Censura e perseguição na universidade: o caso Ana Caroline Campagnolo
Só há dois tipos de pessoas que negam que há doutrinação em sala de aula: mentirosos e ingênuos. Não estou generalizando a doutrinação. Ela não acontece sempre e em todos os lugares, mas ocorre muitas vezes e em vários lugares. E isso já basta.
Digo isso porque atualmente corre um processo na justiça no qual Ana Caroline Campagnolo, professora de História, acusa, legitimamente, como veremos, a professora Marlene de Fáveri por discriminação e perseguição religiosa e ideológica na UDESC – Universidade do Estado de Santa Catarina – eis o vídeo completo da Audiência Pública onde Campagnolo expõe caso e os áudios nos quais podemos ouvir claramente a perseguição sofrida por ela. Não vou me atentar aos detalhes do processo, pois eles já são explicitados de forma pormenorizada pela própria Campagnolo neste vídeo. O que gostaria de fazer aqui, brevemente, é reforçar a ideia de que a doutrinação ideológica em sala de aula é inegável. Vamos aos fatos.
A professora Marlene de Fáveri, que seria a orientadora de Campagnolo, com o suporte de vários alunos, infringiu o Artigo 3º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (2005) que pode ser encontrado aqui.
Eis alguns incisos importantes que foram claramente violados:
II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber;
III – pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas;
IV – respeito à liberdade e apreço à tolerância;
Marlene de Fáveri desrespeita o inciso segundo sobre a “liberdade de aprender” quando diz: “nós estamos aqui porque nós nos matriculamos dentro de uma perspectiva de pensamento.” Mas como a própria Campagnolo fala, ela não se matriculou numa “perspectiva de pensamento”. Aliás, ninguém se matricula numa “perspectiva de pensamento”, mas num curso que, público e que tem uma professora “democrática” como Fáveri alega ser, deveria respeitar a opinião de todos os estudantes, ainda que “problematizando-as” – como adoram dizer.
O terceiro inciso é desprezado quando a professora fala sobre o curso. No que diz respeito às ideias feministas por ela defendidas, a professora afirma: “ou eu concordo ou não concordo; se eu não concordo eu não venho”. Cadê o pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas? Quer dizer que, se a estudante for contrária ao pensamento feminista, ela não pode se matricular num mestrado em História numa universidade pública? Todos os estudantes de Ciências Humanas sabem que ser opor ao feminismo, ainda que de forma velada, causa furor, pior ainda quando o sujeito ousa declarar-se adversário da causa.
No momento em que Campganolo diz ser conservadora, uma de suas colegas de sala de enuncia: “Eu não sei, de repente tem uma universidade em História que seja conservadora…” O absurdo da situação parece não ter limites. Em vez de a professora, que é servidora pública, rechaçar a fala da colega e mostrar que o ambiente universitário deve ser democrático, não faz nada. Depois, outra colega de Campagnolo assinala: “Só que a lógica, Ana, é que a tua lógica, a lógica dos conservadores é a lógica da opressão e a nossa não.” Que clichê! Que pobreza de espírito! Dito isso, pergunto: quem está oprimindo quem? Quem é a minoria oprimida naquela sala? É exatamente a conservadora que está sendo oprimida, afinal, a maioria, que é de esquerda, a oprime, o que solapa a própria militância advogada pelas feministas.
Em seguida uma colega admite: “…a gente não vai ver um conservador com bons olhos”. Claro que ninguém é obrigado a ver ninguém com bons olhos. Eu também não vejo com bons olhos essa turma sectária. Mas no ensino público é dever do professor e dos alunos respeitarem o inciso IV citado acima: “respeito à liberdade e apreço à tolerância;” Logo depois a professora lamenta: “triste que seja desse jeito e, evidentemente, tem muita gente que gosta do ridículo…” O que seria o ridículo aqui? Respondo: ridículo, para ela, é ser conservador, cristão e não gostar da militância feminista. Eu também acho ridícula a metafísica do Estado socialista ou o sacrifício da ciência no altar da paixão político-ideológica, mas as opiniões devem ser respeitadas. Não deveríamos nos comportar como pelotões de fuzilamentos inimigos, como disse João Pereira Coutinho semanas atrás.
É impossível negar os fatos acima, que são sustentados por provas. Mas existe algo a mais nisso tudo, e este algo a mais é o fato de que a educação, os estudantes e disputa pela verdadeira pluralidade está em curso, mesmo que alguns estudantes tenham que sofrer na pele as consequências de enfrentar a hegemonia da esquerda. Já passou da hora de a universidade fazer jus à sua própria concepção.
Outra coisa. Parece que a professora Marlene de Fáveri, bem como inúmeros professores, até hoje não compreenderam o significado da palavra “universidade”. Ou será que “universidade” também quer dizer algo como “pólo de militância política”? Vejamos:
u·ni·ver·si·da·de – substantivo feminino
- Universalidade.
- Conjunto de escolas de instrução superior onde se professam ciências ou letras.
- Os edifícios em que se professam.
- O corpo docente dessas escolas.
- O conjunto dos estudantes da Universidade.
- Academia.
É, de fato a palavra “universidade” nada tem a ver com militância, seja lá qual for. Por isso Ana Caroline Campagnolo tem razão. A professora opressora que confunde o ato de ensinar com sacerdócio ideológico e a sala de aula com a sede de um partido revolucionário a desrespeitou e, conforme Campagnolo aponta no processo, Fáveri a perseguiu religiosa e ideologicamente.