Execução: a Disciplina de Fazer Acontecer
Por que estratégias brilhantes fracassam e o que a Gestão Pública pode aprender? Há muita conversa sobre visão estratégica, inovação e planos grandiosos. Mas Larry Bossidy, o ex-CEO da Honeywell, e o consultor Ram Charan nos lembram de uma verdade menos glamourosa e talvez mais fundamental: a execução. As organizações não morrem por falta de boas ideias, argumentam os autores de Execução – A Disciplina de Fazer Acontecer, embora possam morrer pela incapacidade de concretizá-las.
Essa provocação, embora originalmente pensada para o mundo dos negócios, expande-se como uma reflexão valiosa também para a gestão pública. No Brasil, há uma abundância de planos. O desafio recorrente é o fosso entre o que se torna política e o que realmente é implementado — um “vazio de execução” que enfraquece tanto programas nacionais quanto políticas estaduais.
O que o livro ensina?
Três conceitos-chave: em Execução, Bossidy e Charan propõem três pilares para uma execução inteligente:
- Gestão prática – gestores que entendem as operações e se aprofundam nos detalhes.
- Vinculação entre estratégia e operação – objetivos realistas alinhados à capacidade da organização.
- Cultura de responsabilização – compromissos explícitos, métricas claras e monitoramento contínuo.
Segundo os autores, os líderes não podem apenas confiar na elaboração de planos ambiciosos. Eles devem estar presentes, ajustar objetivos ao campo real e garantir que cada compromisso assinado se converta em entrega.
Execução no setor público: exemplos de habitação
Programa Minha Casa Minha Vida
Nascido em 2009, o programa foi concebido com um propósito claro: reduzir o déficit habitacional com subsídios e financiamentos intermediados pelo governo federal, Caixa Econômica Federal e construtoras. No papel, era uma abordagem sólida.
Na prática, porém, surgiram gargalos:
- Coordenação complicada entre União, estados e municípios levou a atrasos e sobreposições;
- Problemas de qualidade nas unidades entregues, frequentemente localizadas longe das áreas urbanas;
- Ênfase excessiva na quantidade, com impacto social desigual;
- Descontinuidade política e mudanças governamentais que alteraram diretrizes e ritmo do programa.
Programas Estaduais de Habitação Popular (RS)
No Rio Grande do Sul, desde os anos 2000, sucessivos governos buscaram instituir programas estaduais de habitação para complementar o Minha Casa Minha Vida. A ideia era sólida: expandir a cobertura e adaptar o serviço às especificidades regionais.
No entanto, os resultados foram limitados:
- Número insuficiente de unidades habitacionais entregues;
- Dificuldades de articulação entre estado e municípios;
- Projetos frequentemente abandonados ou esvaziados com a mudança de gestão.
Federal vs. Estadual: uma lição essencial
O contraste entre o Minha Casa Minha Vida e os programas estaduais é evidente: em ambos os casos, havia direção estratégica, mas falhou a execução disciplinada.
Na esfera federal, os problemas foram a escala e a complexidade da coordenação nacional. No âmbito estadual, pesou a falta de continuidade e de estrutura adequada. Em comum, a ausência de uma cultura de execução disciplinada enfraqueceu a eficácia das políticas públicas.
No final, a vantagem competitiva das empresas e a legitimidade dos governos são duas faces da mesma moeda: ambas dependem da capacidade de entregar o prometido. No caso do governo, quando entrega, muitas vezes o faz a um custo altíssimo, sustentado pelos impostos pagos com o sacrifício dos cidadãos.
*Rozangela Allves é jornalista, empresária, empreendedora e especialista em desenvolvimento de negócios, Sommelière e pós graduada em marketing. Com uma sólida trajetória em comercialização de negócios, propostas comerciais e estratégias de vendas, ela atua conectando oportunidades e impulsionando empresas por meio de soluções estratégicas e networking qualificado. À frente de sua empresa, Mercatus Comunicacão, Rozangela desenvolve projetos em diversas frentes, incluindo consultoria em negócios, gestão de portais de notícias Melhor do Sul e iniciativas como o Brand Strategy, voltado para a promoção do turismo entre o Rio Grande do Sul, Goiás e São Paulo.