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Anunciaram uma tempestade, veio uma garoa

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A mídia e sua ânsia em transformar garoas em tempestades atacaram novamente. Quem ontem não clicou na reportagem da Veja e já esperava um quase-crime de Bolsonaro no caso da demissão de Bebianno? Mas nem tudo é culpa da mídia, apesar de eu não fazer questão nenhuma de não criticá-la, como disse recentemente ao Burke Instituto “[…] parece que o jornalismo, ou melhor, os jornalistas, acham que estão acima da carne seca; que qualquer ataque a suas análises e modus operandi, são necessariamente um ataque à democracia e à liberdade num contexto mais amplo”.

Mas nesse caso em questão, nem tudo cai na conta da mídia mesmo. O caso Bebianno é um caso de ressentimentos, imprudências e incompetências; os ressentimentos e imprudências ficam com Bebianno e a incompetência com Bolsonaro. A mídia só aproveitou as peripécias, cambalhotas e palhaçadas para anunciar o seu circo e vender seus ingressos; o que de maneira repugnante ela faz sempre, e nem por isso ela deixa de ser necessária e bem-vinda ao debate.

Pois bem, ouvi os áudios e li as transcrições da conversa entre o ex-ministro Bebianno e o Presidente Bolsonaro. Não há escândalo algum. Sim, isso mesmo; o que há ali é um claro desgaste nas relações entre Bolsonaro e Bebianno e não uma crise institucional ou governamental como a mídia apregoa e tende a vender nas suas bilheterias. O que de fato há no caso Bebianno é o seguinte:

  1. Bebianno queria ceder espaço institucional e midiático ao vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Globo, Paulo Tonet Camargo. Bolsonaro é abertamente contrária à Globo — e a Globo abertamente contrária ao Bolsonaro, alguém duvida dessas proposições? —, e o Presidente não quer contato com o Grupo Globo; é só isso. A atitude de Bebianno foi entendida como sendo uma afronta à clara posição de Bolsonaro diante da emissora algoz; Bebianno, com conhecimento do fato, escolheu acolher Paulo Tonet apesar das posições contrárias de seu chefe — que, por acaso, é o Presidente da República.
  2. Bebianno havia planejado uma viagem para a Amazônia, usando da autoridade de Bolsonaro, porém sem o seu consentimento. Inclusive, mandou chamar para a viagem o Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e Damares, Ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos. Um ato indevido, que estava além das suas autorizações ministeriais; aliás, é bom reafirmar, usurpando as prerrogativas do Presidente para fins próprios.
  3. Por fim, disse Bebianno à Folha de São Paulo que ele estava alinhado com o Presidente, deixando a entender que Bolsonaro estava ciente dos problemas com os laranjas e que esse lhe dava algum tipo de suporte prévio. O que era verdadeiramente mentira, ao que tudo indica, tanto que, assim que soube, Bolsonaro publicamente — através da TV Record — disse ter acionado a Polícia Federal para investigar o caso.

Bebianno claramente afrontou, usurpou prerrogativas e simulou um apoio do presidente em prol de seus interesses; interesses esses que podem ser criminosamente comprometedores ao acusado e àqueles que o defendam unilateralmente. Não à toa que — arrisco-me a dizer — o Ministro do Turismo (Marcelo Álvaro), também enroscado nos laranjais da vida, deve ser demitido em breve em nome de uma coerência de ações do Presidente.

Não há crime algum de Bolsonaro; ele demitiu seu funcionário por não confiar mais nele. E acabou, segue o jogo. Se isso aconteceu por “envenenamento” por parte de Carlos Bolsonaro, ou pelas situações puras e simples geradas pelas imprudências de Bebianno, deixo para o TV Fama e Casos de Família debaterem; fato é que não havia mais confiança entre ambos e isso, num governo federal, é uma justificativa mais que plausível para uma demissão.

No entanto, Bolsonaro mentiu ao dizer enfaticamente que não havia falado com Bebianno sobre a “crise dos laranjas”; ele não deu mais explicações ou adendos a essa afirmação, apenas afirmou que não tinha falado e ponto (ver a transcrição onde Bolsonaro fala abertamente desse episódio). Bolsonaro diz sobre o caso da candidata laranja em Pernambuco:

“Querem empurrar essa batata quente desse dinheiro lá pra candidata em Pernambuco pro meu colo, aí não vai dar certo. Aí é desonestidade e falta de caráter.

A Polícia Federal vai entrar no circuito, já entrou no circuito, pra apurar a verdade. Tudo bem, vamos ver daí… Quem deve paga, tá certo? Eu sei que você é dessa linha minha aí”.

Não adianta montar uma hermenêutica das palavras de Bolsonaro e Bebianno, buscar nas estrelinhas e nas raspas das vírgulas, um porquê escondido de Bolsonaro ter negado o diálogo sendo que de fato ele dialogou. Perguntado pelo repórter da Record: “Você chegou a falar com o ex-ministro a respeito disso”? A resposta de Bolsonaro foi clara: “Em nenhum momento conversei com ele”. Ora, como bem sabemos através dos áudios ontem revelados, sim, o Presidente conversou sim sobre vários assuntos e também sob o laranjal do PSL. Bolsonaro mentiu, e não adianta montar uma trupe de Bolsominions para atacar quem vê o óbvio.

Bolsonaro falou e falou consideravelmente bem para um hospitalizado, mas novamente, segue o jogo. Não foi o primeiro e nem será o último Presidente a mentir para a mídia. Se o crime de Bolsonaro foi mentir, pois bem, que atirem a primeira pedra. Isso verdadeiramente não dará em nada, não é sequer uma fumaça, quanto menos um incêndio; anunciaram uma tempestade e veio uma garoa.

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Pedro Henrique Alves

Pedro Henrique Alves

Filósofo, colunista do Instituto Liberal, ensaísta do Jornal Gazeta do Povo e editor na LVM Editora.

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