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O matadouro de ovelhas e o acesso às armas

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Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido. João 10:14.

No fundo, os fiéis apenas estavam fazendo aquilo que o Cristo cravou há mais de 2 mil anos, eles seguiam a sua voz. Todavia, não sabiam que naquele desgraçado dia haveria um lobo em seu meio e que o som estridente dos disparos abafaria momentaneamente a voz do pastor. Através de uma aberração, de um ato sacrificial cruento e sem porquê, as ovelhas iriam ser levadas diante do criador em sua glória; não por um processo natural que inviolavelmente leva todos à morte, mas porque um assassino (Euler Fernando Grandolpho) desvairado resolveu por todos que aquele seria o último dia de suas existências.

O que dizer após a notícia de que um indivíduo entrou com duas pistolas numa Catedral, durante uma missa, e começou deliberadamente a matar fiéis? Sinceramente, eu não sei. Diante do horror gratuito só podemos reagir com espanto, silêncio e consternação. Tal situação, na maioria das vezes, não é algo esperado ou que possa ser evitado; afinal, frente à loucura singular de uma mente demoníaca, nem os melhores computadores e videntes podem fazer algo.

No entanto, assim como um urubu não resiste a um cadáver, da mesma maneira os ideólogos não resistem a caixões que podem servir de púlpitos. Não demorou muito para que o ato de Euler se tornasse uma ótima ocasião para ataques políticos a opositores. Grande parte da mídia — apoiando-se em supostos analistas — começou a atacar a proposta de Bolsonaro de flexibilizar a legislação sobre os armamentos.

Arguiram que o ato de Euler ter entrado armado numa Igreja e matado os fiéis era uma espécie de presságio do que aconteceria se a posse de armas fosse flexibilizada para o acesso amplo da população. No entanto, tal conclusão se pauta num futuro imaginativo, no “se acontecer”, “se liberar”; distraidamente se esquecem de dizer, todavia, que hoje as posses dessas armas são extremamente restritas segundo o código penal, mas que isso não impediu que Euler tivesse acesso a elas. Pelo contrário, fez com que SOMENTE Euler tivesse acesso a elas.

Tais questões surgem antes de mais nada da ontologia, e não da sociologia. O homem é mau, e como mau que é, se ele quiser matar, ele vai dar seu jeito, seja com uma pistola ou com uma faca de cortar pão. Homens matam Homens, e não armas matam Homens. Se restringir o acesso às armas pela população tivesse algum efeito real, não estaríamos numa situação em que traficantes têm lança-misseis e o seu João, barbeiro, roubado 20 vezes somente este ano, tão somente o seu imponente canivete. Se as escolhas de especialistas para as aporias nacionais tivessem funcionando, não teríamos uma população refém em suas casas, a maior crise de segurança pública da história, 64 mil assassinatos ao ano e uma das cidades mais belas do mundo sob o controle onipotente do tráfico.

A questão é simples: o desarmamento desarmou a população que segue as leis, não aqueles que as ignoram; o Estado tirou as armas das mãos de seus cidadãos, e não das mãos dos criminosos.

E eu sei que com tal conclusão, não me torno nenhum Sherlock Holmes da analise política e conjuntural do país, mas parece que ninguém mais fala do óbvio, apenas do “se”: “se liberarmos o acesso às armas o Brasil entrará numa crise de segurança sem fim”. Meu Deus, nós já estamos nessa crise, abra os olhos; nós já testamos a política socialista e fofinha do desarmamento e estamos morrendo através dela. Os bandidos estão matando mais aqui do que a guerra da Síria e várias outras guerras africanas juntas, mesmo assim tais especialistas acham que vai piorar se houver flexibilização na posse de armas legais; ora, que moral ostentam para tal julgamento? Não foram esses pareceres que nos trouxeram à gólgota na qual estamos? Não foram as suas doutas teorias universitárias sobre mundinhos perfeitos que estão fazendo do Brasil uma bela vala comum?

Não sei, devo ser muito cético, um verdadeiro ateu da política, pois eu simplesmente não consigo somar a possibilidade de que a restrição social às armas legais seja a solução numa nação onde, na biqueira mais próxima, você consegue comprar uma pistola com a numeração raspada; eu simplesmente não consigo — humanamente dizendo, no sentido evolutivo da sobrevivência do mais forte — entender como uma geração consegue pensar que diante de uma bandidagem forte e crescente, a solução seja se desarmar, deixando assim somente os seus algozes com tais recursos.

Também não acho que será flexibilizando a posse de armas que encontraremos um antídoto para o solapamento da segurança pública nacional, a segurança pública se faz somente através do Estado e dos estados; no entanto, com certeza não é impossibilitando a população de se defender que se chegará a mostradores mais adequados. Se é verdade que armar a população não resolve tudo, é também verdade que pode ao menos resolver a minha segurança e a de meus familiares; e isso o Estado não pode, não tem o culhão para me negar.

Os inteligentinhos das universidades, quando viram a barbaridade de Euler na Catedral de Campinas, não se perguntaram sobre a origem das suas armas e munições; se assim tivessem questionado, perceberiam que as armas eram frias e que mais uma vez — numa sucessão de falhas incontáveis — o desarmamento não funcionou. Quero dizer, não funcionou para as vítimas, para o Euler funcionou que é uma beleza; tudo o que ele mais queria é que nenhum cidadão alí tivesse uma arma para colocar fim em seu circo demoníaco.

Olhando com seus óculos pré-programados por suas ideologias, os especialistas não percebem que a tragédia que agora lhes serve como palanque político-ideológico era antes um diploma sangrento de mais um fracasso retumbante dessa política que só faz abrir a porta do galinheiro para as raposas. Aliás, se fossem sinceros, veriam que só não houve uma tragédia muito pior porque dois policiais armados chegaram a tempo e alvejaram o atirador, que ainda possuía 28 munições para gastar nas ovelhas.

A única conclusão que consigo tirar desse debate é que ele já está perdido, pelo menos em relação à mídia e seus adeptos pré-concebidos. Eles não querem outra possibilidade a não ser o desarmamento a todo custo; vivem num mundo cor-de-rosa onde os bandidos se comovem com as músicas de John Lennon.

Por fim, se tem algo que essa tragédia emite é o fedor de uma política complacente — diariamente complacente — com a bandidagem. Não há, simplesmente não há, outro resultado a se esperar quando existem leis que impossibilitam cidadãos de se defenderem enquanto facilitam o porte de armas irrestrito por bandidos. Ou há alguém aqui que contestará que bandidos possuem armas e cidadãos possuem tão somente fé? O problema é que agora estão matando até nas catedrais, mesmo durante as missas; ou seja, parece que até a fé estão tentando nos tirar.

Assim diz o Senhor meu Deus: Apascenta as ovelhas da matança. Zacarias 11:4.

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Pedro Henrique Alves

Pedro Henrique Alves

Filósofo, colunista do Instituto Liberal, ensaísta do Jornal Gazeta do Povo e editor na LVM Editora.

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