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O que esperar do Brasil pós-crise?

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fenixO Brasil vive uma crise econômica grave – ou melhor, gravíssima. A retração do PIB em 2015 deve ficar por volta de 2% e a maioria dos economistas acredita que em 2016 também teremos recessão. Provavelmente, só teremos crescimento a partir de 2017. A última vez que o Brasil teve dois anos seguidos de retração econômica foi na década de 1930. Será que isso é pouco? Bem, então some à estagnação econômica o problema da corrupção. O petrolão é sem dúvida o maior caso de corrupção da nossa história. O PT pode afirmar sem medo de errar que nunca antes na história desse país se roubou tanto. E para completar o quadro, temos também uma crise política, uma presidente pressionada por todos os lados que se transformou numa espécie de “rainha da Inglaterra”. Ou seja, tem uma função decorativa, mas não governa. Em meio a tantos fatos negativos, há algum motivo para estar otimista? Diferentemente da maioria dos brasileiros, creio que sim. Acredito que, como uma espécie de fênix, o Brasil vai renascer das cinzas. E acho que esse novo Brasil terá, no mínimo, uma vantagem em relação ao do passado. Esse novo Brasil será mais maduro do ponto de vista político.

Se sobreviver à crise, o PT sairá, sem dúvida, muito enfraquecido. As eleições para presidente em 2018 provavelmente serão disputadas por candidatos de dois partidos: PSDB e PMDB. O PT deve ficar de fora. Mas não é somente o PT que ficou desacreditado, é também toda a ideologia de esquerda que o partido vem pregando exaustivamente desde sua fundação, nos anos 1980.

Por que praticamente em toda América Latina – e mais especificamente no Brasil – esse sentimento anticapitalista está tão impregnado na mente das pessoas? Por que na América Latina o capitalismo é associado a tantas coisas ruins: pobreza, exploração, opressão, ganância, desigualdade e outras mais? Recentemente, até o papa Francisco entrou nessa discussão e disse que o capitalismo é uma “ditadura sutil” e que precisamos de uma “mudança de estruturas”.

Particularmente, acredito que essa aversão ao capitalismo tem relação com uma interpretação incorreta de nossa história. Explico melhor. O Brasil, pelo menos desde a Proclamação da República, foi governado por aristocracias rurais. O governo era usado para atender aos interesses de uma classe dominante e não aos interesses da nação. Esse capitalismo patrimonialista, ou capitalismo de Estado, ou como prefiram chamá-lo, existiu e existe, em certa medida, até hoje no Brasil. Porém essa promiscuidade entre o público e o privado nada tem a ver com os pressupostos do pensamento liberal clássico. Economistas liberais acreditam no capitalismo concorrencial e em um Estado mínimo que interfere na economia somente em situações bem específicas. Mas o PT conseguiu simplificar essa história toda. Por falta de conhecimento, ou simplesmente por motivos eleitoreiros, nunca procurou distinguir o capitalismo patrimonialista do concorrencial. O discurso sempre foi o mesmo. No capitalismo, existe de um lado uma classe dominante, chamada de burguesia, de capitalistas ou simplesmente de elite, e, de outro, os trabalhadores. O Brasil, desde o período colonial, foi governado pelas elites e para as elites. E essa característica inerente ao capitalismo somente vai mudar quando a classe trabalhadora chegar ao poder.

Pois bem, a classe trabalhadora chegou ao poder e essa grande transformação não aconteceu. Muito pelo contrário, os trabalhadores no poder rapidamente aprenderam a apreciar os bens de luxo produzidos pelo capitalismo, de ternos Giorgio Armani a viagens em jatinhos particulares. Petistas perceberam que o capitalismo não é tão mau assim, tudo depende da posição que o indivíduo ocupa na pirâmide da estrutura social. Os petistas aprenderam também a desviar recursos, superfaturar obras e outras coisinhas mais, que até então eram monopólio das elites. Isso me faz questionar se ainda existem comunistas autênticos no Brasil e no mundo. Nos anos 1920 e 1930, algumas pessoas acreditavam sinceramente que o socialismo era o caminho que levava ao paraíso na terra. No mundo moderno, poucas pessoas são assim tão ingênuas. Hoje, vejo muita demagogia, pessoas ávidas por usufruir dos mimos que o capitalismo pode oferecer e que utilizam essa retórica desgastada como simples meio de manipular eleitores incautos.

