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A trajetória pendular de Ciro Gomes

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O presidenciável Ciro Gomes possui uma carreira política extensa. Sua família paterna milita na política cearense desde a proclamação da República. Isso o incentivou a entrar na vida pública, desde os tempos de movimento estudantil, época em que, em meio ao radicalismo da UNE, era acusado de ser ‘de direita’.

Seu primeiro cargo eletivo foi o de deputado estadual do Ceará, ainda nos anos 1980. Era daqueles que criticava o governador, independentemente dele ser de seu próprio partido – algo que se tornaria comum ao longo de sua trajetória. Eleito prefeito de Fortaleza em 1988, assumiu o cargo em meio ao completo caos, com funcionários sem receber e serviços públicos suspensos, incluindo a coleta de lixo. Com relativo sucesso diante desse cenário caótico, atingiu o melhor índice de popularidade entre os prefeitos das capitais do país e, em apenas 15 meses, deixou o cargo para assumir o governo do Ceará, sendo o primeiro governador eleito pelo PSDB.

À frente do estado, buscou o reequilíbrio das contas públicas, investimento em áreas sociais e incentivo à criação de micro e pequenas empresas no interior, sendo o governador mais bem avaliado do país em 1992. Nos últimos meses de 1994, foi convidado para ser Ministro da Fazenda do governo Itamar, marcando a posição dos tucanos. Na oportunidade, foi importante na diminuição da alíquota de importação de centenas de produtos.

Suas críticas ao governo de Fernando Henrique Cardoso, porém, e a meteórica carreira fizeram-no migrar de agremiação, indo para o PPS a fim de viabilizar a disputa para presidência da República. Em uma eleição atípica, em que não houve debates presidenciais, FHC conseguiu reeleger-se, e a Ciro restou a terceira colocação.

Passou a representar, ao final dos anos 1990, uma oposição mais moderada que o PT a FHC, partido que tentava articular o impeachment do tucano – o que o ex-governador denominou de “golpe”. Isso impediu a criação, tão desejada por Ciro, de um movimento supra-partidário de centro-esquerda que ensejasse uma candidatura única em 2002.

Diante do movimento infrutífero, Ciro percebeu que a baixa capilaridade do PPS pouco havia ajudado na eleição, quando, então, colocou como prioridade trabalhar pelo crescimento do partido nas eleições municipais de 2000 – eleição em que o partido aumentou em 9 vezes a quantidade de prefeituras e quadruplicou a quantidade de vereadores pelo país.  

Em 2002, ele vinha bem nas pesquisas com mais de 30%, mas, logo após o início do horário eleitoral, passou a despencar ao se envolver em diversas polêmicas desnecessárias com eleitores, banqueiros e jornalistas. Ademais, foi bastante atacado por ter entre seus apoiadores ex-correligionários de Fernando Collor – algo bem explorado pela campanha de José Serra. Ficou tão somente na 4ª colocação do certame. A despeito do convite para retornar ao ninho tucano, acabou por apoiar no segundo turno Lula, com quem acabou por se alinhar a partir daí, compondo a equipe ministerial.

Por desentendimentos políticos internos, deixou o PPS e migrou para o PSB, elegendo-se deputado federal em 2006. Após um início promissor, em que mostrou força ao ser peça central na disputa pela presidência da Câmara dos Deputados, teve atuação apagada, sem proposições legislativas e limitando-se a apoiar iniciativas do Governo Lula, como a manutenção da CPMF.

Com a derrocada de Dirceu no Mensalão, esperava ser o escolhido de Lula para sucedê-lo, a ponto de suspender suas críticas ao partido. Todavia, não conseguiu convencer nem seu próprio partido a lançá-lo candidato em virtude de seu baixo desempenho eleitoral, acabando, ao final, sendo preterido por Dilma Rousseff.

A partir daí, distanciou-se dos holofotes nacionais por alguns anos, até 2013, ano em que exerceu o cargo de secretário da Saúde do governo de seu irmão no Ceará, Cid Gomes.

Com a turbulência política e derrocada petista, entretanto, Ciro tentou, novamente, viabilizar-se eleitoralmente de olho no espólio de Lula. A forma de fazer isso, no entanto, compara-se à de um pêndulo. Ora Ciro afaga de um lado, ora vai do outro.

Assim, lançou mão de propostas desenvolvimentistas na economia, tem defendido o Estado como motor de desenvolvimento, além de mudanças no câmbio a fim de estimular a indústria. Um discurso muito mais à esquerda que nas eleições presidenciais anteriores que disputou.

Entrementes, suas falas são bastante antagônicas. Ora fala mal da PEC do Teto, ora defende responsabilidade fiscal citando números do Ceará, estado que possui relativo equilíbrio fiscal e em situação melhor que a maior parte dos estados brasileiros. Ciro critica a reforma da previdência em algumas plateias, mas em outras oportunidades reconhece que há um desequilíbrio nela. Ora fala que a reforma trabalhista de Temer é um “atentado aos trabalhadores”, ora fala que não é contra mudanças na CLT. Por outro lado, o destempero do presidenciável continua presente, com declarações infelizes e que de nada o ajudam a catapultar-se eleitoralmente.

Ciro Sonhava em ter Fernando Haddad como vice. Para isso, precisaria estar suficientemente bem nas pesquisas para convencer o partido a abrir mão de candidatura própria. Ao perceber que isso não era provável, moderou o discurso e foi para o outro lado do pêndulo. Tentou costurar acordo com o Centrão por intermédio de Rodrigo Maia de olho na coligação, tempo de televisão, dinheiro e votos mais ao centro, mas Geraldo Alckmin levou a melhor nos bastidores e atraiu para si aqueles apoios.

Sem sucesso, restou a Ciro apostar todas as suas fichas novamente invertendo o pêndulo e apostando mais uma vez na radicalização para a esquerda. Chegou  a declarar que a única chance de Lula sair da prisão seria caso ele fosse eleito. Em seguida se disse mal interpretado, como é de hábito. Essas contradições são comuns, pois Ciro muda sua mensagem a depender do público para o qual ele fala. A infeliz declaração se deu numa emissora local do Maranhão. Como no nordeste Lula “ainda é Rei”, de olho no espólio a afirmação faz sentido eleitoralmente; porém, como teve repercussão nacional, ele recuou em seguida.

Com um discurso pendular, Ciro Gomes corre agora o risco de morrer na praia novamente em seu sonho de presidir o país.

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Luan Sperandio

Luan Sperandio

Analista político, colunista de Folha Business. Foi eleito Top Global Leader do Students for Liberty em 2017 e é associado do Instituto Líderes do Amanhã. É ainda Diretor de Operações da Rede Liberdade, Conselheiro da Ranking dos Políticos e Conselheiro Consultivo do Instituto Liberal.

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