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Bolsonaro: um mal necessário?

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Talvez a maioria dos leitores do Instituto Liberal tenha votado em candidatos do PSDB desde 2002, ou votou, como eu, desde a última eleição presidencial, esta que (de novo) demonstrou como o Brasil era um fiasco, em matéria de política. De um lado, a presidente que não conseguia formar um silogismo simples e que jogou a economia e a estabilidade política do país no ralo; de outro, Aécio Neves, um tucano nato, membro da social democracia que bebe de Keynes e vê com brilho nos olhos um Capitalismo de Estado “brando”.

Claro, naquela altura do campeonato nós não tínhamos acesso a nenhum áudio, do Aécio, vazado e não sabíamos de seus envolvimentos e também não fazíamos ideia dos mandos e desmandos que ele tinha para com seus subalternos (claro, não conhecíamos o fato de que ele falava coisas como “manda matar” ao conversar com seus colegas sobre outras pessoas…). Tudo isso veio à tona graças à Lava Jato e a delações premiadas que possibilitaram investigações que nos deram de brinde um fato horrível: votamos em um sujeito assim.

E votamos sem medo, ainda que dopados de remédios para resistirmos ao cheiro do PSDB. Se você conseguiu dar um voto útil ao Aécio, foi porque, como reza a tradição política nacional há décadas, ele era o “menos pior” – e de fato, realmente era.

Perto de Dilma Rousseff, Aécio parecia um mestre; já Dilma, perto de Aécio, parecia uma aluna mal-educada e sem talento para fazer exercícios simples. Os planos econômicos e políticos do tucano eram superiores, seus contatos com o legislativo trariam um governo mais estável, o PSDB não tem tantos corruptos como o PT (a cúpula-mor do PSDB não mudou porque todos os seus caciques foram presos, só para constar)… Tudo isso inclinou uma grade parte da população a apoiar Aécio Neves e seu partido, ainda que ambos fossem indigestos. No entanto, isso tudo não pareceu ser notado dentro do PSDB, pois nas manifestações pró-impeachment, ao menos em um primeiro momento, o PSDB preferiu ficar afastado das ruas – mas tiveram o que mereceram: quando Aécio e outras cabeças do partido tentaram se alinhar com o povo, foram enxotados das ruas.

De fato, esse episódio nos faz lembrar que o PSDB é um partido que mal existe. Não possui militância, sua intelectualidade, isto é, a massa de intelectuais que o apoia, é inócua, ele não tem um discurso atraente para o povo – na verdade, seus políticos parecem ter um discurso de prefeitos, dentro de uma eleição para presidente (!) – e, portanto, não se identifica com o brasileiro.

Nós… Votamos nessa porcaria!

Tudo isso para impedir um esquema de poder vermelho e um oceano de corrupção que colocaria nosso país de joelhos; tudo isso para tentar travar uma onda de violência que custa vidas e mais vidas de inocentes no país – tudo isso para nada, já que Aécio perdeu a eleição e se mostrou um político, no mínimo, descartável, devido aos áudios vazados em investigações. A tática do “menos pior” falhou.

Mais eis que estamos em 2018, quatro anos após aquela eleição fatídica que renderia um impeachment da presidente mais incompetente da História das Repúblicas, e temos outro impasse: Jair Messias Bolsonaro contra o PT. Poderia ser outro que não o Haddad a disputar com o Bolsonaro, mas ainda seria o PT – e o PT é aquilo que restou de um partido outrora poderoso, isto é, o Lula. À direita, temos um capitão do exército brasileiro, um parlamentar, um homem polêmico que vem denunciando o avanço do progressismo e do comunismo no país. Ele é um candidato truculento, verdade. Bolsonaro tem problemas em entender a economia de um país e devemos, no mínimo, ter dúvidas básicas sobre a capacidade de gestão que possui, já que só foi parlamentar, até agora.

Em face ao PT, dadas essas características negativas, parece realmente que Jair Bolsonaro é um mal necessário – mas cabe a pergunta: seria Bolsonaro um mal?

