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Marielle não vive e temos que aceitar isso

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É pacífico o entendimento de que, diante de um caixão, não é hora de lavar a roupa suja e nem de destacar as faltas que aquele cadáver deixou para as memórias familiares e sociais. Defendo o recato de não usarmos um defunto como munição política, o momento do luto deveria ser sagrado, o respeito aos sentimentos de familiares e amigos que perderam um ente querido deveria se sobrepor a política. Como bem nos lembra o monte de sabedoria inglesa denominado G. K. Chesterton: “nem tudo é política”.

As ideias de Marielle Franco que habitavam seus círculos mais íntimos, as suas convicções e escolhas, e até mesmo os seus segredos, creio não serem objetos para uma análise mais detida de minha parte; deixemos tais matérias para um biógrafo e para aqueles que desfrutaram de sua companhia diariamente. O que sabemos, de maneira mais abrangente, é que ela fazia parte de um partido que não aceita distonias de seus membros; o PSOL é um partido de extremistas, de homens e mulheres que mantêm os semblantes intactos diante de assassinatos e tiranias que não os atingem. Afinal, o PSOL abertamente apoia o assassino confesso, Nicolás Maduro, aquele matou e mata centenas de concidadãos em nome do poder estatal; tudo isso enquanto, diuturnamente, — agora já com semblantes chorosos e revoltados — os psolistas perguntam: “quem matou Marielle”.

No mundo normal — onde assassinatos são tão somente assassinatos—, onde não fazemos escolhas de cadáveres para uma indignação político-partidária, a revolta que me atinge ao ter notícia de que milicianos mataram uma vereadora do PSOL e seu motorista, é exatamente a mesma que me atiça ao ficar sabendo que um ditador socialista está matando deliberadamente seu povo. No mundo dos sãos, Marielle e demais assassinados são igualmente vítimas de uma mesma ontologia criminosa.

Diante do luto acabamos perdendo a noção, por compadecimento e educação, das falhas morais e escolhas errôneas do defunto. Não tem problema, o luto o justifica; e é bom que assim seja. Mas passado o tempo do resguardo, devemos voltar a sobrepor em nós a razão frente às emoções. Marielle é de um partido extremista, que apoia ditadores sanguinários ao redor do mundo; e se é verdade o adágio: “diga-me com quem andas, que direi quem tu és”, então temos algumas coisas a falar sobre Marielle.

Julgando que o pensamento ideológico dogmático é uma característica comunista — a “democracia” que sai das bocas de psolistas é tão somente uma retórica, um guardanapo que é dispensado assim que o jantar acaba —, o PSOL de Marielle não permitiria que vozes democraticamente divergentes surgissem em seu meio. Quantos psolistas você conhece que estão condenando a ditadura na Venezuela? Marielle estava no pacote psolista de doutrinas e ideais dogmáticas. Em suma, o partido em que Marielle congregava é um partido de extremistas, criado para ser extrema-esquerda; e partidos assim não costumam guardar em seu meio pessoas prudentes e democráticas.

Quem apoia Nicolás Maduro não pode ser democrático!

Hoje, através da mídia esquerdista até o talo, através dos militantes e ativistas especialistas em gritarias e convencimentos pelo cansaço, “Marielle que vive” não é a mesma que brutalmente foi morta. Estão criando uma santa cuja motivação suprema para a canonização foi o repulsivo fato de alguém a ter matado. Sinceramente, que esse crime seja desvendado até os seus últimos átomos; não importando a quem se chegue, não importando quais nomes figurarão nos cadernos de crimes dos jornais, não importando a qual escalão atingirá.

Mas a verdade deve ser dita: a barbaridade, a atrocidade cometida contra alguém, não muda o caráter desse alguém; após minha morte, com certeza lembrarão — ainda que em silêncio — das minhas escolhas erradas, das minhas imoralidades conhecidas. O meu cadavérico corpo não mudará o meu erro passado, o luto de meus filhos e esposa não corrigirão as minhas condutas turvas. Nem a minha conduta, nem a de Marielle.

Marielle é o típico caso em que um repugnante crime criou um mito sobre uma pessoa. Tal pessoa deixou de ser quem realmente foi, com suas falhas humanas, escolhas erradas e ideias torpes, para se tornar aquilo que muitos querem que ela seja a todo custo: uma heroína inconteste.

Marielle é uma vítima, das mais de 60 mil que foram brutalmente assassinadas em 2018; respeito-a e verdadeiramente quero que encontrem aqueles que fizeram isso com ela e seu motorista; no entanto, me desculpem, não a transformarei em santa, em mártir, em heroína, em nada mais além daquilo que ela foi enquanto ainda estava viva.

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Pedro Henrique Alves

Pedro Henrique Alves

Filósofo, colunista do Instituto Liberal, ensaísta do Jornal Gazeta do Povo e editor na LVM Editora.

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