O populismo corrói a produtividade e os méritos

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Há venenos que se disfarçam de remédio, e nenhum é tão sedutor quanto o populismo.

Essa é a essência de um dos mais nocivos males infiltrados na estrutura econômica e social de uma nação. Sua maior perversidade está exatamente na dissonância entre o discurso e o resultado. Propaga-se como redentor dos pobres, quando, na verdade, perpetua sua condição. O aumento do salário mínimo – bandeira preferida dos populistas – é um exemplo claro dessa perversidade embalada em retórica moralista.

Sob o pretexto de promover justiça social, esse tipo de intervenção ignora o funcionamento real dos mercados de trabalho. Ao impor artificialmente um piso salarial, o Estado obriga o setor produtivo a arcar com custos que, inevitavelmente, serão repassados de alguma forma. Ou se demite, ou se deixa de contratar, ou se transfere esse ônus aos preços dos bens e serviços. O corolário é conhecido. A inflação volta a corroer justamente o poder de compra dos mais pobres, ou seja, aqueles que os populistas juram proteger.

Mais grave ainda é o impacto psicológico e econômico sobre a classe média produtiva, sobre os profissionais que investiram anos em formação, em capacitação, em especialização.

São justamente esses que sustentam o crescimento real de uma economia: médicos, engenheiros, professores, técnicos e outros profissionais mais qualificados. Estes são esbofeteados ao verem seus rendimentos achatados em direção ao piso. A mensagem do Estado é cristalina: não vale a pena investir em si mesmo. A meritocracia é vilipendiada, e a produtividade – que é, de fato, o motor do desenvolvimento – estagna. A consequência lógica é uma sociedade em que o esforço deixa de ser recompensado, e o resultado, nivelado por baixo.

É fácil para políticos populistas, aqueles que não produzem, não empregam, não enfrentam o risco nem arcam com as consequências de suas políticas, decretarem aumentos salariais com uma canetada. Afinal, não parece um gasto direto do Estado. Não exige dotação orçamentária nem aparece nas rubricas da Fazenda. É o tipo de “bondade” barata que rende aplausos em discursos e votos nas urnas ao custo do suor alheio. O que não se vê, como diria Frédéric Bastiat, é o emprego que deixa de ser criado, o pequeno empreendedor que desiste, o salário que poderia ser maior se não fosse o excesso de encargos, tributos e coerções.

Pior ainda é o efeito simbólico. Quando um atendente de bar, por exemplo, começa a ganhar próximo de um professor, ou quando o salário mínimo avança sobre o salário médio, o pacto civilizatório entra em colapso. Absolutamente, não por desprezo ao trabalho simples e honesto, mas porque isso representa o colapso da hierarquia natural baseada em mérito, esforço e produtividade. Isso, verdadeiramente, mina a ambição, desestimula o progresso e corrói a base da inovação.

Em muitos países, como a Espanha no início da década passada, o aumento artificial do salário mínimo levou a uma explosão do desemprego entre os jovens e à informalidade generalizada. Notadamente, a mesma trilha que tantos governos latino-americanos já percorreram sob o manto da “bondosa justiça social”.

Como alertava Friedrich Hayek, “a justiça social é uma miragem” e, muitas vezes, um pretexto conveniente para ampliar o poder do Estado à custa da liberdade individual. O que se vende como virtude moral, frequentemente, é apenas o disfarce elegante do controle.

No fim das contas, a obsessão por igualdade é uma fraude moral. Ela ignora o fato de que as sociedades mais livres, mais prósperas e mais justas são aquelas que protegem a liberdade individual, o direito de propriedade, a livre contratação e o mérito. A igualdade imposta, sobretudo por mecanismos artificiais como pisos salariais ou aumentos de impostos “em nome da justiça”, gera o oposto do prometido – de maneira inexorável, desemprego, informalidade, estagnação e ressentimento.

O populismo, aliado à ignorância econômica, faz abdicar-se das alavancas do crescimento econômico, dependente de um ambiente de negócios com impostos mais baixos, com menor regulação e, portanto, com maior grau de liberdade econômica.

É preciso conter e expor essa farsa. O populismo é, acima de tudo, uma forma de corrupção intelectual e moral. Ele promete liberdade, mas entrega dependência; promete justiça, mas distribui miséria. Enquanto não houver coragem para denunciar suas engrenagens e desmontar sua retórica, seguiremos sacrificando o futuro dos que produzem no altar da demagogia de quem apenas promete – com o dinheiro dos pagadores de impostos. No teatro populista, os pobres continuam pobres, os produtivos são punidos, e o único salário que sobe sem teto é o da ilusão.

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Alex Pipkin

Alex Pipkin

Doutor em Administração - Marketing pelo PPGA/UFRGS. Mestre em Administração - Marketing pelo PPGA/UFRGS Pós-graduado em Comércio Internacional pela FGV/RJ; em Marketing pela ESPM/SP; e em Gestão Empresarial pela PUC/RS. Bacharel em Comércio Exterior e Adm. de Empresas pela Unisinos/RS. Professor em nível de Graduação e Pós-Graduação em diversas universidades. Foi Gerente de Supply Chain da Dana para América do Sul. Foi Diretor de Supply Chain do Grupo Vipal. Conselheiro do Concex, Conselho de Comércio Exterior da FIERGS. Foi Vice-Presidente da FEDERASUL/RS. É sócio da AP Consultores Associados e atua como consultor de empresas. Autor de livros e artigos na área de gestão e negócios.

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