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O que se vê e o que não se vê: o efeito cobra

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Na obra O que se vê e o que não se vê, o economista e filósofo francês Frédéric Bastiat crítica análises superficiais focadas no curto prazo em detrimento do longo prazo. Isso porque o impacto de determinadas medidas poderia parecer positivo em um primeiro momento, mas torna-se negativo e até agrava o panorama observado inicialmente.

Na economia, esse fenômeno é frequentemente chamado de efeito cobra, referindo-se a consequências não-intencionais diante de medidas econômicas e políticas.

A origem do efeito cobra

O termo foi cunhado em 2001 pelo economista alemão Horst Siebert, remetendo a uma história da Índia britânica. O governo estava preocupado com o número de cobras venenosas em Nova Delhi, então ofereceu um incentivo a fim de que a população local matasse cobras e entregassem às autoridades. Embora, a princípio, um grande número de cobras tenha sido morto de olho na recompensa, a população de cobras aumentou em um segundo momento. Isso porque os habitantes perceberam uma oportunidade lucrativa ao procriar cobras para abate e entregar ao governo.

Quando as autoridades perceberam, o programa de recompensas foi desfeito, contudo quem tinha decidido criar cobras as soltou na rua por elas não valerem mais nada. Por fim, houve um aumento da população de cobras, e a política pública formatada acabou agravando o problema.

Outro episódio ocorreu no Vietnã sob domínio francês. As autoridades criaram um programa de recompensas baseado em ratos mortos, mas a verificação para o pagamento era condicionada pela apresentação das caudas dos mamíferos.

Diante dos incentivos perversos, o governo francês observou um aumento de ratos sem cauda, pois os apanhadores capturavam os ratos, retiravam a cauda e os devolviam à natureza a fim de eles procriarem e haver maior disponibilidade de ratos.

Um exemplo atual de efeito cobra

Um exemplo de efeito cobra ocorreu em Berlim. Em 2020, foi instituída uma política de congelamento do preços dos aluguéis na capital alemã, que passaram a ser fixados em relação ao preço de 2019. A política foi inicialmente bastante popular, haja vista que 80% da população local vivia de aluguel.

Contudo, em um ano, a oferta de imóveis disponíveis para serem alugados na cidade caiu 77%, pois a maioria dos proprietários decidiu parar de ofertar em valores aquém do que consideravam economicamente vantajoso.

Coube ao Tribunal Constitucional Federal, a corte suprema do país, decidir pela inconstitucionalidade da legislação por violação ao princípio da livre iniciativa.

O efeito cobra é uma lição econômica e política de humildade. Antes de qualquer tipo de intervenção governamental, é preciso muito cuidado para que o remédio apregoado não se mostre pior do que a doença.

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Luan Sperandio

Luan Sperandio

Analista político, colunista de Folha Business. Foi eleito Top Global Leader do Students for Liberty em 2017 e é associado do Instituto Líderes do Amanhã. É ainda Diretor de Operações da Rede Liberdade, Conselheiro da Ranking dos Políticos e Conselheiro Consultivo do Instituto Liberal.

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