O FMI e as perspectivas econômicas globais
As últimas perspectivas econômicas globais do Fundo Monetário Internacional (FMI) foram publicadas no mês passado e, como todas as outras, têm muitos insights interessantes. O mais importante nesses dados é o reconhecimento de que a desaceleração econômica em muitos países no mundo aumentou drasticamente as estimativas de inflação do organismo.
Neste último relatório, projeta-se que o crescimento global será menor que o esperado. Se em janeiro o FMI acreditava que o crescimento econômico em 2022 e 2023 seria de 4,4% e 3,8% (respectivamente), agora a instituição mudou para 3,6% em ambos os anos. As estimativas de inflação também aumentaram. Agora o FMI coloca em 5,7% nas economias avançadas e 8,7% nos mercados emergentes – 1,8 e 2,8 pontos percentuais acima do projetado no início do ano.
Em outras palavras, o FMI destaca a realidade de baixo crescimento e inflação maciça. E por que um crescimento tão fraco e uma inflação tão alta? Bem, sem dúvida o FMI é um dos culpados. A entidade deu recomendações no passado (durante a pandemia) de gastar sem controle e monetizar a dívida com o crescimento da oferta de moeda do banco central. O problema é que, ao perceber que as estimativas anteriores eram otimistas demais, o FMI fez uma série de recomendações como aumentar impostos, porém, sem fazer uma única menção a gastos excessivos ou subsídios improdutivos.
Olhem que cenário absurdo: primeiro o FMI recomendou que os governos gastassem sem controle, prejudicando o crescimento potencial no processo e, agora que a dívida e a inflação aumentaram, quer que os mesmos governos aumentem seus impostos para mitigar o desastre criado por suas próprias recomendações. Quem vai pagar essa conta? Ponto para quem respondeu: os contribuintes e os setores produtivos.
Aqui no Brasil tendemos a acreditar que o Fundo é o suprassumo do neoliberalismo, mas a verdade é bem diferente. De acordo com Daniel LaCalle, os relatórios do FMI com frequência são extremamente otimistas em relação ao crescimento dos gastos governamentais. Isso porque “(…) o FMI muitas vezes subestima o mau investimento do governo e os incentivos perversos para inchar os orçamentos do governo com gastos correntes improdutivos.”
Embora o FMI tenha inúmeros estudos mostrando que o efeito multiplicador dos gastos do governo é muito baixo, e em economias endividadas é até negativo, o conselho continua recomendando gastos maciços em períodos de crise. E quando não funciona (como sempre) e a dívida sobe, eles sugerem aumentos maciços de impostos. A literatura econômica disponível mostra o fraco multiplicador fiscal dos gastos do governo e os próprios estudos do FMI concluem que os multiplicadores são negativos, principalmente no longo prazo (FMI, 2008) e quando a dívida pública é alta (Ghosh e Rahman, 2008).
A pergunta que fica é: por que o conselho do FMI recomenda algo que eles sabem que não funciona? Simples: a pressão dos políticos é enorme. O FMI parece ser indiretamente forçado a propor medidas pouco ortodoxas e contraproducentes para que ninguém possa acusá-lo de defender a austeridade, mesmo que as sugestões estejam fadadas ao fracasso. Não é novidade para ninguém que políticos gostam de gastar, e quem escolhe os membros do conselho são justamente os políticos.
Vale sempre lembrar: não existe gasto público grátis. Se o governo vai gastar ou se endividar, esses recursos terão que sair do bolso de alguém, e esse alguém é sempre o setor produtivo.
*Artigo publicado originalmente por Conrado Abreu na página Liberalismo Brazuca no Facebook.