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Política brasileira: lições e obviedades

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Política, como diria o lendário Magalhães Pinto, é como nuvem: você olha e ela está de um jeito, olha de novo e ela já mudou. Essa volatilidade pode ser explicada por uma série de razões que não vêm ao caso, mas os resultados das eleições municipais de 2020 dão a sensação de um novo quadro em comparação ao estabelecido em 2018.

A eleição de 2018 foi marcada pela ascensão da direita após um marasmo em todos os campos possíveis. Foi a vitória do outsider, da dita nova política e da cristalização do lavajatismo como bandeira eleitoral. O trunfo de Jair Bolsonaro na disputa pela presidência da República e a renovação recorde na Câmara Federal foram símbolos dessa transformação. Ao mesmo tempo, a derrota dos tarimbados Eunício Oliveira, Romero Jucá, Lindbergh Farias, Jorge Viana, Vanessa Grazziotin e da ex-presidente Dilma Rousseff em disputas para o Senado mostraram o apelo popular por novos tempos na política.

Naquela eleição, os partidos tradicionais foram castigados. MDB e PSDB perderam quase metade de suas bancadas na Câmara; PT e PP também sofreram perdas. Paralelamente, o PSL do presidente Bolsonaro despontou com um crescimento avassalador e o DEM obteve ganhos. Enquanto um foi o partido do mandatário da República, o outro obteve três ministérios em seu governo.

Não foi o que se viu nas últimas eleições municipais. As forças vitoriosas foram aquelas que corriqueiramente vencem nesse certame, especialmente o estamento burocrático, representado em partidos como MDB, PP e PSD. A volta ao cenário político de Eduardo Paes e o triunfo nas capitais de candidatos ligados aos atuais gestores mostram que a dita velha política soube se reinventar após o turbilhão da Lava Jato e das eleições de 2018.

Pode-se alegar que a pandemia ajudou graciosamente os donos do poder ao dar a cada um deles uma oportunidade de aumentar o seu poderio econômico – os escândalos de corrupção durante o período falam por si – e reafirmar isso nas urnas, mas isso não explica tudo. Há uma série de outros fatores que explicam o triunfo do estamento burocrático, e aqui estão eles:

O governo Bolsonaro foi o grande produto da onda de renovação na política que dominou as últimas eleições. Pela primeira vez na Nova República um candidato direitista foi eleito, e isso aconteceu na esteira da Lava Jato e no total descrédito da política perante o povo. Faltando pouco para o final do mandato, o saldo do governo é aquém do esperado. E o que foi esperado? A agenda vencedora das eleições: conservadorismo na pauta cultural e liberalismo econômico. Os resultados positivos não seriam mais do que consequências disso. Porém, o que se vê é um governo composto por alguns indivíduos que não estão comprometidos com essa agenda, o que influencia diretamente nisso. Com um desempenho fraco, a percepção da população não é das melhores, o que atrapalhou bastante as candidaturas direitistas – ou mesmo aquelas pautadas pelos ditames da nova política.

Mesmo com uma renovação histórica, o Congresso continuou com a imagem arranhada perante a população. As inúmeras tentativas de enterrar a Lava Jato e a cruzada do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) em sabotar inúmeros projetos e medidas provisórias para atingir o governo não passaram despercebidas pela população, que foi às ruas em diversas ocasiões para demonstrar sua insatisfação com o trabalho do parlamento. Muitas das velhas raposas da política brasileira foram varridas em 2018, mas o que veio no lugar não necessariamente foi melhor. Os deputados do PSL que se rebelaram contra o presidente Bolsonaro e abraçaram as narrativas mais estúpidas possíveis contra aqueles que os elegeram exemplificam bem a tragicomédia da nova política que já nasceu velha. Sem vislumbrar coisas melhores pelas alternativas recentes, o eleitorado votou conforme critérios de outras épocas – pois a renovação de 2018 não entregou o esperado.

A direita brasileira também está alijada, sem um partido organizado e sem uma identidade definida. Quando se fala de esquerda brasileira, fala-se de uma tradição histórica que começa no PCB e passa por PT e PSOL. Diversos ciclos e acontecimentos históricos passaram e lá estava presente a esquerda protagonizando eventos e impondo as suas narrativas. E a direita? O único partido direitista de destaque foi a UDN. A inexistência de uma agremiação política dificulta seriamente qualquer chance de sucesso eleitoral.

A internet ajudou formidavelmente a direita brasileira nos últimos anos. Foi a partir dela que o Foro de São Paulo – antes oculto e desconhecido – passou a ser tema de conversas de boteco e autores como Olavo de Carvalho, Rodrigo Constantino, Guilherme Fiúza, Flávio Gordon e tantos outros foram amplamente divulgados e conhecidos. Porém, a sua força não é tão grande como outrora, pois as tentativas de controlá-la para censurar os conservadores estão em pleno curso no país. O que resta como fonte de informação é a grande mídia, hoje uma força política controlada pela esquerda, que impõe uma visão de mundo amplamente desfavorável aos ideais direitistas. Enquanto a direita não se organizar e criar a sua própria grande mídia, será muito difícil concorrer contra seus adversários – e tipos como Bruno Covas terão sucesso eleitoral garantido.

Este ano teremos novas eleições. Que a direita brasileira aprenda com os erros e tire lições valiosas das urnas. E que não lute contra as obviedades.

Referências:

1.https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/10/com-reeleicao-abaixo-de-50-camara-tera-renovacao-recorde.shtml

2.https://epoca.globo.com/guilherme-amado/maia-oferece-oposicao-escolhe-cinco-mps-para-caducar-1-24380540

3.https://conexaopolitica.com.br/ultimas/coluna-censura-total-e-legalizada-na-internet-vem-ai/

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Carlos Junior

Carlos Junior

É jornalista. Colunista dos portais "Renova Mídia" e a "A Tocha". Estudioso profundo da história, da política e da formação nacional do Brasil, também escreve sobre política americana.

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