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7 razões pelas quais o capitalismo é odiado

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Uma das contradições mais instigantes na política é o ódio e desdém ao sistema capitalista, cuja utilidade social é pautada em um conjunto descentralizado de tomada de decisões baseada na propriedade privada. Assim, todas as mazelas da sociedade contemporânea são reiteradamente atribuídas aos negócios, o lucro é demonizado e a propriedade privada desprezada, mesmo que o mercado seja responsável pela redução da pobreza e desigualdade em níveis jamais vistos na história.

George Stigler argumentava que “o estudo da economia nos torna politicamente conservadores”. Para ele, conservador seria aquele indivíduo que deseja que a maior parte das atividades econômicas seja conduzida pela iniciativa privada, que acredita que abusos do poder privado serão, em geral, colocados em xeque e que incentivos à eficiência e ao progresso, com frequência, serão proporcionados pelas forças de competição[1].

Entrementes, a oposição a uma economia de mercado se alia ao fato de a surpreendente incapacidade de economistas influenciarem a opinião pública na direção de apreciar o funcionamento benéfico de um mercado competitivo[2], pavimentando uma mentalidade anticapitalista reproduzida no pensamento das massas, de acadêmicos, artistas e intelectuais.

A antipatia de muitos indivíduos para com o capitalismo foi objeto de uma investigação de Israel Kizner, em 1974. O aluno de Ludwig von Mises publicou um ensaio denominado“A feiura do mercado: por que o capitalismo é odiado, temido e desprezado?”[3] e elencou algumas razões pelas quais há esse paradoxo, que vale a pena analisarmos no intuito de termos um diagnóstico da situação.

1. A crença de que o ganho de uma pessoa deve corresponder à perda de outra

Quem é contra o comércio se recusa a compreender que os intercâmbios livres devem ser considerados benéficos para ambas as partes de um contrato. Ao considerar que uma parte sempre levará vantagem sobre a outra, pavimenta-se a base teórica para acusações de exploração dos vendedores por parte dos compradores. A partir disso, criam-se demandas por intervenções legais em trocas em que uma das partes recebe benefícios exagerados segundo uma arbitrária régua determinada pelo legislador.

Ademais, acreditar que o comércio entre duas partes se resume a um mero jogo de Banco Imobiliário[4] (em outras palavras, que economia “é um jogo de soma zero” em que um indivíduo precisa empobrecer para outro enriquecer) é um dos fundamentos para a condenação dos lucros em geral. Por conseguinte, desaprova-se todo o sistema de mercado, haja vista sua motivação ser o lucro.

Vale ressaltar que, segundo Kizner, a ética por trás dos lucros é justificada por se tratar da remuneração ao empreendedor quando este descobre uma oportunidade inexplorada e é bem sucedido ao satisfazer voluntariamente os consumidores daquele produto ou serviço[5].

A vida, como se sabe, não é um jogo de banco imobiliário, e o comércio enriquece a todos.

2. O ato de culpar “o garçom pela obesidade”

Não raramente o sistema de mercado é condenado pela eficiência e abundância que são oferecidas aos consumidores, com gostos dos quais o crítico anticapitalista não compartilha.

Condenam-se, assim, alguns negócios por produzirem bens tidos como “perigosos” ou de “má qualidade”. Isso reflete a incapacidade de compreender que nem sempre os consumidores estão propensos a sacrificar o que seria necessário para desfrutar de um nível mais elevado de qualidade e segurança (como, por exemplo, optar por adquirir uma moto para se deslocar em vez de um veículo mais seguro, porém mais caro).

Culpar o garçom pela obesidade foi um termo utilizado por Stigler no sentido de quem critica a propaganda e os esforços de venda em geral. A partir daí, surgem iniciativas como proibir saleiros na mesa de restaurantes, proibir o refil de refrigerantes e tributar produtos com mais açúcar.

3. O costume em negligenciar custos e alternativas

Eventualmente características indesejadas do panorama econômico são tidas como “evidências do fracasso do mercado”.

Salienta-se que alguns aspectos criticados encontrados no capitalismo, como a “alienação dos trabalhadores” ou a ansiedade e insegurança sentidas pelos participantes do mercado, seriam apreciadas de maneira distinta caso se entendesse que são custos inevitáveis da divisão do trabalho ou de um sistema social no qual a liberdade de entrada para os competidores é a principal força motriz.

4. O temor do surgimento de uma sociedade anárquica

Hayek dizia que um dos maiores problemas contemporâneos – que por sua vez acabava justificando maiores intervenções governamentais – era o entendimento social de que qualquer coisa que não fosse “conscientemente dirigida por completo” e tida como descentralizada era uma “prova de irracionalidade”. Assim, seria necessária uma “imediata substituição por um mecanismo elaborado deliberadamente”. Segundo ele,

Isso se dá pela incapacidade de entender como as ações independentes de muitos homens podem produzir totalidades coerentes, estruturas de relacionamentos persistentes que servem a importantes propósitos humanos, sem terem sido projetadas para tal finalidade[6].

