O mundo real e o ESG
A guerra na Ucrânia reforçou a visão que tenho exposto de que vivemos num “maravilhoso mundo de Alice”, em que todas as instituições sinalizam querer resolver os problemas mundiais, entretanto se esquecem de focar, de realizar e de entregar suas funções e seus resultados essenciais para as populações.
Fundamentalmente, presenciamos, a olhos nus, governos brincando de empresários e executivos importantes brincando de burocratas estatais.
A trágica carnificina da guerra faz lembrar que uma coisa é a vida real, pragmática, outra coisa é a realidade que gostaríamos que fosse.
CEOs recebem polpudos salários e benefícios porque têm a missão de maximizar o lucro para os acionistas, os donos da empresa. Entre esses acionistas, encontra-se uma série de fundos de investimentos e de indivíduos que esperam retorno pelo capital investido. São muitas pessoas comuns, de carne e osso.
A missão precípua de uma empresa é a de criar melhores soluções para os problemas dos clientes em seus setores e em seus segmentos e satisfazer as respectivas necessidades dos consumidores.
Embora possa não sinalizar nobres virtudes, evidente que o lucro é o principal objetivo empresarial; só assim, na realidade objetiva, se sobrevive e se prospera nos mercados reais.
Portanto, políticas de ESG – questões ambientais, sociais e de governança corporativa -, tais como a inclusão social, a meu juízo, não são a primazia dos CEOs e de seus negócios.
Claro que se os clientes demandam e pagam pela adição de questões ambientais e sociais nas ofertas competitivas das empresas, e tal fato agregará vendas e lucros. É salutar executar de acordo. Contudo, parece lógico que essas políticas sejam exigidas nos negócios relacionados com produtos e serviços que englobam o escopo ambiental e/ou social.
Por sua vez, são os governos que devem elaborar e implementar políticas econômicas e sociais que factualmente busquem resolver (e funcionem) as mazelas sociais, tais como programas de renda mínima para as famílias carentes, e, sobretudo, acionem medidas econômicas que fomentem a atividade econômica, o emprego, a renda e a prosperidade nacional. A melhor política social parece ser a do crescimento econômico para todos. Isso ocorre por meio de um menor intervencionismo estatal, através de um Estado menor e por meio de um incentivo maior à participação de indivíduos e de empresas nos mercados mais livres.
O governo, penso eu, deveria auxiliar as empresas de todos os portes, com políticas macroeconômicas inteligentes e comprovadamente eficazes, retirando tributos escorchantes das costas das pessoas e das empresas, eliminando e simplificando a abissal burocracia que alimenta o “Estado grande”, abrindo a economia e possibilitando, deste modo, ganhos de escala e de custos, e acesso a tecnologias inovadoras e agregação de valor em nível de produtos, serviços e mercados. Os consumidores agradeceriam: melhores produtos a preços mais baixos.
O que se vê, no entanto, é uma ainda maior intervenção estatal, impondo às organizações objetivos de ESG goela abaixo, para muito além da realidade e do foco dos negócios, que ao cabo distraem a concepção e a oferta de soluções efetivas para os consumidores e tornam as operações empresariais mais onerosas, burocratizadas e ineficientes.
É a maior liberdade nos mercados que cria empregos e riqueza e que, verdadeiramente, retira os indivíduos da pobreza.
Essa retórica virtuosa de salvação terrena, no e pelo meio empresarial, de todos os males mundiais, é fantástica para políticos demagogos e empresários corporativistas, mas péssima para os consumidores e para os genuínos empreendedores.
Agora, a guerra na Ucrânia reacende a questão da factibilidade e dos custos das “energias limpas”.
Elas ainda inexistem para o atendimento das necessidades atuais. Os preços de energia estão subindo drasticamente em todo o mundo, impondo um sacrifício terrível para as pessoas, especialmente para os mais pobres. Imaginem o custo para a população com as tais energias limpas, ainda insuficientes…
A retórica é muito distinta da realidade. Parece que há uma contradição – mais uma vez – entre o E (ambiental) e o S (social). A fim de garantir o fornecimento e a segurança energética, será necessário aprofundar os empreendimentos nos combustíveis fósseis – o que não significa deixar de investir em energias renováveis – e, claro, no ambiente capitalista acionário, crescerão os investimentos em petróleo e gás, penso que compulsoriamente.
Guerras não são tão incomuns como muitos pensam. A criticidade geopolítica desse conflito entre Rússia e Ucrânia assume naturalmente maior visibilidade e deixa transparente como os governos podem alavancar e/ou matar suas empresas e seus empresários para além da morte de civis inocentes.
O mundo anda estranho, para dizer o mínimo, embora as narrativas sejam de bondosa sinalização de virtude. O mundo real é outro.
Os negócios deveriam permanecer no seu foco, em busca da maximização do lucro por meio da satisfação das necessidades e dos desejos dos consumidores, somente assim possibilitando que as empresas voluntariamente possam investir em outros objetivos, muitas vezes não comerciais, tais como os do ESG.
Os governos deveriam cumprir a sua parte, ou seja, criarem as condições para a geração de maiores e melhores empregos, maior atividade empresarial, renda, riqueza e prosperidade.
Em um mundo real, os problemas sociais são mais bem solucionados com menos intervencionismo estatal; deixem o setor empresarial mais livre das burras amarras do Estado.
Na realidade empresarial, as melhores e mais inovadoras soluções para os consumidores e para as comunidades surgem do foco no negócio, nos investimentos nos “core businesses”, e não nas distrações e na utópica e retórica tentativa de resolver os males sociais mundiais.
O mundo ideal? Governos identificando problemas empresariais e apoiando as empresas a focarem nos seus negócios, ou seja, serem livres a fim de criarem as melhores soluções para toda a sociedade, em especial, aumentando a prosperidade e retirando mais pessoas da miséria e da pobreza.