Estudantes Preguiçosos e o Problema da Transferência de Responsabilidade
Começo este texto dizendo que ele surgiu a partir de uma conversa, ou melhor, desabafo, de uma amiga que é professora de uma universidade importante. Nem seria preciso dizer que não vou citar o nome dela.
O que aconteceu foi o seguinte: essa amiga, muito boazinha com os estudantes, tem uma aluna preguiçosa. Após tirar algumas notas baixas – não só na disciplina que minha amiga ministra –, a menina surgiu com diversas desculpas. Ida ao médico, isso e aquilo.
Assim, a professora, querendo ajudá-la, permitiu que a “estudante” fizesse uma prova de recuperação. O resultado? Outra nota baixa. A aluna, dessa forma, implorou para que a professora concedesse mais uma prova de recuperação. Sabem o que aconteceu? Minha amiga aquiesceu, agendou a prova e foi à universidade na data e horário marcado. Porém, sua aluna não apareceu. Isso mesmo. A estudante simplesmente “deu o cano”. Em outras palavras, fugiu de novo da responsabilidade – a propósito, é bom lembrarmos que estamos tratando de “estudantes” universitários, dos quais se espera uma atitude minimamente adulta.
Depois desse episódio, a professora, que começou a receber mensagens de sua aluna alegando que precisava trabalhar e que por causa disso não tinha tempo para estudar, me perguntou: “Cara, o que eu faço?” E eu, que conhecia a história, respondi: “Reprove. Simples assim.”
A partir de tal resposta minha amiga replicou dizendo que se sentia mal em reprovar uma aluna. Entretanto, argumentei enfatizando que quem deveria se sentir desconfortável não era ela, que deu várias chances, mas aquela indolente que, além de não estudar, “deu um bolo” na professora sem dar qualquer satisfação. Ademais, disse também que estávamos diante de um absurdo, dado que preguiçosos como esta transferem a responsabilidade para o professor. E assim ele é vitimado por essa inversão sobre a qual muitas vezes não se dá conta. Minha amiga, neste momento, concordou prontamente.
Seu desabafo continuou: “Muitos professores estão optando por provas objetivas”, disse minha amiga. Isso porque, segundo ela, quando a prova é discursiva e, portanto, pode haver alguma margem de interpretação, quando os estudantes costumeiramente malandros tiram nota baixa, entram com recursos e apelam às autoridades universitárias etc. Dizem, entre outras coisas, que estão sendo “marcados” pelo professor.
Interessante é que, segundo minha amiga, os alunos que buscam essas alternativas são sempre os mesmos, isto é, aqueles que não são muito afeitos aos estudos. Coincidência? Impossível!
Este é sem dúvida o efeito colateral de uma sociedade que sofreu uma pancada na cabeça e entrou em coma. Se aquela aluna dizia ter que trabalhar, assim ocorre com diversos outros alunos da mesma sala; se todos ali precisam estudar, ela também precisa. Competência não se ganha com lamentações fake.
É preciso “correr atrás da máquina”, como se costuma dizer. Aliás, é preciso fazer mais do que isso. É fundamental que estudantes de um nível rasteiro como esses sejam picados pelo mosquitinho do orgulho próprio. Ninguém nasce sabendo, mas é preciso buscar. É preciso ter vitalidade, para lembrarmos-nos de Nietzsche.
São inúmeras as implicações negativas dessa malandragem e dessa fragilidade contemporânea. Uma delas diz respeito ao futuro mercado de trabalho permeado por indolentes tais como essa aluna. Afinal de contas, o que esperar desses estudantes que vivem de transferir responsabilidades? Como agirão eles diante de uma situação complicada quando inseridos no mercado de trabalho? Quais as alternativas que procurarão ao se depararem com desafios cujas soluções dependem única e exclusivamente deles? Correrão em auxílio de quem? A julgar pelo comportamento da geração mais mimada que já andou sobre a Terra, é possível que tudo termine em postagens ridículas no Facebook e no Instagram.