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Complexo de vira-latas ou jabuticabas? Qual o nosso problema?

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Tenho um amigo nacional-esquerdista que vive repetindo que o brasileiro sofre do complexo de vira-latas. Qualquer crítica que se faça ao país e, principalmente, ao governo de Pindorama é, não raro, considerada por ele um sintoma desse nosso complexo atávico. Segundo esse meu amigo, um dos problemas dos tupiniquins é não pensar grande.

Minhas discussões com ele são intermináveis, pois eu acho que o que falta ao brasileiro, principalmente aos membros de nossas elites, é justamente um pouco de humildade, o discernimento de que provavelmente experiências que não existem no mundo civilizado não deveriam ser tentadas aqui, sob pena de nos causar sérios prejuízos.

Por conta da alta estima elevada de nossas elites dirigentes é que criamos, por exemplo, uma série de jabuticabas tipicamente brasileiras, algumas das quais somos orgulhosos, ainda que, se repararmos bem, os prejuízos delas resultantes sejam claros.

Comecemos por Brasília, uma capital inteiramente nova e moderna, construída no meio do deserto, a peso de ouro, para alegria dos empreiteiros, uma experiência sem precedentes em outros lugares. Os prejuízos à sociedade tupiniquim provenientes da criação de Brasília ainda deverão ser objeto de muitas pesquisas históricas, mas sua influência sobre o patrimonialismo, a corrupção e a falta de fiscalização sobre a atividade governamental é inegável.

Quem já anda pela casa dos 50, há de se lembrar do sistema de TV a cores PAL-M, que “competia” com os tradicionais NTSC (americano) e PAL (europeu), e que impedia os consumidores de Pindorama de importar TVs, videocassetes e videogames fabricados no exterior.

Dessa mesma época, é a famigerada reserva mercado de informática, que pretendia incentivar o desenvolvimento tecnológico na área de informática, mas que acabou transformando o país num produtor de carroças eletrônicas, prejudicando a produtividade brasileira durante mais de 20 anos, sem qualquer resultado prático.

Mais recentemente, tivemos a brilhante ideia de desperdiçar uma montanha de dinheiro ao obrigar o país inteiro a migrar para a famigerada tomada de três pinos, da qual acho que nenhum brasileiro se orgulha, muito pelo contrário.

Do ponto de vista institucional, convivemos com outras tantas jabuticabas, muitas das quais muito amargas e retrógradas: Justiça do Trabalho, propaganda eleitoral “gratuita”, hora do Brasil e até mesmo um partido que reúne socialismo e liberdade no seu nome.

Na economia, convivemos durante muito tempo com a famigerada correção monetária, uma jabuticaba que conseguia amenizar os efeitos da inflação sobre o patrimônio e a renda dos ricos e remediados, enquanto reduzia o poder de compra dos mais pobres dia a dia. Por causa da correção monetária, o Brasil conviveu com a hiperinflação mais duradoura de que se tem notícia.

Na área trabalhista, inventamos a contribuição sindical compulsória, uma estrovenga que acabou por criar no país dezenas de milhares de sindicatos, sempre ávidos por abocanhar uma fatia do butim. Sem falar do 13º salário, um absurdo lógico que concede à empresa o direito de descontar 1/12 dos salários todo mês e devolver aos empregados, de uma só vez, em dezembro – sem qualquer correção.

Se o leitor fizer um esforço de memória, certamente haverá de lembrar-se de muitas outras jabuticabas tipicamente tupiniquins, que só servem para atormentar a nossa vida.

Não bastasse tanta estupidez, agora os nossos valorosos políticos estão prestes a produzir duas novas espécies de jabuticabas, desta vez na área eleitoral. Além da propaganda eleitoral “gratuita” e do fundo partidário, duas jabuticabas antigas que, juntas, só servem para roubar os pagadores de impostos e incentivar a criação de inúmeros partidos, Suas Excelências resolveram criar o tal Distritão, uma jabuticaba que só existe em meia dúzia de países sem qualquer relevância e cujo intuito é tornar personalíssimo o voto, perpetuando os mandatos dos políticos tradicionais e retirando o pouco que ainda resta de relevância dos partidos políticos.

Que me desculpe o meu amigo ufanista, mas o que está faltando por essas bandas é um pouco de complexo de vira-latas, ou a sabedoria intuitiva de quem não pretende reinventar a roda, e sabe que basta apenas imitar as experiências que deram certo no mundo civilizado.

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João Luiz Mauad

João Luiz Mauad

João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.

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