200 anos dos históricos Manifestos de Agosto
Há 200 anos, era publicado o segundo dos históricos Manifestos de Agosto. Em meu breve livro “Os Fundadores – O projeto dos responsáveis pelo nascimento do Brasil”, abordo esses registros importantes do processo de independência:
“As presenças de Gonçalves Ledo e José Bonifácio se fazem sentir em dois textos que, sob diversos aspectos, podem ser considerados os “testamentos político-teóricos” do movimento de Independência e cujas redações são atribuídas, respectivamente, aos dois personagens: os manifestos de 1º e 6 de agosto de 1822, ambos apresentados em nome do imperador D. Pedro. Ao mesmo tempo em que sugerem diferenças de pensamento, esses autênticos documentos fundantes do Brasil também legam à posteridade o que havia de unidade de vistas no projeto que nos deu origem.
(…) Nesse sentido, o Manifesto de 6 de Agosto, mais longo e atribuído ao velho Andrada, desfruta hoje, pelas lentes do presente histórico, de indiscutível vantagem, pois, por razões óbvias – Bonifácio queria o fim da escravidão –, não inclui a ameaça da libertação dos escravos entre os motivos para desafiar os portugueses, embora também sugira o uso desses escravos como braço armado contra seus senhores ao mencionar o exemplo da revolução no Haiti, como veremos mais adiante.
Esse segundo documento já difere do primeiro porque não se dirige aos próprios compatriotas, mas às outras nações. A ideia é explicar para os países amigos os motivos para assumir a posição de enfrentamento às Cortes, não explicar aos próprios brasileiros porque eles deveriam lutar.
(…) “Nenhum governo justo, nenhuma nação civilizada deixará de compreender que, privado o Brasil de um Poder Executivo, que extintos os Tribunais necessários – e obrigado a ir mendigar a Portugal através de delongas e perigos as graças e a justiça; que chamadas a Lisboa as sobras das rendas das suas províncias, que aniquilada a sua categoria de Reino e que dominado este pelas baionetas que de Portugal mandasse, só restava ao Brasil ser riscado para sempre do número das nações e povos livres, ficando outra vez reduzido ao antigo estado colonial e de comércio exclusivo”.”