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As prioridades da opinião pública em um país com 62 mil assassinatos ao ano

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Um dos primeiros parâmetros que permite julgar o grau de infecção ideológica de um país, se trata de observar as prioridades e como a mídia e a opinião pública trata certas temáticas, enquanto descartam ou marginalizam outras frontalmente mais urgentes e ultrajantes. Eu acredito piamente que não é possível falar em democracia se não houver uma imprensa livre, todavia, acredito com o mesmo afinco que uma mídia que se revela escrava de ideologias se torna tão censurada quanto qualquer outra sob regimes tirânicos; a diferença jaz somente em que a sua mordaça deixa de ser um fuzil ou faixas amarelas, e passa a ser o politicamente correto ou a patrulha de militâncias organizadas nos meios sociais. Em ambos os casos as redações passam a ser gulags do pensamento único, o “ministério da verdade” que Orwell brilhantemente simbolizou em 1984.

Aquele aparato que teria a missão de informar, passa a ser um instrumento vazio e amorfo que se adequa à primeira mão mais pesada que a conduza; hoje a imprensa nacional, em sua grande maioria, é uma serva submissa do escravagismo ideológico legado da linguagem acadêmica, do socialismo cultural e do globalismo.

Esta semana, por exemplo, fomos brindados pelo O Globo — como sempre — com uma matéria que claramente buscava construir um ambiente de demérito ou de ridicularização ao apontar que Paulo Guedes, possível futuro ministro da fazenda do Jair Bolsonaro e um dos economistas mais respeitados do país, era sócio de sites de relacionamentos. Como se tal fato obnubilasse capacidades e competências seja de quem quer que fosse. O fato é que grandes jornais — muitos deles consagrados — estão fazendo as vezes de panfletários militantes e de roteiristas de programa de fofocas. Transformando suas redações em verdadeiros centros de “verdades prontas”, elevando ao teto o parcialismo que já nem se trata mais de “opinião” editorial, mas de vias doutrinais que não podem ser questionadas.

Um jornal obviamente pode ter uma linha editorial definida — simplesmente não há mal nisso —, mas um jornal decididamente não deve ser escravo dessa linha quando ela se mostra pacóvia ou mentirosa. A linha primária de qualquer mídia honrada deve ser a igual honradez no trato da informação.

Outro fato marcante da semana é o caso dos brasileiros que fizeram um vídeo caçoando de uma russa. Em tal vídeo os brasileiros utilizam termos e palavras ofensivas que deixaram a muitos — inclusive a mim — verdadeiramente envergonhados; nenhum homem minimamente sensato fica bem ao ter a imagem de brasileiro tão porcamente representada por esses tolos que não ultrapassam a capacidade cognitiva de um chimpanzé.

Todavia, esta situação fez-se ressoar no mundo inteiro e, há mais de uma semana, está ganhando inúmeras reportagens, investigações e processos legais. O Ministério de Relações Exteriores e o Itamaraty já disseram estar a postos para acompanhar o caso. Assim que tive contato com o vídeo eu manifestei o meu desprezo por tais indivíduos, mostrando que tais atos ridículos não eram brincadeira, mas um bafo vertiginoso de nossa baixa cultura e idiotice visceral enquanto país inculto.

Mas aqui entre nós, tal gozação infeliz e idiota, de homens muito possivelmente bêbados, é matéria para tanto? Num país onde ostentamos a polícia que mais morre; na nação que constrói sobre montanhas de corpos o assustador mostrador de mais de 62 mil assassinatos ao ano; no país onde temos um grau assustador de queda econômica e manutenção da pobreza; além de sermos um dos países com o pior sistema educacional do mundo; nesse país o que nos assusta e nos faz erigir protestos, repulsa, matérias especiais em jornais e comoção nacional é a idiotice de um grupo de brasileiros bêbados? É sério?

Não se trata de ignorar a sandice desses tolos, mas de compreender e ter noção de proporcionalidade, senso de percepção da realidade e da gravidade de nossa condição sociopolítica mil vezes mais aterradora do que a vadiagem de homens alcoolizados. Estamos há quase duas semanas debatendo sobre o ato de gozação desses homens, e há décadas ignorando os mostradores crescentes de violência, emburrecimento em massa de nossa juventude, incultura e demais afogamentos sociais. Somos a plateia que aplaude o incêndio de Roma, enquanto de encoleriza com uma tocha acesa.

Que estes homens sofram punições se necessário for, mas já chega dessa histeria tola. Desse eterno agradar de militâncias e gritarias que as redações não se cansam de fazer. É preciso dizer aos donos, editores e redatores de jornais: sejam independentes, não precisam pagar pedágios ideológicos a nenhum grupo. Se um jornal não é livre, inclusive de correntes de ideias, a liberdade não passa de uma imbecilidade teórica.

No país onde o funk é denominado e tratado como “cultura”, reclamar de gozação de bêbados é quase hipocrisia. Não estou fazendo apologia a nada, pois sinceramente acho ambos: funk e machismo, verdadeiramente patetices dignas de desprezo. O que de fato quero dizer é o seguinte: parem de tratar resfriados como cânceres e cânceres como resfriados; temos coisas infinitamente mais importantes e sérias a tratar nesse país do que o idiotismo de ébrios.

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Pedro Henrique Alves

Pedro Henrique Alves

Filósofo, colunista do Instituto Liberal, ensaísta do Jornal Gazeta do Povo e editor na LVM Editora.

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