O Brasil que não ousa – Como o Estado criou uma geração avessa ao risco — e à liberdade

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O Brasil deixou de ousar e, com isso, deixou de crescer. Quando uma sociedade troca a ambição pela segurança, ela enterra seu futuro de pé.

Quando Adam Smith, David Hume e Adam Ferguson começaram a decifrar a engrenagem da sociedade comercial, há mais de dois séculos, não estavam apenas preocupados com preços ou produção. Eles queriam entender algo maior: por que algumas sociedades prosperam, enquanto outras se resignam? A resposta estava nas pessoas.

No tipo de mentalidade que elas cultivam. Na cultura que estimula — ou sufoca — a coragem de tentar. O dinamismo econômico não nasce apenas de políticas públicas. Ele nasce de mentes livres, espíritos abertos, corações que não têm medo de errar. Prosperam as sociedades que celebram a tentativa, que toleram o fracasso, que tratam a inovação como virtude — não como ameaça.

Agora olhe para o Brasil. Aqui, o Estado virou protagonista da esperança. A sociedade, espectadora da própria estagnação. E o cidadão, personagem secundário de uma peça escrita por outros.Em vez de formar empreendedores, formamos dependentes. Em vez de ensinar a criar, ensinamos a esperar. Em vez de premiar o risco, canonizamos a cautela.

A estabilidade virou fetiche. O medo virou modelo. E o esforço, um risco grande demais para quem foi educado na lógica da tutela.

Vendem-nos a imagem de um Estado empático, mas entregam um Estado que aprisiona. Prometem cuidado — mas produzem submissão. Oferecem proteção — mas tomam a liberdade como garantia.

O populismo, de esquerda e de direita, transformou o assistencialismo em religião. E o cidadão, em devoto. E aqui está a mentira mais bem contada da história recente: a de que a salvação virá de cima.

O Estado se tornou como um bombeiro que acende o incêndio, distribui baldes d’água — e ainda exige aplausos. Ou como um domador que oferece ração e chama isso de segurança — enquanto prende a alma numa gaiola dourada. Mas nenhuma sociedade se ergue assim. A verdadeira prosperidade vem de baixo para cima.

Do chão da fábrica, do pequeno comércio, do estudante ousado, do trabalhador que se recusa a ser vítima. Do empresário que não quer favores — quer espaço, liberdade, e um ambiente de negócios favorável à criação, sem tributação escorchante. Do jovem que arrisca mesmo sem apoio — e que cria mesmo sem permissão.

O papel do Estado não é ocupar o palco. É abrir o caminho. A inovação exige asas, não cabresto. E a dignidade exige suor, não salvador.

É urgente libertar o Brasil da pedagogia da impotência. Criamos cidadãos demais que sabem esperar — e muito poucos que sabem ousar. Elegemos eleitores disciplinados — não protagonistas. Distribuímos direitos — mas não cultivamos responsabilidade. Entregamos facilidades — entretanto, não ensinamos grandeza.

Essa mudança não virá por decreto. Ela exige um novo tipo de liderança: mais que governantes, educadores da liberdade. Homens e mulheres capazes de incutir na população não promessas, mas princípios; não segurança, mas coragem; não conformismo, mas ambição moral.

Liderar, nesse novo tempo, é ensinar mesmo quando dói. É insistir na verdade mesmo quando ela é impopular. Porque só assim a verdade deixa de ser incômoda — e se torna indispensável.

Precisamos de líderes que não se esforcem para agradar, mas que se tornem tão necessários que o povo vá até eles. A relevância não vem de aplausos imediatos — vem do valor real daquilo que se constrói. O futuro não será conquistado por quem espera. Será construído por quem ousa — mesmo sem garantias.

Liberdade não é presente. É escolha. É coragem. É ruptura. É dizer: eu me recuso a ser menor do que posso ser. O Brasil que queremos começa onde termina o medo — e começa com a coragem de ser genuinamente livre. Mesmo diante de governos populistas que tentam restaurar a lógica ilógica do coletivismo, é preciso reafirmar com clareza: o povo não é o seu governo. Os brasileiros não precisam se confundir com aqueles que falam em seu nome enquanto os prendem em redes de dependência e submissão. A mudança que este país precisa não espera eleição. Ela começa agora, com cada cidadão se recusando a ser massa de manobra. O futuro não pertence ao Estado. Pertence à sociedade que decide despertá-lo.

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Alex Pipkin

Alex Pipkin

Doutor em Administração - Marketing pelo PPGA/UFRGS. Mestre em Administração - Marketing pelo PPGA/UFRGS Pós-graduado em Comércio Internacional pela FGV/RJ; em Marketing pela ESPM/SP; e em Gestão Empresarial pela PUC/RS. Bacharel em Comércio Exterior e Adm. de Empresas pela Unisinos/RS. Professor em nível de Graduação e Pós-Graduação em diversas universidades. Foi Gerente de Supply Chain da Dana para América do Sul. Foi Diretor de Supply Chain do Grupo Vipal. Conselheiro do Concex, Conselho de Comércio Exterior da FIERGS. Foi Vice-Presidente da FEDERASUL/RS. É sócio da AP Consultores Associados e atua como consultor de empresas. Autor de livros e artigos na área de gestão e negócios.

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