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Olha a cabeleira da Taís

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Aconteceu no “Vídeo Show”, programa da tevê Globo (aquela: fascista, comunista, centrista, direitista, esquerdista, financista, globalista – a depender das reviravoltas ideológicas ou gástricas da audiência).

Otaviano Costa entrevistava Taís Araújo. Lá pelas tantas, houve por bem perguntar à moça se o marido tinha, e quais seriam, preferências de penteado ou corte de cabelo para a mulher. Mal sabia ele que não se pergunta uma coisa terrível dessas para uma atriz de família.

Atrizes e atores hoje podem falar sobre todas as coisas tidas e havidas desde que o Criador separou terra e água, alto e baixo, céu e inferno: política, religião, sexo, terrorismo etc. Mas não se pode perguntar a uma atriz (ou a um ator) sua preferência, ou a preferência de seu distinto cônjuge (“companheiro”, no refinado jargão de nossa época), acerca de cortes de cabelo.

Eu bem queria baixar regra aqui em casa. Uso o que quiser! Não tomo nem banho se calhar! Na última vez que tentei, minha mulher fez pano de chão da minha camiseta preferida. Dezessete anos, viveu comigo (a camiseta). Quando reclamei, jogou o pano de chão fora. Achei melhor parar por aí, antes que ela não quisesse viver nem dezessete anos comigo (a mulher).

Mas a vida ordinária é tão diferente da vida de gente famosa. Taís Araújo encheu-se de dignidade, inflou-se de dignidade, ofereceu dignidade a quantos norte-coreanos houvesse, e respondeu:

Eu não sei, porque eu sempre me preocupei com o que eu gosto!

Minha nossa!, essa menina está pronta para a guerra. Não me recordo de coragem tamanha em cruzados e mouros, em guelfos e gibelinos, em gregos e troianos. Esperei pela manifestação do companheiro Lázaro Ramos. O companheiro não me decepcionou.

Não me decepcionou porque eu esperava mesmo pelo pior. Como um Lázaro às avessas, em vez de sair, voltou à tumba, e declarou às gentes:

O cabelo que eu gosto mais em Taís? Eu não tenho direito de dar essa opinião. A Taís bota o cabelo que ela quiser, sempre. Às vezes ela pergunta, mas é só para confirmar o que ela quer, e isso é que é bom. Qualquer cabelo tá maravilhoso, maravilhosa!

Tremores de terra foram sentidos na região onde atua o Boko Haram, amistoso grupo que sequestra mulheres, estupra mulheres, mas não as desrespeita com perguntas assim escandalosas. É preciso compostura.

Que atrizes e atores (notem que tomo o cuidado para dar preferência às mulheres, na frase) tenham a suscetibilidade ferida por perguntas tais é sinal inequívoco dos tempos. Que as curiosidades e as preferências entre mulheres e homens sejam motivo para manifestações histriônicas desse tipo, e que isso cause, como dizem, “polêmica”, é de fazer pensar. Minto: é de paralisar qualquer pensamento.

Imaginem se fosse o contrário. Perguntassem ao Lázaro Ramos se Taís Araújo teria alguma preferência sobre cortes de cabelo – e ele respondesse, não como um Lázaro redivivo para um Domingo de Ramos, mas como um altivo José Mayer:

Eu não sei, porque eu sempre me preocupei com o que eu gosto!

 

Hmmm.

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Gustavo Nogy

Gustavo Nogy

É escritor.

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