios. O que ele então se põe a fazer é uma exposição eminentemente objetiva do que está errado e do que é preciso para alterar isso. O estilo com que Motta expõe seus pontos tem muitos méritos particulares. Um deles é a clareza da sua linguagem. Motta não é absolutamente nenhum despreparado ou inculto; ele escreve muito bem e confessa o tempo inteiro ser um leitor inveterado. Porém, é engenheiro, o que certamente lhe faculta um notável senso prático. Mais do que respaldado em bibliografias, o livro de Motta fala a partir da vida.

Ele se comunica com o brasileiro a partir da sua experiência, o que certamente trará empatia e identificação. Quem não seria capaz de partilhar de sua tristeza, por exemplo, quando, diante da suntuosidade das Olimpíadas sendo sediadas no Rio, esbarra, junto a seu filho, com um casal catando lixo, que lhe pede uma esmola? Uma grande festa que deixou o enorme legado de “elefantes brancos”, pairando sobre a dura realidade da pobreza – o que é diferente, como Motta deixa bem claro, de lamentar a “desigualdade”. Antes uma desigualdade pujante em um país de liberdade econômica e vitalidade empregatícia que a igualdade nas miseráveis “utopias” socialistas…

O resumo de sua explanação sobre problemas como os da educação, da economia, da dinâmica operacional do poder e dos privilégios das castas burocráticas é a consciência de que “a única receita sustentável para acabar com a pobreza é o desenvolvimento econômico e a liberdade”. Dedica uma análise ao suposto “socialismo escandinavo”, demonstrando que foi essa liberdade econômica que propiciou as qualidades sociais daquela região do mundo, e não o “Estado de bem-estar social”. Entretanto, certamente o tema em que Motta mais se destaca, tanto no livro quanto em sua atuação cotidiana, é a questão do crime, envolvendo legislação penal e segurança pública.

Seu livro é também um testemunho de que todos os nossos outros problemas graves acabam sendo menos urgentes que o cenário dantesco dos sessenta mil homicídios anuais. Defende, sem medo da patrulha do politicamente correto, que é preciso colapsar a impunidade e isso passa por não vitimizar o criminoso; que o sistema de prescrição de crimes brasileiro está repleto de abjeções; que a polícia é mal paga e mal equipada; que o Brasil tem uma população carcerária compatível com sua extensão territorial, não sendo jamais a solução para o problema do crime “prender menos”, como se um estranho e falso utilitarismo matemático justificasse ignorar as infrações e tornar o país uma terra (ainda mais) sem lei; que a política de desarmamento é uma comprovada fraude. Um amontoado de verdades evidentes, muitas cuja veracidade é sentida na pele pelo brasileiro comum no seu dia-a-dia, mas que os amantes de adocicadas ilusões preferem ignorar.

Temos nossas discordâncias; Motta, por exemplo, diz que o “sentimento de pertencimento a um projeto histórico” dos americanos se reflete na “adoração à Constituição, nas narrativas dos feitos dos pais da independência americana, como George Washington e Thomas Jefferson”, figuras que, ele pontua, “até onde sei, não têm similar em nosso país”. Quem lê o que escrevo sabe que sempre insisto em pontuar as grandes referências nacionais, tais como José Bonifácio, um “pai-fundador” com qualidades, sob certos aspectos, até superiores às dos nomes americanos mencionados.

O que prejudica nossa conexão com essas referências, nossa sintonia com certo nível de autoestima e espírito público, é o peso agudo do patrimonialismo oligárquico e, mais tardiamente, dos torpedos das esquerdas contra a memória de tudo o que nos engrandece e fortalece. As receitas de Motta são precisas quanto ao que é preciso fazer para que essa história mude.

É um livro que qualquer brasileiro pode ler – e, com sua verdadeira lufada de bom senso, certamente o fará perceber, talvez de uma maneira mais coerente e organizada do que terá logrado êxito em sistematizar sozinho, tudo aquilo que ele sente que está errado à sua volta. Internalizando essas lições, talvez, com o tempo, possamos, tal como o país obteve sua emancipação política no século XIX, nos emancipar das mediocridades a que ainda nos vemos aprisionados.

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Lucas Berlanza

Lucas Berlanza

Jornalista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), colunista e presidente do Instituto Liberal, membro refundador da Sociedade Tocqueville, sócio honorário do Instituto Libercracia, fundador e ex-editor do site Boletim da Liberdade e autor, co-autor e/ou organizador de 10 livros.

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