Diante desse quadro, a esquerda terá de reconstruir seu discurso, se quiser permanecer no jogo político. A velha pregação, nós contra eles, trabalhadores bonzinhos contra a elite gananciosa, não convence mais. Além disso, o problema da esquerda não é apenas de ordem moral e ideológica, é também uma questão de competência. O PT mostrou claramente que não tem um projeto de Brasil. Como reduzir a pobreza e as desigualdades de riqueza e renda? Através de programas assistencialistas? É somente isso que a esquerda tem a oferecer? Convenhamos, por mais que esses programas tenham melhorado a vida de algumas pessoas, tudo isso é muito pouco. Não se constrói uma grande nação simplesmente distribuindo bolsas. A esquerda terá de se reinventar e não creio que ela tenha essa capacidade.

Temos de considerar também que, apesar da crise, poderíamos estar numa situação muito pior. Quando a candidata Dilma Rousseff venceu as eleições de 2014, muitos economistas renomados acreditavam que ela iria fazer uma espécie de “aposta redobrada”. Ou seja, que ela iria insistir ainda mais na famigerada “nova matriz econômica”. Isso, felizmente não aconteceu. O instinto de sobrevivência da mulher sapiens prevaleceu e Dilma deu uma guinada radical na política econômica. Se isso não tivesse acontecido, estaríamos vivendo uma situação muito pior, difícil até de imaginar. Talvez algo próximo de um estado de natureza Hobbesiano.

Se Dilma tivesse perdido a eleição, a situação também estaria complicada. Se o atual presidente fosse Aécio Neves, o PSDB teria de fazer o doloroso ajuste fiscal. Estaríamos numa situação muito parecida: cortes de gastos, aumento dos juros e recessão. Porém teria um agravante, o PT na oposição iria dizer: esse é o jeito deles de fazer política. Quando estávamos no poder, não havia nada disso. O nosso modelo é melhor que o deles. A crise que o PT criou e que agora está tendo de combater é uma fantástica aula de economia. O velho discurso de que “o nosso modelo” é melhor que “o modelo deles” não funciona mais.

Convém ressaltar mais um fato importante que tem passado quase que despercebido. O Ministro da Fazenda Joaquim Levy está fazendo um ajuste recessivo. Ninguém gosta de recessão, mas a população, de um modo geral, compreendeu que esse ajuste, apesar de doloroso, é necessário. E compreendeu também que esse aperto está sendo feito porque o governo petista conduziu mal a economia. Parece que os brasileiros finalmente entenderam o que significa austeridade fiscal, que o governo não pode gastar além do que arrecada e que isso não é uma questão ideológica. Responsabilidade fiscal não é coisa de direita ou de esquerda, mas sim uma questão de bom senso.

O Brasil obviamente vai sobreviver a essa crise e acredito que ela fará de nós uma nação mais madura. Brasileiros têm ainda um longo caminho de aprendizado político a percorrer. O povo deseja um Estado de Bem Estar Social generoso, que ofereça a todos serviços de educação e saúde gratuitamente. Mas esse modelo, próprio de alguns países ricos, não depende simplesmente do voluntarismo político. Ele está hoje além das nossas possibilidades. Antes de tudo, temos de fortalecer nossa economia, temos de nos tornar mais ricos. E nenhum país do mundo se desenvolveu hostilizando o mercado. O povo, lentamente, está aprendendo a lição. Segundo o economista norte-americano Thomas Sowell, quando os eleitores querem o impossível, somente políticos mentirosos podem satisfazê-los. Creio que os brasileiros estão aprendendo que o governo não pode prover tudo que a população deseja e que o controle do gasto público é fundamental. Estão aprendendo também que governos de esquerda não são necessariamente bons, que a corrupção, a mentira e a demagogia podem ter diferentes matizes ideológicas. Pode não parecer, mas tudo isso tudo já é um avanço e tanto.

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Ivan Dauchas

Ivan Dauchas

Ivan Dauchas é economista formado pela Universidade de São Paulo e professor de Economia Política e História Econômica.

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