Assim, os anticapitalistas assumem a equivocada posição de que uma sociedade não planejada de cima para baixo necessariamente gerará caos, por não compreenderem a cataláxia e o fenômeno de mercado.

5. O medo das consequências e da ganância

Os anticapitalistas acreditam que, uma vez que o mercado permite a indivíduos agirem com ganância ou egoísmo, o laissez-faire deve inevitavelmente tender a ser “sórdido, brutal e selvagem”.

É verdade que o mercado permite que seus players ajam de forma egoística.Todavia, não se pode negar a capacidade do processo de mercado para restringir a cobiça de seus participantes, de modo a servir aos desejos de outras partes.

Não à toa, tem-se tornado um fenômeno no mercado um modelo de negócios que se convencionou chamar de “capitalismo consciente”, que nada mais é que incorporar na gestão da empresa alguns aspectos tidos como construtivos pelo seu público-alvo (os consumidores), transmitindo, destarte, mais valor para seus stakeholders.

6. A prática de culpar o mercado pelas consequências da intervenção

É comum o fracasso analítico em atribuir ao mercado a culpa por uma intervenção anterior do estado. Intervenção é toda “norma restritiva imposta por um órgão governamental, que força os donos dos meios de produção e empresários a empregarem estes meios de uma forma diferente da que empregariam[7].

Na evolução do processo intervencionista, o fator ideológico exerce papel preponderante. Na presença de uma ideologia estatista, cada fracasso de uma intervenção gera demandas por novas intervenções. Assim, a culpa dos problemas nunca é a intervenção em si, mas a falha em aplicar a lei e o egoísmo dos agentes econômicos. Logo, exigem-se novas e mais rigorosas leis[8], tornando-se um ciclo.

Um exemplo clássico de crítica ao capitalismo é a ausência de competição provocada por barreiras à entrada impostas justamente pelo governo; ou, ainda, desajustes cíclicos gerados pela expansão monetária maciça provocada inicialmente pelo Estado.

Portanto, os críticos argumentam contra características indesejáveis que são atribuídas não ao distanciamento do mercado, mas ao funcionamento irrestrito do próprio processo de mercado.

7. A falácia do nirvana

Harold Demsetz cunhou essa expressão ao se referir que “aqueles que adotam o ponto de vista do Nirvana tentam descobrir discrepâncias entre o ideal e o real e, se tais discrepâncias são encontradas, deduzem que o real é ineficiente”[9].

Em outras palavras, muitos críticos do capitalismo julgam sua eficiência ou moralidade em comparação a alguma norma ideal que apresenta pouca relevância para os problemas reais.

Para melhorar um mundo imperfeito deve ocorrer proposições em relação a esse próprio mundo imperfeito. Ademais, é simplesmente impossível reformar sistemas inteiros em sua integralidade; segundo Kizner, mesmo que isso fosse possível, o custo pode tornar as imperfeições relativamente atraentes e eficientes.

Por conseguinte, critica-se o capitalismo com base em um mundo ideal sem apontar soluções viáveis como alternativas.

O que fazer então?

Kizner conclui em seu paper que apenas por meio do “ensino paciente e dos debates” será possível dissipar o ódio e a ignorância que cercam o livre mercado. Por conseguinte, é preciso fomentar think tanks a fim de se construir uma cultura que aprecie melhor uma sociedade de mercado.

[1]STIGLER, George. The Politics of Political Economists. Quarterly Journal of Economics, Volume 73, Novembro de 1959. 522-32.

[2] HUTT, W. H. Economists and the Public. A Study of competition and Opinion, London, 1936.

[3] No original, The ugly market: Why capitalism is hated, feared and despised, The Freeman, Volume 24, Número 12, Dezembro de 1974, 724-36.

[4] O nome em inglês do jogo de tabuleiro faz mais sentido com o objetivo dele: “Monopoly”.

[5] KIZNER, Israel. Competition and Entrepreneurship, Chicago, 1973.

[6] HAYEK, FA. The Counter-Revolution of Science. Glencoe: Free Press, 1955. 87.

[7] MISES, Ludwig von, A Critique of Interventionism, Ludwig von Mises Institute1929. 18

[8] BARBIERI, Fabio. A economia do intervencionismo. Instituto Mises Brasil, 2013: 103

[9] DEMSETZ, Harold. Information and Efficiency: Another Viewpoint. Journal of Law and Economics, Volume 12, número 1, Abril de1969, 1-22.

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Luan Sperandio

Luan Sperandio

Analista político, colunista de Folha Business. Foi eleito Top Global Leader do Students for Liberty em 2017 e é associado do Instituto Líderes do Amanhã. É ainda Diretor de Operações da Rede Liberdade, Conselheiro da Ranking dos Políticos e Conselheiro Consultivo do Instituto Liberal.

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