Não acredito que Jair Bolsonaro seja o “menos pior” dos políticos que estão disputando a presidência. Creio, ao contrário, que ele é o melhor da disputa. Bolsonaro tem um senso de realidade que o aproxima do cidadão comum, senso este que quase nenhum dos candidatos possui. A maioria vive em uma bolha ideológica ou política que os impede de enxergar como a população realmente é: conservadora, que odeia a corrupção política, que tem medo de andar na rua; um povo que odeia o crime e por tabela odeia criminosos. Ao que parece, até agora, nenhum candidato sabe o que são exatamente essas coisas.

Palavras genéricas, viciadas e desgastadas como “diálogo”, “democracia”, “paz”, “tolerância”, etc., povoam o vocabulário político de alguns – isso quando uns desses alguns “chutam” essas palavras e dizem que destruirão a moral religiosa, calarão a mídia, limitarão o judiciário, pressionarão o Ministério Público, soltarão políticos condenados e “tomarão o poder”, como Ciro e Haddad.

Não adianta jogar “diálogo” no rosto do cidadão brasileiro quando ele está sendo assaltado na rua. Não adianta berrar “democracia” quando o PT tem como planos de partido o controle da imprensa e das forças armadas. Isso tudo é inútil e é de uma total loucura para o cenário político atual.

Quanto à economia, sejamos francos: Jair Bolsonaro só não possui mais liberalismo em seus discursos econômicos do que João Amoêdo. Ele diz em alto e bom som que irá tirar a carga dos ombros dos empresários, que diminuirá impostos e também a burocracia – para quem votava no PSDB até pouco tempo, devemos admitir que isso é um salto monstruoso. É certo que Amoedo tem um teor e um tom ainda mais liberal, contudo, sejamos francos, e o restante? Amoêdo tem as qualidades de Jair Bolsonaro?

Por falar em qualidades, claro, devemos apontar duas coisas: a) defeitos; b) riscos.

Como qualquer político, Bolsonaro tem defeitos, no mínimo, suspeitosos. Malgrado não tenha sido a favor de políticas declaradamente socialistas, não defendeu, como um parlamentar, o aumento do Estado apenas uma vez. Ele já votou em aumentar o salário de deputados, por exemplo, assim como outras medidas que em nada ajudariam a população, dando mais dinheiro e poder ao Estado. A sua falta de entendimento de como a economia funciona também é uma grande fraqueza: mesmo confiando esses temas aos seus ministros mais capacitados, não é um bom sinal possuir um presidente que tem tendências nacionalistas na economia; contudo, precisamos concordar em algo: se Bolsonaro tem esse problema, o tem de modo bem mais brando do que a maioria dos outros candidatos. Ao que tudo indica, seu nacionalismo é abafado por uma crítica liberal a que Bolsonaro dá ouvidos – ou acham que ele adotou um discurso bem mais liberal e chamou Paulo Guedes para compor um ministério porque não dá a mínima para um livre mercado?

E, também, como qualquer eleição política, a de Jair Bolsonaro apresenta riscos. No fundo, não sabemos como será seu governo – sequer sabemos se o congresso estará com ele, se vencer; não sabemos se o poder lhe subirá a cabeça, não sabemos como ele agirá no executivo, já que nunca esteve em um cargo assim; não sabemos como ele atuará em crises e como se portará com a população ou com alguma polêmica que difira das que ele já está acostumado. Neste caso, estamos em uma verdadeira penumbra, mas não em uma sombra.

Podemos nos decepcionar no futuro. Quem apoia Bolsonaro pode estar jogando com uma situação grave demais para cometermos esse erro, porém, não irei aqui repetir o clássico discurso de que “ou é isso, ou o PT”.

De fato, Jair Bolsonaro não pode ser reduzido a esta dicotomia desesperadora do nosso presente. É verdade que ou é Bolsonaro ou é o PT, ou seja, Lula, o comunismo, ou o bolivarianismo no Brasil, o caos…. no entanto, também é verdadeiro que ele apresenta qualidades que o validam como um bom candidato, se comparado aos demais, ao menos para o cenário brasileiro, claro.

Mas é entre riscos e tensões que a democracia funciona. Cabe a nós encararmos esse destino inevitável de qualquer regime democrático.

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Hiago Rebello

Hiago Rebello

Graduado e Mestrando em História pela Universidade Federal Fluminense.

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