A cor da pele significa alguma coisa? Não. Entenda o motivo

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Se existe uma mancha no atual nacionalismo na Europa – se é que deixou de existir, em algum momento da História do nacionalismo europeu –, essa mancha é o racismo. O medo e o incômodo de ver uma Europa mais negra, ou certas regiões onde abundam pessoas que não sejam brancas, é real para muitos europeus; com o quadro geral da população em mudança e a cor de pele do europeu, afinal, tendo a potencialidade de não ser mais a mesma e variar drasticamente, em algumas décadas, muitos grupelhos se mostram irritados com essas mudanças “raciais”.

Esse “ranço”, essa indisposição de certos europeus de verem suas cidades cada vez menos brancas e mais negras reflete a mais pura amostra de ignorância e incapacidade de raciocínio do europeu preconceituoso.

A preocupação nacionalista para com a cor da pele, como se a quantidade de melanina no tecido determinasse alguma coisa concreta, não passa de pura fantasia. A cor que cada um possui não significa nada. Alguém já conheceu alguma pessoa que é guiada para alguma ideologia porque é branca? Porque negra ou mestiça?

A cor nada significa. Ela não determinará sua religião, seus valores e suas preferências políticas. O sistema econômico não é ditado pela cor de uma população, nem mesmo as tradições e instituições são dependentes da cor. A própria mentalidade, que pode determinar algo discriminatório para com a cor da pele, não depende da quantidade de melanina que temos em nossa derme – a mentalidade racista não é passiva para com as considerações raciais, mas ativa. É a cultura racista que guia ou cria uma discriminação racial dentro de uma sociedade, não a cor da pele per se. Doravante, mesmo em uma sociedade preconceituosa, a cor pela cor é sinônima de nada. A cultura, nesse caso, maldosa é a grande força que cria os canalhas. Não será a cor da pele de alguém ou de um povo que medirá sua virtude ou sua canalhice.

Portanto, a cor não é a base para nenhuma sociedade, nenhuma civilização. É a cultura. A cultura é que se refletirá nas ações, nos valores, nas crenças e nas concepções de certo e errado, falso e verdadeiro. Tenham uma cultura racista e terão os males do racismo.

Infelizmente, tal marca do nacionalismo europeu não se apaga fácil. Muitos se irritam em ver que certas partes de algumas cidades europeias parecem mais a África do que qualquer outra coisa, acreditam que se esse é um dos problemas principais da imigração exacerbada.

Para refutar esse receio e esse preconceito nacionalista, basta apenas um único exemplo. Não é preciso gastar páginas e páginas denunciando os males do racismo, suas incoerências e idiotices. Basta usar de um único indivíduo, um sujeito que deu tanto para a própria cultura europeia, como também para o mundo: Alexandre Dumas.

Alexandre Dumas foi filho de uma escrava e de um nobre francês. Dumas era negro, com traços e aparências comuns dos povos da África subsaariana. Mas isso não importa. Dumas ser ou não ser negro, é de uma importância insignificante, em si. O que importa é a obra desse homem.

Alexandre Dumas é o autor de certas obras que praticamente descrevem o imaginário literário, quando vamos falar de literatura clássica francesa: é pai dos Três Mosqueteiros, do Conde de Monte Cristo, da Rainha Margot, etc. A contribuição colossal que Dumas tem na história da literatura francesa é inestimável. Ao ler as desventuras e aventuras do gascão D’Artagnan e seus envolvimentos com o Cardeal de Richelieu, as volúpias de Margarida de Valois e a verdadeira saga de Edmond Dantès em busca de vingança, lemos os escritos de um negro, mas e daí? Não há um francês mais francês do que Alexandre Dumas. Um negro é o criador de todo um tesouro literário da França que não pode, nunca, ser subtraído da História da literatura francesa ou mundial.

Assim, Dumas era negro, e era um francês. As duas coisas não são dicotômicas. Podemos ver em seus romances o quanto amava a História de seu país, o quanto se embebia da cultura francesa e de suas mais altas qualidades. Ao ler Dumas, um pedaço da França (um pedaço quase onírico, mas totalmente maravilhoso) fica com o leitor – Dumas legou uma parte da França para o mundo inteiro. Gerações o leram e se encantaram com seus escritos, e ainda continuarão se encantando.

Não se é europeu por causa da cor de sua pele. A pele de Dumas e nada, é preciso repetir, são sinônimos – não era um demérito real, tampouco um mérito, ele ser negro. A grande contribuição que podemos tirar desse autor é a cultural, é o legado que ele absorveu, inovou e passou adiante.

Muito mais foi feito pela França e pela Europa nas páginas de Dumas do que vários outros indivíduos brancos. Diferente de certos franceses do século passado, Alexandre Dumas não queria destruir (desconstruir, como dizem atualmente) nada. Ele construiu, não desprezando, culpando ou diminuindo o passado da França. Se compararmos Alexandre Dumas com outros franceses que não eram negros, como Jacques Derrida e Simone de Beauvoir, veremos uma diferença brutal. Estes últimos são exemplos de sujeitos que quiseram (e conseguiram) vilipendiar totalmente as bases da cultura de seu país, solapando toda a razão e a beleza da França, respectivamente, para um feminismo pueril e um desconstrucionismo irracional até a raiz. Nada fizeram, apenas destruíram e espalharam seus males pelo mundo.

Se a França atual, ou mesmo o Reino Unido, a Espanha, a Alemanha, Dinamarca e Suécia, tivessem mais Homens do calibre de Alexandre Dumas, que todos os seus habitantes fossem negros, brancos, amarelos, rosas, vermelhos, verdes e transparentes! Muito mais vale um Dumas do que um Sartre para a cultura de um país.

Infelizmente, as cabeças ocas de certos nacionalistas ainda não entenderam isso.

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Hiago Rebello

Hiago Rebello

Graduado e Mestrando em História pela Universidade Federal Fluminense.

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